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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

NOVENTA MILHÕES EM AÇÃO

Jair disse durante sua campanha, quando ainda não havia levado a facada, que governaria para a maioria, e que a minoria se adequasse ou fosse embora do país. Ame-o ou deixe-o revisitado. Ontem, ele foi eleito com quase 58 milhões de votos, no entanto, aproximadamente 90 milhões dos mais diversos matizes políticos e ideológicos não o escolheram. Aí entram os votos ao candidato do PT mais os em branco, nulos e abstenções. Portanto, espero que estes números mostrem a Jair que, embora repudiado por suas posições extremistas em defesa de práticas hediondas, como a tortura, ele se repense e se retrate.

É fato que o presidente agora eleito amenizou o seu discurso após o atentado. Porém, ainda não foi veemente para condenar psicopatas e sociopatas saídos das fossas mais putrefatas desta Nação, que em seu nome já vem há semanas usando violentamente suas mãos e bocas imundas contra gays, negros e os mais diversos oposicionistas. A se orientar pelas falas do então candidato, tudo o que discorda dele é vermelho, portanto deve ser banido do país. Noventa milhões estarão na alça de mira desses covardes até que Jair seja contundente contra tudo o que de mais repugnante já defendeu publicamente, sem qualquer pudor. Jesus, ídolo de Jair, disse "amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei", mas Jair leu "armai-vos e vos armei".

Humildade é palavra que não caracteriza nenhum dos dois lados deste níquel gasto posto em jogo no segundo turno das eleições presidenciais. E é bom também que o lado perdedor saiba que não lidera nada, pois certamente grande parte dos votos que recebeu (o meu, inclusive) foi dado por quem não exalta, não admira, nem relativiza, tampouco releva torturas, fuzilamentos, deportações e não por acreditar no projeto de poder que, no fim das contas, permitiu o crescimento do adversário vitorioso. Muitos, mas muitos mesmo, que votaram em Haddad não confiam em Lula, eu inclusive. Sendo bem otimista, será muito difícil (para não dizer impossível) unir o país com Jair, como seria com o PT. Por isso eu clamava por uma terceira via, qualquer uma, pois temia o pior. E o pior foi se configurando desde o fim do primeiro turno. Até que ontem aconteceu.

O cenário exposto é de que ao passar da meia-noite no dia 31 de dezembro próximo, o calendário brasileiro passará a marcar 1º de abril de 1964. Millor Fernandes já havia escrito, certa vez, que o Brasil tem um grande passado pela frente, mas prefiro acreditar, contra todos os meus mais profundos pensa-sentimentos pessimistas, que algo de muito bom possa sair daí. Já identifico ao menos duas boas notícias, embora a primeira me entristeça profundamente: máscaras caíram e meus valores essenciais foram reforçados nestas eleições. 

Não tolero a tortura, nem fuzilamentos, nem condenações sem direito de defesa, tampouco injustiças e que alguém seja proclamado detentor da verdade absoluta, seja por si ou por seguidores fanáticos abobados. Não retiro meio milímetro desses pilares que procuro dia a dia construir para mim. Como disse Ulisses Guimarães, há 30 anos: "Eu tenho nojo da ditadura". Qualquer que seja ela.

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