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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

LHASA DE SELA JÁ SE FOI E EU NÃO SABIA


Surpreso, espantado, chocado mesmo. Foi desta forma que recebi a notícia da morte da cantora Lhasa de Sela, com quase 11 meses de atraso. Vim decidido para casa neste dia 22 de novembro de 2010 disposto a escrever sobre ela e colocar pelo menos dois vídeos desta extraordinária artista, que cantava em inglês, espanhol e francês. No entanto, assim que fui começar minha pesquisa, li: "Lhasa de Sela foi uma cantora..." 

Como assim, foi? Para mim ela era mais nova do que os 37 anos que contava quando faleceu no primeiro dia deste ano de câncer de mama e achei se tratar de outra cantora, de quem talvez ela tivesse recebido o nome. Na verdade, não quis acreditar. Lamentável, mais uma grande cantora se vai no auge.


Conheci Lhasa por intermédio de uma grande amiga, que mora em Londres. Toda vez que ela vem ao Brasil me traz uma bela surpresa. Pode ser um CD de um artista que eu já conheça de nome, mas de quem não tenha quase nada ou nada ouvido, ou de um desconhecido. Este foi o caso de Lhasa. 

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O CD "The Living Road" fora encomendado por um amigo nosso em comum, que hoje está em São Paulo. Minha amiga, aproveitou a chance, e me trouxe um também. A novaiorquina da cidade de Big Indian (achava que era canadense) e sua voz incomum me arrebataram com su voz caliente na primeira audição: a música "Con Toda Palabra" (veja e ouça no vídeo abaixo), que abre o CD.

Depois de ouvir muitas e muitas vezes o disco, acompanhando o libreto trilíngüe, comecei a buscar vídeos dela no youtube e achei muita coisa bonita, tanto clips como apresentações ao vivo. Mas nunca encontrei um CD sequer dela à venda no Brasil e também, não sei por quê, jamais procurei mais informações sobre ela, só sabia que vivia em Montreal, Canadá. Quando resolvi saber mais dessa bela cantora, ela já havia partido.


Conta-me o Wikipedia de Lhasa que "sua ascendência era de um lado mexicana e de outro americano-judeu-libanesa. Filha de um professor, não convencional, que percorria os EUA e o México, difundindo o conhecimento, e de uma fotógrafa. Assim, passou sua infância, de maneira nômade, junto com seus pais ("hippies radicais", como ela os define) e suas três irmãs". Nascida em 27 de setembro de 1972, ela lançou três CDs: "La Llorona", de 1998; "The Living Road", de 2003, e "Lhasa", de 2009.

Encontrei uma entrevista que ela concedeu ao site português "TSF Rádio Notícia", em 2005, e meus olhos se encheram d'água. Diz ela, que falou o tempo todo em claro espanhol (mas revelando também cantar em português - Amália Rodrigues - armênio, russo e checheno), após ser perguntada pelo repórter Carlos Vaz Marques se a tristeza era mais bela que a alegria e dizer "não" três vezes: 

"Eu sempre tive um sentimento de urgência muito forte de viver, de gostar, de compreender. E lido muito com a melancolia, com a tristeza, com as questões da vida e da morte, porque para mim parecia o caminho mais curto para tocar a essência da vida". E acrescenta depois que para se chegar à felicidade, é necessário passar pela tristeza. E é este o meu sentimento agora.


Para mais informações sobre Lhasa de Sela visite o site: www.lhasadesela.com.ca


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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A FORÇA NORDESTINA


A televisão fechada ainda apresenta programas de alta qualidade e em dois dias seguidos vi Rachel de Queiroz e Ariano Suassuna, ambos nordestinos, representantes do que de melhor já se produziu em arte e cultura neste país. A força da cultura nordestina, com suas origens ibéricas e mouras, sempre me arrebatou. Vide o que escrevi sobre Antulio Madureira aí abaixo.
Então, decidi prestar uma pequena homenagem aos dois grandes escritores com esse vídeo aí acima. Nele estão duas grandes mostras da maravilhosa arte criada no Nordeste brasileiro: gravuras de Gilvan Samico e a música do petropolitano Guerra Peixe (1914-1993) interpretada pelo Quinteto Armorial, movimento criado justamente por Ariano.
Veja também:
Antúlio Madureira, um mestre de obras-primas
Brasil, Um Edifício que Cresce Sobre Frágeis Alicerces

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ANTULIO MADUREIRA, MESTRE DE OBRAS-PRIMAS

Este texto abaixo escrevi em 18 de outubro de 2000 e foi publicado na coluna que tinha semanalmente no 2º Caderno do jornal "O Fluminense", de Niterói. Recentemente achei no youtube um vídeo editado, postado pelo próprio Antulio Madureira, em que aparecem cenas da sua participação no Programa do Jô e em outros. O vídeo está abaixo do texto.

Basta estar vivo para se deparar com uma surpresa a cada esquina. Como dizia Auguste Rodin, tudo é movimento, até um corpo morto, em seu processo de decomposição, produz movimento. Pois bem, e o que isso tem a ver com este artigo, você deve estar se perguntando? Respondo, respondo, calma. É o seguinte: o artigo desta semana já estava pronto e entregue, mas teve de ser adiado para a próxima semana por causa de uma pessoa, um artista, um músico que transforma sucatas e material de construção em instrumentos musicais e tira deles sons encantados, que em outros tempos fariam até defunto se levantar arrepiado de emoção. Não, não falo de Hermeto Pascoal, embora tenha uma profunda admiração por ele. Falo de Antulio Madureira. Quem? Pois é, infelizmente pouquíssimas pessoas deste país já ouviram falar desse maestro e vou falar dele hoje, porque, para minha surpresa ele se apresentou no “Programa do Jô” de terça-feira e, como não poderia deixar de ser, fez babar a platéia, os músicos do sexteto, o apresentador e o telespectador.

Estava para dormir depois de assistir à entrevista de Marília Pera no programa da outra Marília, a Gabi, quando resolvi dar uma olhada no Jô só para saber quem eram os entrevistados, sem grandes esperanças. Pois não é que logo o primeiro entrevistado foi o pernambucano Antulio Madureira, de quem ouvi falar pela primeira vez há uns três anos, quando se apresentou em um festival de jazz no Rio. Enquanto a música jazia com pseudo-astros internacionais, o que me chamava a atenção era o sobrenome Madureira, já que conhecia de discos Antônio, o maestro do Quinteto Armorial que mais tarde vim saber é irmão de Antulio. Para quem ainda não sabe, informo agora aos meus cinco leitores, o Quinteto Armorial foi um conjunto criado por Ariano Suassuna no início da década de 70 que buscava pesquisar e recriar músicas antigas de tradição ibérica e brasileira (fazendo uma ponte entre a música árabe e a nordestina do Brasil) e de onde surgiu Antonio Nóbrega, multiartista que somente agora está obtendo alguma fama. Portanto fiquei curioso para ouvir Antulio Madureira quando soube que ele inventava instrumentos, o que só ocorreu no ano passado quando passei a ter em mãos e ouvidos o magistral CD “Teatro Instrumental”, que dá nome ao seu espetáculo atual.

Fazendo instrumentos e tirando música de latas, fios, conduítes, garrafas, cabaças, bambus, arames, serrote, entre outros, Antulio é um mestre de obras-primas. Um maestro ignorado pela mídia, tão ocupada com os “tchans” da vida. E além do mais, ainda faz as vezes de ator e dançarino. Na parte musical ele não apresentou no programa, pela falta de tempo, nem um quinto do que é capaz. Mas foi o suficiente para arrebatar a todos. Se no Jô ele tocou no serrote “Ave Maria”, de Schubert, no CD ele toca a ária das Bachianas número 5, de Villa-Lobos. Antulio está em São Paulo, mas bem poderia dar uma passada pelo Rio (está aí uma grande sugestão para o Teatro Municipal de Niterói!). Parodiando Rodin, desse músico fantástico pode-se dizer o seguinte: tudo é música, até matéria aparentemente morta, em processo de composição, produz música.


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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

OS MAIORES JOGOS DE TODOS OS TEMPOS 9

BRASIL 2 X 2 ALEMANHA OCIDENTAL - AMISTOSO NO MARACANÃ

Nas minhas andanças pelo youtube em busca de algum jogo específico acabo sempre esbarrando em preciosidades. Este aí em cima é um amistoso entre Brasil e Alemanha Ocidental disputado no dia 14 de dezembro de 1968. A partida marcou um duelo especial entre dois gênios da bola que nunca se enfrentaram em Copas do Mundo: Pelé e Beckenbauer, o Rei x o Kaiser.

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A partida teve lances sensacionais, um que merece destaque, embora não tenha - por pouco - terminado num gol de placa do Rei do Futebol. Após bela jogada de Carlos Alberto Torres na defesa, o passe para Rivelino, que de trivela lança Pelé no ataque. O Rei ganha no corpo de um zagueiro alemão e quando o Kaiser vem na cobertura leva a bola por entre as pernas e cai sentado no gramado. Diante do goleiro adversário e a chegada de outro zagueiro, Pelé, pressionado, tenta colocar no canto, mas o arqueiro espalma para escanteio. Dá pra ver o delírio da galera na geral.

A seleção brasileira abriu 2 a 0, com dois gols do ponta Edu, companheiro de Pelé no Santos, ambos na primeira etapa: um de falta e outro com muito oportunismo, como se fosse centroavante. Depois, a Alemanha, que já havia desperdiçado boas chances, acabou empatando no segundo tempo.

BRASIL 2x2 ALEMANHA OCIDENTAL
Data: 14/12/1968
Competição: amistoso
Local: Maracanã - Rio de Janeiro
Árbitro: Istvan Szolt (Hungria)
Gols: Edu (2), Held e Gerwien.
BRASIL: Picasso (São Paulo), Carlos Alberto Torres (Santos), Jurandir (São Paulo),
Roberto Dias (São Paulo) e Everaldo (Grêmio); Gérson (Botafogo), depois Zé Carlos (Cruzeiro), Rivelino (Corinthians) e Tostão (Cruzeiro), depois Dirceu Lopes (Cruzeiro); Edu (Santos), Pelé (Santos) e Paulo César Lima (Botafogo), depois Nado (Vasco). Técnico: Aymoré Moreira.
ALEMANHA OCIDENTAL: Maier, Vogts, Weber (Lorenz), Schulz e Patzke; Beckenbauer e Netzer; Dörfel, Held, Overath (Wimmer) e Volkert (Gerwien).
Técnico: Helmut Schön.