Ao levar às telas o filme Sicko ($O$ Saúde), o diretor Michael Moore
atirou num abominável sistema de “saúde”, o de seu país, os Estados Unidos da
América, e acertou no mesmo modelo adotado pouco a pouco há anos pelo Brasil. Não
sei se algo mudou nos EUA desde 2007, ano da produção cinematográfica, porém vi
ali o futuro do meu país e perdi meu sono (mais uma vez). Em suma, o que Moore
mostra em seu documentário é que no seu país, ainda vendido aqui como a maior
democracia do mundo e imposto como grande exemplo a ser seguido, quem não tem
grana pra pagar um plano (seguro) de saúde (ou um emprego que o forneça) não
tem nada, e quem tem, possui pouco mais que nada. O assustador foi saber que
aqui, apesar das condições precárias e o insuficiente atendimento à população do nosso sistema
de saúde público, ainda há opção, graças a muitos abnegados que o mantém vivo,
mesmo respirando por aparelhos.
Pior que denunciar um modelo mesquinho, cruel, desumano de “saúde”,
Moore nos mostra em pouco mais de duas horas um horripilante modelo de
sociedade, em que o ser humano é um objeto descartável, lixo. Claro, claro,
isso não é novidade no país em que se morre mais gente assassinada que em
locais em declarada guerra. No entanto, quando se vê que o próprio governo e seus legisladores fomentam essa prática, não com a tradicional e criminosa omissão característica
dos (des)governantes brasileiros e tantos outros pelo mundo, mas com leis e
atitudes para reforçá-las e mantê-las, fica muito difícil dormir tranquilo.
Ainda mais sabendo que temos por aqui aquele modelo de lá.
Este filme, que há anos tentava ver, deveria ser assistido por todos os brasileiros, sem
exceção. Mesmo que o documentário só contasse mentiras, exagerasse nas
denúncias, fosse de alguma forma uma irresponsável ou pretensiosa ficção,
nos mostraria um espelho em que nos veríamos daqui a alguns anos. Moore foi ao
Canadá, à Inglaterra, à França e finalmente ao país mais odiado pelos
americanos e americanistas, Cuba, para onde levou três voluntários (heróis) que
trabalharam nos destroços fumegantes das torres gêmeas derrubadas por aviões em
11 de setembro de 2001 – e onde eles finalmente conseguiram ser tratados com
dignidade. E demonstrou que, tanto em países ricos, como na paupérrima ilha do
ditador Fidel (hoje comandada por seu irmão, Raúl), o sistema universal e gratuito
de Saúde (e de Educação, é bom que se frise) tanto é possível, como o único caminho
a ser seguido por todo o mundo.
E eu, que já fui vítima de plano de saúde financeira - e do nosso (propositalmente) sucateado sistema público também -, perco o sono às vésperas
de contratar outro pra mim e minha família depois de um ano sem uma
carteirinha. Fico com a cabeça a girar novamente neste tema que já abordei tantas e tantas vezes, porque sei que é preciso que algo seja feito para que
o pouco que resta de Saúde pública decente por aqui sobreviva - ao menos
sobreviva – e que pagar todos os escorchantes impostos que me são
cobrados não são suficientes para isso. Neste momento não sei o que fazer: alimento este sistema perverso ou entro nas intermináveis e cruéis filas do sistema público? Por que devo pagar duas vezes por um direito que tenho? Por enquanto, só tenho condições de recomendar este filme (o trailler vai aqui abaixo) como lição de casa para todos.
Brasil, um edifício que cresce sobre frágeis alicerces