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sexta-feira, 18 de julho de 2014

É PRECISO RESPEITAR A DOR DO UNIVERSO

Sou verdadeiramente fascinado por coros. Não é por acaso que o "Réquiem" de Mozart me derrubou à primeira audição, nem tem tantos anos assim - pelo menos eu acho que deveria, por obrigação, ter ouvido bem antes essa obra-prima, que na verdade só teve as suas três primeiras partes finalizadas pelo gênio austríaco (Introito, Kyrie Eleison e Dies Irae), as outras ficaram por conta de seu discípulo Franz Xaver Süssmayer. 

Mas não é o "Réquiem", que já utilizei neste blog exatamente com a interpretação destes três movimentos para ilustrar a poesia "Oferenda (ou Canção de um ser dilacerado)", nem  Mozart os protagonistas deste texto, mas Eric Whitacre, que conheci há poucos minutos num vídeo do TedTalks, no Netflix.

Nesse vídeo de março de 2011, ele conta como desistiu de ser um astro pop da música para se tornar um maestro, como se apaixonou por coros e como teve a idéia de reunir vozes do mundo todo para fazer coros virtuais de algumas de suas composições. Procurei depois outros no youtube e me comovi com alguns, é um trabalho realmente impressionante e de uma beleza desmesurada. 

Porém, foi quando vi e ouvi esta apresentação ao vivo abaixo, de 2009, que me voltou à cabeça uma frase que tinha surgido em minha mente horas antes e já parecia que não retornaria mais: "É preciso respeitar a dor do universo". Cá estou, respeitando e velando por todas as dores e celebrando a intensa felicidade que uma obra de arte pode resgatar mesmo de algo aparentemente tão triste.

Isto tudo me remeteu a uma conversa via facebook que tive ontem com meu grande amigo Bruno Lobo, sobre ordem e desordem, após ler uma poesia de sua autoria. Citei Raduan Nassar ("Em toda ordem há uma semente de desordem", de Lavoura Arcaica) e posteriormente me lembrei de Chico Buarque e a sua "Eu te amo" ("Na desordem do armário embutido, meu paletó enlaça o teu vestido, e o meu sapato ainda pisa o teu"). 

A ordem e a desordem em ordens inversas, se complementando, como nesta "chuvada" que me trouxe à mente também uma queimada, onde pingos grossos castigam o chão, labaredas crepitam em galhos e folhas secas. Os opostos se fundindo, difundindo e dando vazão a tanta imaginação e criação e alegria.


Vídeo: "Cloudburst" (Eric Whitacre), com VocalEssence, St. Olaf Choir e Minnesota High School Honors Choir.

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2 comentários:

  1. Como sempre belissimo textp. Após a entropia tudo se reorganiza num novo formato, as vezes de indiscritivel beleza, noutras de indizivel tristeza

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    1. Muito obrigado, meu amigo. Seu comentário também foi belíssimo, gostei muito. Abração.

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