Em entrevista ao meu amigo Sérgio Pugliese para o Museu da Pelada, o grande jornalista, comentarista, escritor Sérgio Cabral revelou que frequentou muito a geral do Maracanã na sua juventude. "Não tinha dinheiro pra pagar o ingresso de arquibancada", justificou. Essa declaração me trouxe de imediato recordações de muitos momentos que vivi no setor mais popular e pitoresco do velho estádio Mario Filho. Primeiramente me veio à lembrança o preço do ingresso, que, nos tempos em que a moeda brasileira era o cruzeiro, nos anos 70, a entrada para a geral custava Cr$ 0,30. Isso mesmo, 30 centavos, ou um pouco menos, um pouco mais, a memória trouxe o número e pus aqui, mas pode estar um pouco enganada. Só um pouco, creio.
Geral em dia de Maracanã lotado, nos anos 70. Reprodução do site do jornal O Dia |
Assisti a vários jogos da geral nos anos 80, quando passei a não precisar mais da companhia do meu saudoso pai ou do pai ou tio de algum amigo para ir ao estádio. Algumas daquelas partidas são memoráveis, uma inclusive se tornou tema do Lamascast: "CSA e Van Halen numa noite de verão carioca". Houve também a semifinal do Campeonato Brasileiro de 1986, entre América-RJ e São Paulo; um empate em 3 a 3 entre Botafogo e Vasco, pelo Torneio dos Campeões de 1982, que transformei em texto ficcional que publicarei no segundo Contos da Bola; o vozeirão de um torcedor rubro-negro gigantesco - pelo menos aos meus olhos de outrora - ecoando pelo estádio vazio: "Cantarelliiiii, ô Cantarelliiiii, dá na esquerda pro Júnior, pô!", e muitos, muitos outros personagens e jogos inesquecíveis.
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Quando comecei a frequentar a geral, o piso, que continuou abaixo do nível do campo até ser destruída, em 2005, era ainda mais baixo. Portanto, eu, do alto do meu 1,71m de altura (quase um pivô de basquete, não é mesmo?), pouco via realmente da partida lá embaixo. Porém, com a elevação do piso, as coisas melhoraram um pouco. Só um pouco. Por isso, mesmo depois desta obra que custou a retirada de algumas fileiras das antigas cadeiras azuis, sempre que podia, eu e quem estivesse comigo, subia para a arquibancada assim que terminava o primeiro tempo. Foi o que fiz, por exemplo, naquele Botafogo 3 x 3 Vasco citado acima. Para quem não sabe ou não se recorda, os portões do Maracanã, creio que por lei, eram abertos para quem quisesse sair ou entrar no intervalo dos jogos principais (e isso proporcionou a mim e muitos, muitos outros a assistir à parte final de muitas partidas, sem precisar pagar ingresso).
Sérgio Cabral. Foto do Museu da Pelada |
Quanta inocência, né? Outros tempos. Tempos idos, vividos no planeta Século XX. Porém, é sempre muito bom poder contar essas histórias, relatando o que a memória captou verdadeiramente ou criando uma outra história com base na que vivi. Bem ou mal, é o que melhor sei fazer.
Agora, depois disso tudo que narrei, o melhor que faço é assistir ao filme "Adeus, geral", que está há muito tempo na minha lista para "assistir mais tarde" do YouTube. Sugiro que você faça o mesmo (é só clicar ali no nome do filme). Até outro dia.