Se fizermos uma lista dos 500 melhores jogadores de futebol do mundo na atualidade, certamente uns 90, 95% deles seriam de atletas de times europeus. Uns poucos pela China e, talvez, EUA e Japão. Quantos que atuam em clubes brasileiros, argentinos e uruguaios, países que conquistaram ao todo 9 copas do mundo, estariam nela? Acho que não chegariam a 10.
Há uma tese desde a década de 90, quando começou mais intensamente esta debandada de jovens jogadores brasileiros para a Europa, principalmente, que isso daria mais experiência, força física e noções táticas a eles, o que beneficiaria a seleção brasileira. Isto pode até ter sido verdade num primeiro momento, mas a verdade é que esta massa de jovens talentos contratados por clubes europeus, alguns nem tão poderosos assim, não só da América Latina, mas também da África, beneficiou muito mais as crianças e os jovens europeus.
Com grandes atletas das mais diferentes nacionalidades e estilos atuando em seus campos, o jogador europeu ganhou muito em alguns aspectos, e o número de interessados em futebol entre crianças e adolescentes na Europa certamente cresceu. Aqui, no Brasil, pesquisas comprovam, diminuiu e muito. Cada vez que sai uma pesquisa sobre torcedores aqui no Brasil eu corro os olhos não para saber se a diferença entre Flamengo e Corinthians diminuiu ou aumentou, mas para ver quantos desinteressados e sem clubes existem. E os números só crescem.
Como só aumentam também os que torcem apenas para clubes ingleses e espanhóis, principalmente, grande parte entre crianças e jovens. Há na zona Norte do Rio de Janeiro, por exemplo, uma torcida do Chelsea, que nem é dos maiores clubes europeus. Esses rapazes se reúnem num shopping de um subúrbio carioca sempre num bar com TV para assistir e torcer pelos Blues.
Acrescente-se a isso, a onda migratória pelas guerras civis africanas, que tantos problemas políticos e sociais vêm causando há décadas, mas que vão enchendo de garotos com ascendência africana bons de bola na Alemanha, na Inglaterra, na França, na Espanha etc.
Falo do futebol, mas com a vertiginosa decadência moral e ética, que é a mãe de todas as crises eternas do Brasil, quantas de nossas melhores cabeças em todas as áreas de atuação não abandonaram o país nos últimos anos? Se viramos desde a década de 90 grandes exportadores de pé de obra, como bem define Juca Kfouri, nos últimos anos nos tornamos exportadores de nossos melhores profissionais. Sejam médicos, professores, artistas, engenheiros, cientistas.
Nas décadas de 30 e 40, fugindo da perseguição nazista, da guerra civil espanhola e posteriormente da Segunda Guerra, muitos dos melhores artistas, médicos, professores, engenheiros, cientistas se exilaram em países das Américas, em especial Estados Unidos, México e Brasil. As tragédias na Europa nos trouxeram, entre muitos outros, Ziembinski, Clarice Lispector, Stefan Zweig, por exemplo. Essa leva imensa de europeus, que se juntaram a japoneses e outros durante toda a primeira metade do século XX, tiveram grande influência em áreas como a econômica, social e, principalmente, cultural.
Mais recentemente surgiram por aqui muitos refugiados da África, Ásia e Américas (em especial haitianos e venezuelanos). O mundo vai girando e, quem sabe, pessoas brilhantes desses países consigam suprir a debandada de brasileiros nos últimos anos, principalmente para Portugal. Quem sabe?
No mundo da bola, por enquanto, vejo que na balança comercial até há maiores lucros, com alguns clubes grandes e médios sendo geridos com mais responsabilidade. Na balança de talentos, no entanto, há muito mais déficit do que superávit já há décadas. Mas a bola continua rolando.
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