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quarta-feira, 30 de março de 2022

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA - CAPÍTULO #9

Carlos Alberto: o apelido de Pó de Arroz para o Fluminense surgiu por causa deste jogador

Fernando Brant é muito aplaudido após a execução da música em homenagem ao América mineiro, inclusive pelos nossos quatro principais personagens.

João Sem Medo: - Obrigado, Brant, muito prazer. Gostei da tua música.

Idiota da Objetividade: - Gostei também, mas esta música não é a oficial. A marcha que se tornou oficialmente o hino do América mineiro foi composta por Vicente Motta, também autor do hino do Clube Atlético Mineiro.

Ceguinho Torcedor: - Ah, Idiota, deixa de tanta objetividade!

João Sem Medo: - No hino oficial do América, a letra destaca a classe aristocrata do clube.

Garçom: - Desculpe por me intrometer, senhores. Mas não teve uma história de um jogador no Fluminense que usava pó de arroz?

Ceguinho Torcedor: - Há controvérsias...

Idiota da Objetividade: - Que nada, tá na História.

João Sem Medo: - Carlos Alberto era um mulato que foi do segundo time do América do Rio pro primeiro time do Fluminense, ainda na década de 10, e passava pó de arroz no rosto por causa do racismo. Nos jogos entre os dois times, os torcedores do América chamavam o Tricolor das Laranjeiras de “pó de arroz”. Mas esta história é polêmica, há muitas versões.

Idiota da Objetividade: - A versão oficial do Fluminense é que Carlos Alberto desde os tempos em que jogava no América já passava pó de arroz após fazer a barba. E num jogo, em 1914, entre os dois times, pouco depois de 13 jogadores do América se transferirem para o Tricolor...

Ceguinho Torcedor: - Entre eles o monumental goleiro Marcos Carneiro de Mendonça!

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João Sem Medo: - Isso mesmo, ele e um irmão dele.

Idiota da Objetividade: - Naquele jogo de 1914, a torcida americana vendo o suor fazer o pó de arroz sair do rosto de Carlos Alberto, ex-jogador do seu clube, começou a gritar como ofensa “pó de arroz, pó de arroz”. Mas, segundo o Fluminense, a torcida tricolor abraçou o jogador e adotou o pó de arroz.

Garçom: - Ah, senhor Idiota, o senhor me desculpe, mas eu não caio nessa, não.

Idiota da Objetividade: - Eu só relato o que está na versão oficial do clube. Você pode ir ao site do Fluminense e procurar.

João Sem Medo: - Versão oficial quase nunca é verdadeira, a História deste país só confirma o que digo.

Ceguinho Torcedor: - Carlos Alberto era um bom rapaz, muito fino, elegante. Ele entrava em campo e a torcida da geral gritava “Pó de arroz”. Um dia ele não jogou e os gritos continuaram.

João Sem Medo: - O Fluminense era mesmo “Pó de arroz”, querendo ser mais chique, mais elegante, mais aristocrático que os outros.

Garçom: - Amigos, aproveitando a deixa tricolor, vamos receber aqui no palco do Além da Imaginação, Américo Jacomino, mais conhecido como Canhoto, para tocar o seu tango “Fluminense”.

Todos aplaudem.

Canhoto: - Muito obrigado. Este tango em homenagem ao Fluminense foi gravado originalmente em 1927, pela Odeon.

Ao fim da execução do tango “Fluminense”, por Canhoto, toda a plateia aplaude o artista, que deixa o palco agradecendo. Há uma pequena dispersão, alguns vão ao banheiro. Ceguinho Tricolor pede ajuda para fazer o mesmo e é levado pelo Sobrenatural de Almeida numa rapidez de coelhinho de desenho animado. Assombroso!

Com todos de volta aos seus lugares, o papo é retomado, com Ceguinho dando o primeiro passe.

Ceguinho Torcedor: - O mulato Friedenreich, que tinha olhos verdes, também queria parecer branco e passava horas tentando achatar o cabelo duro e rebelde no vestiário. Usava uma toalha, pois o pente não bastava. Era craque, artilheiro, mas entrava quase sempre por último em campo. E era sempre ovacionado.

Sobrenatural de Almeida: - Ele acabava chamando mais atenção, ainda mais com aquele cabelo cheio de brilhantina. Um assombro!

Todos riem.

Fim do Capítulo #9

Modificado e republicado em 3 de setembro de 2024.

Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país.
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terça-feira, 29 de março de 2022

MÚSICA PRA VIAGEM: ONDE A DOR NÃO TEM RAZÃO

Paulinho da Viola, com toda a sua elegância e humildade, jamais daria e dará um passo em direção ao estrelato. Mas que ele merecia um lugar ainda mais alto entre os gigantes da História da Música brasileira, não tenho a menor dúvida quanto a isso. Entre tantas e tantas extraordinárias composições, também por motivos particulares, os que na verdade sempre nos fazem sentir algo mais por uma obra artística, seja de que gênero for, "Onde a dor não tem razão" é a minha favorita. E está entre as minhas prediletas considerando-se tudo o que já ouvi.

Curioso que, mais uma vez, escolho uma que não está entre as mais famosas. Não tenho aversão pré-concebida contra os sucessos de qualquer artista, verdadeiro artista é bom que se frise. Porém, há sempre uma pérola meio escondida na obra de cada um. E parece que sempre vou em busca dela, talvez tenha algo a ver com solidariedade ao - não rejeitado - mas ao que é dado pouca atenção. Ou menos atenção que eu considero merecer.

Enfim, para encurtar o papo e irmos direto à música, ela está aqui abaixo com o mestre em ação, acompanhado sempre por músicos da mais alta qualidade, em conformidade com a sua simplicidade refinada, sofisticada. "Canto pra dizer que no meu coração já não mais se agitam as ondas de uma paixão, ele não é mais abrigo de amores perdidos, é um lago mais tranquilo, onde a dor não tem razão..." Isto é plenitude. Sublime. Sublime mestre Paulinho da Viola!


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domingo, 27 de março de 2022

OLHARES ALHURES - FOTOS #87: PRAÇA XV DE FLORIPA E ARREDORES








 Fotos de Eduardo Lamas, feitas no dia 16 de março de 2022, no Centro de Florianópolis (SC).

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sábado, 26 de março de 2022

OLHARES ALHURES - FOTOS #86: AVES CATARINENSES 3

 









Fotos de Eduardo Lamas, feitas nos dias 21 e 22 de março de 2022, em Itaguaçu e Abraão, bairros de Florianópolis (SC)

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quarta-feira, 23 de março de 2022

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA - CAPÍTULO #8

Time do Vasco campeão carioca de 1923
A discriminação contra os negros no futebol continua sendo a pauta da mesa dos nossos quatro personagens e é acompanhada com atenção pelos presentes ao bar Além da Imaginação.

João Sem Medo: - Em Pernambuco, o clube que não aceitava os negros era o Náutico; no Ceará, o Manguari; no Pará, o Remo. Em todos os estados havia clubes aristocráticos que não permitiam que os pretos jogassem. No Rio, logo no seu primeiro ano na Primeira Divisão, contra tudo e contra todos, os vascaínos conquistaram brilhantemente o título carioca.

Idiota da Objetividade: - Foram 11 vitórias, dois empates e apenas uma derrota. O time titular dos Camisas Negras era formado no esquema hiper-ofensivo da época, um 2-3-5. O time era Nélson, Leitão e Mingote; Nicolino, Claudionor e Artur; Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito.

Músico (do palco): - Como vascaíno de coração, sinto então muito orgulho de apresentar aqui o Hino Triunfal do Vasco, para homenagear o pioneirismo do meu clube e em especial os Camisas Negras, campeões de 23. Sem nos esquecermos, claro, das raízes portuguesas da nossa História. Como a tecnologia nos permite, o escritor Bruno Castro, pesquisador dos hinos dos clubes cariocas, vai cantar comigo do Mundo Material, onde também vive muito bem, e vocês poderão vê-lo ali no telão com outros músicos. Ao vivo, literalmente.

Todos riem e aplaudem.

Músico: - Esse foi o Hino Triunfal do Vasco da Gama, o primeiro hino oficial do clube de São Januário. A composição é de Joaquim Barros Ferreira da Silva. Obrigado, Bruno!

Todos aplaudem.

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Idiota da Objetividade: - O hino mais famoso, que todos conhecem, nasceu como Marcha do Vasco, composta em 1949 por Lamartine Babo, que é também o autor dos hinos de outros clubes do Rio de Janeiro: América, seu time do coração, Flamengo, Fluminense, Botafogo, Bangu, Madureira, São Cristóvão, Olaria, Bonsucesso e até do Canto do Rio, de Niterói.

Após a execução do Hino Triunfal do Vasco da Gama e a informação do Idiota da Objetividade sobre os hinos criados por Lamartine Babo, o papo seguiu em frente com a década de 20 do século passado à mesa. João Sem Medo interrompeu rapidamente seu rápido almoço para dar tratos à bola.

João Sem Medo: - Enquanto o Vasco começava a surgir como grande potência no Rio de Janeiro, lá em Minas o América ia conquistando o seu oitavo título seguido e chegaria ao deca-campeonato mineiro em 1925.

Idiota da Objetividade: - O América mineiro foi o primeiro clube do mundo a conseguir dez títulos seguidos da mesma competição. Depois do América Mineiro, só o ABC de Natal, que de 1932 a 41 venceu todos os campeonatos do Rio Grande do Norte, igualou o recorde.

João Sem Medo: - A Juve quase chegou ao deca na Itália.

Idiota da Objetividade: - Após conquistar o título italiano por nove vezes seguidas, entre a temporada de 2011-2012 e 2019-2020, a Juventus de Turim ficou em quarto lugar no campeonato de 2020-2021. A Inter de Milão conquistou o scudetto.

João Sem Medo: - E o Bayern de Munique foi deca na Alemanha e podia ter sido undeca ou hendecampeão em 2023. Andou bem sem graça o campeonato por lá.

Ceguinho Torcedor: - Mas o assunto era o Coelho...

Sobrenatural de Almeida: - Isso mesmo. Olha, eu tive algumas participações no deca-campeonato do América. 

Ceguinho Torcedor: - Foi realmente algo sobrenatural. 

Sobrenatural de Almeida: - E muito mais na classificação pra fase de grupos da Libertadores no ano passado.

Os outros três: - Assombroso!

A plateia se diverte e ri à vontade.

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Sobrenatural de Almeida: - Em 1925 todos desistiram de disputar o campeonato. Tentaram se unir contra o papa-títulos, mas o América venceu o Atlético por 4 a 1 e foi campeão, decacampeão, porque todo mundo ficou com medo do Coelho. A seleção mineira daquele ano tinha dez jogadores do América e bateu os cariocas por 6 a 1.

Garçom: - Por falar no América mineiro, vejam só quem veio aqui pra cantar o seu amor ao clube: Fernando Brant!

Aplausos de todos.

Fernando Brant: - Muito obrigado, gente. Vocês sabem que fui conselheiro do América e sempre muito apaixonado pelo clube. Compus com o Toninho Horta este hino extra- oficial que vocês vão poder ouvir agora. Obrigado.


Fim do Capítulo 8

Modificado e republicado em 23 de agosto de 2024

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domingo, 20 de março de 2022

OLHARES ALHURES - FOTOS #85: AVES CATARINENSES 2

 










Fotos de Eduardo Lamas, feitas nos bairros de Abraão, Itaguaçu, Coqueiros e Barra da Lagoa, em Florianópolis (SC), nos dias 14, 15, 17 e 19 de março de 2022. 

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sábado, 19 de março de 2022

OLHARES ALHURES - FOTOS #84: PONTE HERCÍLIO LUZ









Fotos de Eduardo Lamas, feitas no dia 16 de março de 2022, no caminho do Centro para o bairro do Estreito, em Florianópolis (SC)

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quarta-feira, 16 de março de 2022

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA - CAPÍTULO #7

Popó, craque do Ypiranga-BA, em ação contra o Bahia nos anos 30
Mussum faz o público se divertir e é muito aplaudido por todos. Sai cumprimentando todo mundo, a começar por João Sem Medo, Ceguinho Torcedor, Sobrenatural de Almeida e Idiota da Objetividade.

E o papo volta a rolar como a bola num gramado perfeito, na mesa dos quatro amigos, para deleite da plateia presente ao Além da Imaginação.

João Sem Medo: - Aproveitando a presença do grande Mussum, foi também na década de 20 que a bola brasileira passou a ser tratada com mais malemolência, ginga e bailado, com a entrada de mais negros em campo. Eu sempre falei que a África era o futuro do futebol. Os primeiros negros envergaram a camisa do Bangu, do Andarahy, dos times de fábrica e comércio. Mas quem ganhou a fama foi o Vasco da Gama, clube que lutou muito para ser aceito entre os grandes do futebol carioca. Fluminense, Botafogo e Flamengo não admitiam de forma alguma que negro vestisse suas camisas. O Vasco, como representante do comércio de secos e molhados, que tinha contato permanente com o público em geral, não fazia restrição alguma e surgiu como potência já em 1923. Se o clube cruzmaltino fizesse algum tipo de discriminação levaria o comércio de seus dirigentes à ruína. O mesmo acontecia com o Bangu, da Fábrica Bangu, e o Andarahy, da Fábrica Confiança. Além do Sírio Libanês e os clubes suburbanos.

Sobrenatural de Almeida: - Mas João, isso não aconteceu só no Rio, certo?

João Sem Medo: - Não, claro que não. Em São Paulo, o Palmeiras, time dos italianos, resistia. Era Palestra Itália ainda. O Paulistano, do Jardim Paulista, preferiu fechar o departamento de futebol a ter de aceitar preto no time. No Sul, o Grêmio era intransigente. O Inter não, tanto que o símbolo do time é o saci pererê. O mascote colorado só surgiu na década de 40, mas carrega a história do time gaúcho representante das camadas populares desde a fundação, em 1909.

Ceguinho Torcedor: - Ah, mas você é gremista de origem, João.

João Sem Medo: - Fui, mas essa é uma outra história, vem de uma rivalidade com meu irmão, Aristides, este sim, torcedor colorado. Quando a gente ia jogar bola ele dizia logo que era Inter, então eu era Grêmio.

Ceguinho Torcedor: - Essa rivalidade entre Grêmio e Inter é talvez a mais feroz do país.

João Sem Medo: - Acredito que seja sim, Ceguinho.

Garçom: - Então vamos aproveitar pra chamar o Teixeirinha, torcedor colorado, pra cantar o “Desafio do Grenal”.

Teixeirinha vai ao palco, aplaudido pela plateia.

Teixeirinha: - Obrigado, minha gente. Mas só um esclarecimento, eu sou gremista de coração. Canto como colorado na música que vou apresentar aqui, mas sempre torci pro Grêmio. Bom, feito o esclarecimento, vou pedir permissão pra fazer o dueto com a gravação da minha grande amiga Mary Terezinha, que ainda vive muito bem e logicamente não tem permissão pra vir aqui pessoalmente. É o “Desafio do Grenal”!

Todos aplaudem.

Teixeirinha: - Peço desculpas pelo “macacada” na letra em referência aos colorados. Eram outros tempos quando fiz a música, não quis ofender. Ela foi gravada originalmente no meu disco “Dorme Angelita”, lançado em 1968.

Garçom: - Muito obrigado, Teixeirinha.

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João Sem Medo retoma o tema, como quem arma um contra-ataque veloz.

João Sem Medo: - A discriminação contra os negros existia no futebol de outros estados também. No Paraná, o Atlético e o Coritiba não aceitavam. Em Minas, Atlético e América; na Bahia, o Baiano Tênis, que fez o mesmo que o Paulistano, abandonou o futebol pra não ter de aceitar negro no time. Lá, o Vitória, primeiro clube a ser fundado só por brasileiros, começou em 1899 como clube de críquete. Depois, com a revolta dos baianos por só poderem, no máximo, devolver a bola pros ingleses nas partidas daquele esporte chatíssimo, o Rubro-Negro de Salvador começou a jogar o futebol já nos primeiros anos do século vinte.

Ceguinho Torcedor: - Naquela época o futebol já era muito popular na Bahia. Os jogos recebiam grandes plateias, já ao som de bandas de música e fanfarras. Lá era permitido.

Alguém na plateia: - A Bahia sempre foi uma festa!

Riso geral.

João Sem Medo: - Nas décadas de 20 e 30 o grande astro baiano era o negro Popó, chamado de “O Craque do Povo” e “O Terrível”. Ele jogou no Ypiranga e no Botafogo da Bahia e foi o principal jogador da seleção baiana campeã brasileira em 34, acabando com a hegemonia de Rio de Janeiro e São Paulo. Teve como grande companheiro um soldado da PM conhecido como Dois Lados.

Sobrenatural de Almeida: - Dois Lados?

João Sem Medo: - É, ele ganhou o apelido por ser magro demais.

Sobrenatural de Almeida: - Ele só tinha dois lados. Assombroso.

Garçom: - Foi feito em 2D.hahaha

A plateia ri também.

Idiota da Objetividade: - Dois Lados foi o herói do título baiano de 1920. Ele fez os dois gols da vitória de 2 a 1 sobre o Fluminense de Salvador e na comemoração teve seu pé direito banhado em champanhe.

João Sem Medo: - Mas depois quase ficou na miséria. A sorte é que fizeram uma campanha para ajudá-lo e ele conseguiu viver dignamente depois.

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Ceguinho Torcedor: - O Ypiranga era um time abençoado. Além de ter Dois Lados e Popó, era o time de coração da Irmã Dulce, que era apaixonada por futebol.

João Sem Medo: - E também do meu camarada Jorge Amado. O nome do meu livro “Subterrâneos do Futebol”, lançado originalmente no início dos anos 60, é uma homenagem ao “Subterrâneos da liberdade”. Depois relançaram com o título “Histórias do futebol”. Não gostei, mas isso é outra história. Falávamos do Ypiranga...

Idiota da Objetividade: - Irmã Dulce, falecida em 1992 aos 77 anos, fez inúmeras obras de caridade na Bahia, foi beatificada em 2011 e se tornou a primeira santa católica do Brasil, em 2019, canonizada pelo papa Francisco com o título de Santa Dulce dos Pobres.

João Sem Medo: - No livro “Bahia de Todos os Santos”, Jorge Amado descreve os feitos do Popó no seu Ypiranga do coração. Inclusive, em Salvador, no bairro Engenho Velho da Federação, tem uma rua chamada Apolinário Santana, seu nome verdadeiro, em homenagem a ele.

Garçom: - Já que o assunto é o grande Ypiranga de Salvador, vou pôr aqui no nosso aparelho de som, um dos hinos do clube, o mais popular, de autoria  de Valter Queiróz.



Músico: - O Ypiranga tem outro hino, que é o oficial, de Milton Santarém e Walter Álvares.


Ceguinho Torcedor: - Em 1923, o meu Fluminense foi enfrentar o Ypiranga na Bahia e levou de 5 a 4. As manchetes berraram: “Popó 5 a 4 no Tricolor”. Ele fez todos os gols do time baiano. Depois disso, durante um bom tempo, toda vez que algum jogador se destacava contra o meu clube era logo apelidado de Popó.

Músico: - Uma quadrinha junina naquela época cantava: “Chuta, chuta, Popó chuta/Chuta por favor/Mela, mela, mela, mela/Mela e lá vai gol”. Melar significava driblar.

João Sem Medo: - Ele infelizmente morreu na miséria, pedindo esmolas, no início da década de 50 em frente ao estádio da Fonte Nova, recém-inaugurado na época. O Ypiranga era conhecido como o Time do Povo porque aceitava negros no seu time, um deles era o Popó. O Ypiranga só perdeu esse status quando surgiu o Bahia, em 31. Naquele tempo a questão do amadorismo e do profissionalismo estava dividindo o futebol no país. E o Vitória, que privilegiava os esportes olímpicos, acabou vendo o futuro arquirrival crescer muito e conquistar muitos títulos baianos.

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Idiota da Objetividade: - Em 2022 conquistou o seu 50º título estadual. Enquanto o Vitória tinha 29.

João Sem Medo: - E o primeiro título do Bahia foi logo em 1931 e, com o tempo, se tornou o maior detentor de títulos do estado. Ganhou até a primeira Taça Brasil, em 59, numa final contra o grande Santos. Não é pouca coisa.

Ceguinho Torcedor: - Não mesmo.

Sobrenatural de Almeida: - Assombroso aquele título do Bahia. Assombroso. Hahaha

Fim do Capítulo 7

Republicado em 21 de agosto de 2024

Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país.
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domingo, 13 de março de 2022

OLHARES ALHURES - FOTOS #83: CHUVA NOIR






Fotos de Eduardo Lamas, feitas no dia 1º de março de 2022, em Itaguaçu, Florianópolis (SC).

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