Páginas

quarta-feira, 27 de abril de 2022

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA - CAPÍTULO #13

Leônidas da Silva é carregado por uma multidão ao chegar a São Paulo, em 1942

Carmen Miranda deixou o palco mais uma vez muito aplaudida, Leônidas se despediu do Além da Imaginação à francesa e os 4 amigos retornaram à resenha, mantendo o Diamante Negro no comando do ataque.

João Sem Medo: - Meus amigos, mesmo campeão em 35 pelo Botafogo, depois de ter jogado no Vasco, Leônidas deixou o clube por causa do racismo. E foi parar no Flamengo, onde foi campeão carioca em 39.

Garçom: - É verdade que o Flamengo começou a ganhar mais torcida por causa dele? É o que ouvi falar.

João Sem Medo: - Depois da Copa de 38, principalmente, Leônidas virou até garoto-propaganda de chocolate, cigarro...

Idiota da Objetividade: - Leônidas foi um dos homens mais populares do Brasil na década de 40, dividindo as honras com Orlando Silva, o Cantor das Multidões, e o presidente Getúlio Vargas, conhecido como o Pai dos Pobres.

Veja também:

Sobrenatural de Almeida: - É, Leônidas ajudou o Flamengo a se tornar popular, mas quando o São Paulo veio ao Rio com um caminhão de dinheiro para contratá-lo, nenhuma viva alma rubro-negra foi se despedir do ídolo na Central do Brasil. Isso foi assombroso.

Ceguinho Torcedor: - Mas na capital paulista foi recebido por uma multidão de filme épico. Até o prefeito o carregou nos ombros. Foi uma festa que parou a cidade.

Idiota da Objetividade: - Leônidas fez o São Paulo conquistar cinco títulos paulistas na década de 40 e começar a rivalizar com Palmeiras e Corinthians, formando o grande Trio de Ferro da Terra da Garoa. O Homem-Borracha, como Leônidas era conhecido também, levou o São Paulo aos títulos paulistas de 43, 45, 46, 48 e 49.

Garçom: - Tem uma música aqui que é perfeita pra ilustrar isso aí.

Zé Ary vai ao notebook do bar, ajeita as caixinhas e seleciona a faixa 5 do álbum "Coração de Cinco Pontas", de Hélio Ziskind.

Todos ouvem com atenção, muitos até aplaudem ao fim da execução da música, apesar de o artista não estar presente ao local.

Ceguinho Torcedor: - Leônidas da Silva foi um gigante do nosso futebol!

Garçom: - Fico curioso pra saber por que ele não defendeu a seleção brasileira na Copa de 50?

João Sem Medo: - O técnico Flavio Costa tinha uns problemas com ele, Zé Ary.

Idiota da Objetividade: - Leônidas da Silva acabou não sendo convocado para a Copa do Mundo de 1950 pelo técnico Flavio Costa, porque ambos  tinham desavenças desde os tempos de Flamengo. Muitos anos mais tarde, Flavio Costa admitiu ao jornalista Andre Ribeiro, que escreveu uma biografia de Leônidas, ter errado ao não convocar o Diamante Negro para o primeiro Mundial de Futebol realizado no Brasil. No ano seguinte, em 1951, encerrou a carreira e foi treinador do São Paulo em 73 jogos.

Sobrenatural de Almeida: - É, mas ele mesmo disse que não se deu bem como treinador, porque tinha um temperamento muito difícil.

Ceguinho Torcedor: - Isso é típico dos gigantes, daqueles que se entregam de alma. E o que me importa são os atos, os sentimentos. É a alma que está em questão.

Veja também:
Reinaldo, o Rei do Galo mineiro
Setenta anos do Canhotinha de Ouro

Idiota da Objetividade: - Posteriormente foi o primeiro jogador a se tornar comentarista de futebol. O Diamante Negro foi um comentarista de rádio dos mais laureados.

Os outros três: - Laureados, Idiota?

João Sem Medo: - Ele quis dizer premiados, um dos comentaristas mais premiados.

Idiota da Objetividade: - Exatamente. E o hino do São Paulo, embora composto por Porfírio da Paz em 1935, só foi oficializado em 42. Justo quando Leônidas estava chegando por lá.

Músico (do palco): - Tinha uma estrofe que falava do Palmeiras, mas não era o Palestra Itália, e sim a Associação Atlética Palmeiras, que se fundiu ao Paulistano para dar origem ao São Paulo. Pra evitar confusões, Porfírio trocou na última estrofe Palmeiras por Floresta, local onde ficava o clube tricolor, e a letra ficou “Do Floresta também trazes um brilho tradicional” em vez de “Do Palmeiras também trazes um brilho tradicional”. Vamos tocar aqui pra vocês.


Os são-paulinos presentes, muito entusiasmados, cantaram junto com o grupo e fizeram uma grande algazarra no fim da execução do Hino tricolor. Respeitosamente, os demais aplaudem.

Modificado e republicado em 10 de setembro de 2024

Fim do capítulo #13

Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país.
Saiba mais clicando aqui.
 

Mensagem publicitária

Clique na imagem acima e saiba mais
sobre minhas
 sugestões de leitura pra você.
Quem lê recomenda!

Veja também:

domingo, 24 de abril de 2022

OLHARES ALHURES - FOTOS #91: O SOL SE VAI, A LUA VEM





Fotos de Eduardo Lamas feitas no dia 16 de abril de 2022, em Itaguaçu, Florianópolis (SC). O sol se põe em São José (SC) e a lua nasce por trás da ilha de Florianópolis.

Mensagem publicitária

Clique na imagem acima e saiba mais
sobre minhas sugestões de leitura pra você.
Quem lê recomenda!

Veja também:

quarta-feira, 20 de abril de 2022

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA - CAPÍTULO #12

Leônidas com sua marca registrada, a bicicleta, em jogo do São Paulo, no Pacaembu, nos anos 40

Enquanto Jorge Goulart deixa o palco, depois de cantar o Hino do Bonsucesso, o papo retorna, com o Diamante Negro na berlinda.

Sobrenatural de Almeida: - A bicicleta, lance que ajudou a consagrar o Leônidas, teve a minha contribuição, claro.

Coro: - Claro!

Sobrenatural de Almeida: - Na primeira rodada do Campeonato Carioca de 1932, mais precisamente no dia 24 de abril, resolvi ir ao antigo Campo da Estrada do Norte, hoje Estádio Leônidas da Silva, ex-Teixeira de Castro, que é o nome da rua onde fica o Bonsucesso Futebol Clube.

Ceguinho Torcedor: - Naquele dia eu estava nas Laranjeiras e vi o Fluminense empatar com o Bangu, em 2 a 2.

Sobrenatural de Almeida: - Pois então, naquele mesmo dia, o Bonsuça recebia o Carioca, time que fez muito sucesso no futebol de salão muitos anos depois, mas que no campo era saco de pancadas. Já tinham me falado desse Leônidas e fui lá pra ver se ele era aquilo tudo mesmo. Numa bola alta na área, o craque estava de costas pro gol e de repente deu aquele salto inesperado e chutou, com o corpo paralelo ao chão no ar. Uma coisa estranha daquela merecia o gol e dei aquela ajudinha pra bola ganhar as redes. Foi o primeiro gol de bicicleta da História.

João Sem Medo (rindo muito): - Ainda bem que você achou estranho e não bonito. Se achasse bonito, era capaz de desviar a bola pra fora.

Todos riem muito.

Veja também:

Idiota da Objetividade: - O paulista Petronilho de Brito reivindicava pra ele a invenção da bicicleta no futebol. Chilenos, argentinos e italianos também diziam que compatriotas seus é que teriam inventado a jogada.

Ceguinho Torcedor: - Bobagem, Idiota. Leônidas da Silva mesmo nunca quis se vangloriar como inventor, mas como aquele que difundiu a jogada. Ele, um craque brasileiro, é que mostrou a jogada pro mundo. Eu vi! Ou melhor, eu senti e sei. O mundo todo sabe.

De repente, eis que de repente, entra no Além da Imgainação, ele, o Diamante Negro.

Todos: - Leônidas!

É ovacionado e levado ao palco, com a imagem de um gol de bicicleta seu, feito especialmente para o filme “Suzana e o presidente”, de 1951, no telão.

Todos vibram com o gol como se tivesse ocorrido naquele momento, num jogo de verdade.

Leônidas da Silva: - Obrigado. Esse aí não foi de verdade, foi pra um filme. Mas ficou bonito. O Ceguinho está certo, ouvi o que ele disse. Eu posso me considerar talvez o homem que difundiu a bicicleta, porque fazia com mais constância esses lances e talvez tivesse sido mais feliz, mas não tenho a veleidade de ser o criador, o autor, do lance de bicicleta, não.

Ceguinho Torcedor: - Leônidas, você pode nos contar como foi aquele gol de meião na Copa de 38?

Leônidas da Silva: - No segundo tempo do jogo com a Polônia, o campo pesado, com a chuva que caiu, barro, acabou a chuteira ficando uma boca de jacaré. Descolou a sola da parte superior e eu não podia ficar com aquilo. Então, tirei e joguei fora a chuteira e comuniquei ao técnico pra arrumar outra. Mas eu tenho um pezinho delicado, tamanho 36, então não foi fácil encontrar na Europa um tamanho desse, nem mesmo na minha equipe. Pediram a um dos garotos, gandulas, que apanham a bola fora do campo, uma botina daquelas até que encontrei uma 38. Acabei jogando com ela.

Garçom: - Marcelinho Carioca podia estar lá naquela época.

Leônidas da Silva (rindo): - Verdade, ele calça a mesma coisa, né?

Alguém na plateia: - Marcelinho calça até menos, 35.

Leônidas da Silva: - Ih, então ia ficar apertado. (ri). Ou melhor, mais largo ainda, com a botina que arrumaram pra mim. Mas antes que eu conseguisse uma chuteira, ia ser cobrada uma falta contra a Polônia e eu fiquei “desuniformizado”. Chovia, o juiz não se apercebeu. Nós não tínhamos meia branca, na época jogávamos com meias pretas. Então, com a lama também, o juiz não tenha observado. As chuteiras também tinham a cor escura, e eu fiquei na jogada, a bola bateu na barreira e eu aproveitei o lance e fiz o gol.

Ceguinho Torcedor: - Que maravilha!

Todos aplaudem.

Veja também:

João Sem Medo: - E por que você não pôde jogar contra a Itália, Leônidas?

Leônidas da Silva: - João, houve muita conversa de bastidores e que o Pimenta queria me poupar pro jogo contra a Itália, não sei o quê.

Idiota da Objetividade: - Só pra esclarecer pra quem não sabe: Ademar Pimenta era o técnico da seleção brasileira na Copa de 38.

Leônidas da Silva: - Isso mesmo, “seu” Idiota. Então ele me lançou no jogo contra a Tchecoslováquia, quando me contundi e não pude jogar contra a Itália. Mas não foi nada disso, não. O sistema do campeonato do mundo naquela época era eliminatório desde o início, jogou, perdeu, cai fora. Jogamos contra a Polônia, decidimos na prorrogação, ganhamos de 6 a 5. Jogamos contra a Tchecoslováquia e tivemos que realizar dois jogos, porque nem na prorrogação decidiu. Aí, duas horas de futebol e terminou empatado. Então houve praticamente um terceiro jogo, que foi quarenta e oito horas depois. O Pimenta não tinha centroavante porque o meu reserva não tinha condição de jogo, era o Niginho. Ele estava inscrito pela Federação Italiana, considerado jogador italiano e, equivocadamente, o Brasil levou o Niginho pra Copa do Mundo.

João Sem Medo: - Como sempre a cartolada fazendo bobagens, sem conhecer o mínimo, que é o regulamento da competição.

Leônidas da Silva: - Mas acreditando que eu pudesse jogar todas as partidas. Houve um princípio de lesão na partida em que jogamos duas horas. Aí o Pimenta disse: “Não adianta poupar você, porque se for poupar você pro jogo contra a Itália, na quinta-feira, se nós perdermos na terça-feira, não vamos jogar contra a Itália. Então vamos correr o risco”. Então eu joguei na terça-feira, contra a Tchecoslováquia, e não tive condição de jogar na quinta-feira.

João Sem Medo: - O Pimenta agiu certo, até porque naquela época não havia substituição.

Leônidas da Silva: - É isso. Muito obrigado a todos, foi só uma passada rápida a convite do Zé Ary. Abraços.

Garçom: - Muito obrigado, “seu” Leônidas. Mas antes que o senhor vá embora. Queria chamar ao palco novamente Carmen Miranda para cantar uma música da Copa de 38.

Leônidas recebe Carmen Miranda no palco, a cumprimenta, deixa o palco e se senta ao lado para assistir à apresentação. A plateia aplaude Leônidas e Carmen, de pé.

Carmen Miranda: - Esta música que vou cantar acompanhada deste maravilhoso conjunto, foi composta por Alcyr Pires Vermelho e Alberto Ribeiro. Apesar de não falar no futebol se tornou o tema da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1938. Chama-se “Paris”. Em 98, quando foi disputada outra Copa do Mundo na França, a queridíssima Elba Ramalho regravou esta música, com minha “participação”.


É aplaudidíssima novamente.

Modificado e republicado em 9 de setembro de 2024

Fim do capítulo #12

Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país.
Saiba mais clicando aqui.
 

Mensagem publicitária

Clique na imagem acima e saiba mais
sobre minhas
 sugestões de leitura pra você.
Quem lê recomenda!

Veja também:

domingo, 17 de abril de 2022

OLHARES ALHURES - FOTOS #90: MIRANTE DO MORRO DA CRUZ

 






Fotos de Eduardo Lamas, feitas em 30 de dezembro de 2018, no Morro da Cruz, em Florianópolis (SC)

Mensagem publicitária

Clique na imagem acima e saiba mais
sobre minhas sugestões de leitura pra você.
Quem lê recomenda!

Veja também:

sexta-feira, 15 de abril de 2022

MÚSICA PRA VIAGEM: FEELING GOOD

Desde que resolvi criar esta série pensava em Nina Simone. Mas qual música escolher, entre tantas composições dela e gravações de obras de Beatles, Bob Dylan, Leonard Cohen e tantos outros em que ela pôs (impôs) com personalidade única a sua marca de grande musicista, cantora e compositora? 

Eis que, ouvindo a rádio ABC, da Austrália, como tenho feito diariamente para estudar inglês, num dos programas da BBC que entram durante a madrugada de lá, tocou a parte inicial desta joia. Aí, a dúvida foi-se embora e a primeira de Nina a aparecer por aqui foi escolhida: "Feeling good", dos ingleses Anthony Newley e Leslie Bricusse.

A música foi feita para um musical, "The roar of the greasepaint - the smell of the crowd", de 1964. No ano seguinte, Nina a incluiu no álbum "I put spell on you" e a transformou na versão mais conhecida até hoje. Tanto que foi com base nela que o astro inglês George Michael, a banda inglesa Muse, entre outros, a gravaram.

Ao procurá-la no Google, veio de primeira este vídeo oficial que achei perfeito, embora sempre prefira colocar o artista executando a sua música. Mas a dança de Raianna Brown me conquistou à primeira vista. Portanto, convido você a curtir a música, a dança, as interpretações, ou seja, o vídeo inteiro. Não percamos tempo!


Mensagem publicitária

Clique na imagem acima e saiba mais
sobre minhas sugestões de leitura pra você.
Quem lê recomenda!

quarta-feira, 13 de abril de 2022

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA - CAPÍTULO #11

Seleção brasileira na Copa do Mundo de 1934, disputada na Itália

Após a ovação a Carmen Miranda e Lamartine Babo, João Sem Medo reinicia o papo.

João Sem Medo: - Meus amigos, em 34, a delegação brasileira viajou 15 dias de navio para a Itália e, em 90 minutos, a vaca foi pro brejo. Isso, apesar de os quase 30 mil presentes no estádio Luigi Ferraris, em Gênova, fora os que subiram morros e telhados próximos, terem torcido pro Brasil.

Idiota da Objetividade: - O Brasil saiu perdendo de 3 a 0 pra Espanha no primeiro tempo e quando tentou reagir na etapa final ficou difícil. Houve um gol anulado, marcado pelo Luizinho, depois Waldemar de Brito perdeu um pênalti, defendido pelo grande goleiro Zamora, e a seleção brasileira foi derrotada pela espanhola por 3 a 1 e foi eliminada da Copa do Mundo logo na estreia.

João Sem Medo: - O gol do Brasil foi de um tal de Leônidas. Conhecem, né?

Ceguinho Torcedor: - Evidentemente. Ele foi a nossa grande figura em 38. Saímos daqui muito otimistas, houve uma longa preparação, a delegação chegou à França quase um mês antes do início da Copa e lá fizemos nossa primeira boa apresentação num Mundial. Ficamos em terceiro lugar, e Leônidas da Silva, o Diamante Negro, pôde assombrar o mundo com seu futebol de outro mundo.

Sobrenatural de Almeida: - Futebol assombroso!

Veja também:
Na volta do Bonsucesso à Primeira Divisão, as
consequentes boas lembranças de meu avô Thomé
Adeus, Maracanã

Garçom: - E pra abrilhantar ainda mais este grande encontro e homenagear Leônidas da Silva, os Vocalistas Tropicais estão aqui pra cantar “Diamante Negro”, de David Nasser e Marino Pinto.

Todos aplaudem.

Nilo Xavier da Mota: - Obrigado, obrigado. É uma honra pros Vocalistas Tropicais estarmos aqui neste palco pra participar desta tabelinha entre futebol, muito bem representados por estes craques aqui na mesa principal, e música, a música brasileira. Vamos então a essa homenagem musical ao grande Leônidas da Silva.

São, mais uma vez, muito aplaudidos.

Garçom: - Muito obrigado, Nilo Xavier da Mota, Raimundo Evandro Jataí de Sousa, Artur Oliveira, Danúbio Barbosa Lima e Arlindo Borges.

Após a apresentação dos Vocalistas Tropicais, Leônidas da Silva passa a ser o centro da conversa no Além da Imaginação. Pairou até uma expectativa no ar se o Diamante Negro apareceria de surpresa...

Idiota da Objetividade: - Leônidas foi o primeiro brasileiro a ser artilheiro de uma Copa do Mundo, com 7 gols. A campeã, ou melhor, bicampeã, foi a Itália, que venceu o Brasil na semifinal por 2 a 1. Leônidas não jogou contra os italianos, porque, segundo o técnico Ademar Pimenta, estava machucado. Aquela Copa foi disputada em sistema eliminatório.

Sobrenatural de Almeida: - É o sistema que eu mais gosto: o mata-mata. hahahaha

Idiota da Objetividade: - O Brasil estreou na França com uma vitória de 6 a 5 sobre a Polônia, na prorrogação. Leônidas fez três gols.

Ceguinho Torcedor: - Espetacular Leônidas! Sensacional também Domingos da Guia. Nosso guardião da zaga começou o jogo com 38 graus de febre, que só piorou com a chuva que começou a cair pouco antes do jogo.

Sobrenatural de Almeida: - Com a minha intervenção ele salvou milagrosamente um gol na prorrogação, quando o Brasil vencia por 5 a 4. Batatais já estava fora do gol. No rebote, Willimonski ia fazer o gol, mas dei uma desviadinha e a bola acertou a trave

Ceguinho Torcedor: - Domingos da Guia foi outro grande herói do nosso scratch.

João Sem Medo: - No fim da partida, ele e Leônidas, que andavam meio brigados, se abraçaram emocionados.

Veja também:

Idiota da Objetividade: - Este foi o primeiro jogo de uma Copa do Mundo transmitido por uma rádio brasileira, a Rádio Clube do Brasil, do Rio de Janeiro. A narração foi de Gagliano Neto.

Ceguinho Torcedor: - O povo pôde ouvir o jogo na voz do grande “speaker”, como se falava na época.

Sobrenatural de Almeida: - O presidente Getúlio Vargas mandou instalar alto-falantes nas praças e outros locais públicos pra que todo mundo pudesse ouvir.

Idiota da Objetividade: - O pernambucano Leonardo Gagliano Neto já havia sido o pioneiro na narração de um jogo da seleção brasileira, um ano antes, durante o Campeonato Sul-Americano disputado na Argentina, pela Rádio Cruzeiro do Sul.

João Sem Medo: - O Getúlio, simpatizante do regime fascista de Mussolini, mandou três telegramas pro Gagliano pedindo que ele maneirasse nas emoções durante a semifinal contra a Itália. Getúlio depois elogiou o locutor, mas muita gente disse na época que Gagliano criticou muito o árbitro pelo pênalti, no mínimo duvidoso, de Domingos da Guia em Piola.

Ceguinho Torcedor: - O rádio é meu veículo predileto, por motivos óbvios. E aquele jogo contra a Polônia foi de matar um do coração. Saímos com 3 a 1 do primeiro tempo, mas os poloneses cresceram na segunda etapa e empataram. Fizemos o quarto, mas faltando um minuto pro fim, eles igualaram o marcador novamente: 4 a 4. Na prorrogação, Leônidas meteu dois, um com a chuteira rasgada, gol de meião e, quando a Polônia fez o quinto, já era tarde. Chorei lágrimas de esguicho, mas de alegria.

Idiota da Objetividade: - Nas quartas-de-final, contra a Tchecoslováquia, foram necessários dois jogos, pois o primeiro terminara empatado em 1 a 1, e não havia disputa de pênaltis naquela época. Dois dias depois, os times voltaram a se enfrentar muito desfalcados, mas o Brasil tinha Leônidas e ganhou por 2 a 1, com um gol do Diamante Negro, que já havia marcado no primeiro embate contra os tchecoslovacos. Mais dois dias, o time brasileiro estava extenuado, com Leônidas fora, e a Itália venceu a semifinal por 2 a 1. Na disputa do terceiro lugar, Leônidas marcou dois e o Brasil derrotou a Suécia por 4 a 2.

Ceguinho Torcedor: - Dizem que na Copa de 38 ele teria feito um gol de bicicleta que espantou o público e foi anulado pelo árbitro por não conhecer a jogada. Eu não vi, não posso falar. Você viu, João? (João finge que não escutou)

João Sem Medo: - Música, maestro!

Jorge Goulart (já no palco): - Às suas ordens, mestre João Sem Medo! Vamos com a Marcha do Bonsucesso, que destaca Leônidas como o maioral.

Jorge Goulart (muito aplaudido): - Esta marcha, do Lamartine Babo, que aqui nos dá a honra de sua presença, acabou sendo oficializada posteriormente como hino do Bonsucesso. Obrigado, minha gente.

Modificado e republicado no dia 5 de setembro de 2024

Fim do capítulo #11

Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país.
Saiba mais clicando aqui.
 

Mensagem publicitária

Clique na imagem acima e saiba mais
sobre minhas
 sugestões de leitura pra você.
Quem lê recomenda!

domingo, 10 de abril de 2022

OLHARES ALHURES - FOTOS #89: TONS DE CINZA








 Fotos de Eduardo Lamas, feitas no dia 4 de abril de 2022, no bairro de Itaguaçu, Florianópolis (SC).

Mensagem publicitária

Clique na imagem acima e saiba mais
sobre minhas sugestões de leitura pra você.
Quem lê recomenda!

sexta-feira, 8 de abril de 2022

MÚSICA PRA VIAGEM: NA HORA DO ALMOÇO

Veja você como são as coisas. Uma das músicas mais antigas de Belchior, creio que seu primeiro sucesso, só vim a conhecer há cinco anos, no carnaval que passei com minha mulher; o casal amigo, Ricardo Malize e Renata Couto, e um de seus filhos, o Rafael, em Ibitipoca, nas Minas Gerais de meu pai, meus avós, tios e toda uma multidão de antepassados. 

Foi numa noite fria de fevereiro - fria sim, pois lá no topo dos morros, quando escurece, mesmo no verão, a temperatura desce. Um grupo de rapazes que estava trabalhando no Parque Estadual nos viu com violão e cantoria e se aproximou. Um deles pegou o violão do Ricardo e cantou esta música que incrivelmente eu não conhecia - ou não me recordava, pois na infância é bem possível que tenha passado por meus ouvidos sempre ávidos por música.

E foi dali que passei a buscar mais informações sobre o bardo de Sobral (CE) e ouvir seus álbuns disponíveis no YouTube e nos serviços de streaming com muito mais atenção. Poeta de primeira grandeza que teve um fim de vida isolado e misterioso passou a ganhar olhos e ouvidos atentos quando noticiaram seu sumiço. Mas o que me importa é a sua preciosa poesia - e também precisa, embora ele diga que gostaria de ter palavra mais precisa a oferecer ao público.

E é ela que emerge com toda a força musical do artista, em sua própria voz e também em magníficas interpretações do ator Silvero Pereira, no documentário "Belchior - apenas um coração selvagem", de Camilo Cavalcanti e Natália Dias, disponível gratuitamente no site do Festival "É Tudo Verdade" até domingo agora, dia 10. E foi o filme que me motivou a escolher esta música para a série, escrever estas linhas acima e os versos abaixo.

BELCHIORIANA Nº 1

O melhor de não viver 
dias de glórias
é não ser tentado
a se aferrar ao passado
e estar livre, com esperança,
mesmo em dias 
de caminhadas inglórias
ter e poder contar
esta e outras tantas histórias
de subir os degraus
e descer a ladeira
se entender com os planos
sonhados, imaginados
vividos sem ser realizados
mas curtidos e levados
adiante pela estrada
com os pés descalçados
ferindo as feridas
sangrando e chorando,
com o medo e a coragem,
dois aliados 
apertados no peito
de braços dados
com tristeza e alegrias,
dores e melancolias
das curvas e das retas
de avenidas e ciclovias
calçadas e passarelas
nos asfaltos da vida
em faixas amarelas
na contramão 
ou na via certa
sinais fechados,
abertos ou de alerta.

"É preciso estar atento e forte,
não temos tempo de temer a morte" 


Mensagem publicitária

Clique na imagem acima e saiba mais
sobre minhas sugestões de leitura pra você.
Quem lê recomenda!

Veja também:

quarta-feira, 6 de abril de 2022

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA - CAPÍTULO #10

Seleção brasileira na Copa do Mundo de 1930, disputada no Uruguai

O racismo no futebol continua sendo o tema do papo no bar “Além da Imaginação” e a bola está com o comentarista que o Brasil consagrou.

João Sem Medo: - Esse racismo entranhado em muitos clubes brasileiros é que acabou levando o futebol ao profissionalismo na década de 30. Os jogadores passaram a ser empregados dos clubes, tratados como tal, e isso foi uma forma de os dirigentes evitarem a mistura deles com a parte social na sede. Amadorismo, propriamente, já não existia há muito tempo. Com pouquíssimas exceções de jogadores ricos, o resto já era profissional de alguma forma. E, na verdade, foi o jeitinho brasileiro pra contornar a questão, pois os clubes que rejeitavam o profissionalismo, no fundo não queriam mesmo era abrir as portas ao negro. E aí caíram num dilema: ou fechavam o departamento de futebol ou aceitavam o profissionalismo. Isso causou uma cisão violenta.

Sobrenatural de Almeida: Foi por isso que a seleção brasileira disputou a primeira Copa do Mundo com um time enfraquecido...

João Sem Medo: - Foi. Eu assisti àquela Copa, morava ali perto da fronteira com o Uruguai. Aliás, assisti a todas as Copas do Mundo.

Todos os outros três (desconfiados): - Sim, claro...

Veja também:

Garçom: - Senhoras e senhores, como a conversa está nos tempos do amadorismo no futebol brasileiro, temos música no palco para ilustrar o tema.

José (Giuseppe) Rielli (no palco, com seu acordeão): É “vero”! “La canzone” se chama “Amadores da pelota”, de Antônio Teixeira Borges.

Garçom: - O bar Além da Imaginação tem a honra, então de apresentar José... Giuseppe... Como devo apresentá-lo: José ou Giuseppe Rielli?

José (Giuseppe) Rielli: - Giuseppe, como “io” assinava em 1914.

Garçom: - Então, com vocês, Giuseppe Rielli!

Todos aplaudem o italiano que veio para o Brasil ainda criança no fim do século XIX. Ele agradece e se despede. João Sem Medo continua. 

João Sem Medo: - Por causa dessa rixa entre amadoristas e profissionalistas, pro Uruguai, em 30, a seleção brasileira só levou um paulista, Araken Patusca, que estava brigado com o Santos, onde foi grande ídolo e artilheiro.

Idiota da Objetividade: - Araken já estaria sendo contratado...

Ceguinho Torcedor: - Estaria sendo, Idiota???

Idiota da Objetividade: - Peço desculpas. Tentando ser mais objetivo: Araken já estaria apalavrado com o América do Rio na época. Ele é primo de Arnaldo Patusca da Silveira, autor do primeiro gol da História do Santos Futebol Clube, e filho do primeiro presidente do clube santista: Sizino Patusca. O gol de Arnaldo foi feito na vitória de 2 a 1 sobre o Santos Athletic Club, em amistoso realizado em 1912.

Veja também:
Minha primeira Copa do Mundo
O adeus de Eusébio, o Príncipe Negro do futebol

João Sem Medo: - O Santos tem uma grande história antes mesmo de Pelé. Mas voltando ao que falávamos... a CBD, que deu origem à CBF, com sede no Rio, era amadorista, enquanto que uma tal de Federação Brasileira de Futebol e a Associação Paulista de Esportes Atléticos (Apea), um dos muitos nomes que a Federação Paulista de Futebol teve, eram profissionalistas. Acabou que só foram jogar a primeira Copa jogadores do Rio e o Araken, que aproveitou que o navio da seleção passou pelo porto de Santos e se juntou à delegação.

Sobrenatural de Almeida: - Mas fomos eliminados logo na primeira fase!

João Sem Medo: - Sim. Com uma derrota na estreia pra Iugoslávia, por 2 a 1, e uma vitória de 4 a 0 sobre a fraca Bolívia.

Idiota da Objetividade: - Araken Patusca fez parte de uma fabulosa equipe do Santos, que no Campeonato Paulista de 1927 marcou 100 gols em 16 partidas, média recorde mundial de 6,25 por jogo. Só Araken fez 31 gols, mas o time santista terminou em segundo lugar. O campeão foi o Palestra Itália, que deu origem ao Palmeiras e que conquistava ali o bicampeonato paulista. Ele só conseguiu ser campeão no Santos, em 1935, mas em grande estilo: marcou um dos gols dos 2 a 0 sobre o Corinthians, na última partida da competição.

Garçom: - Esse Araken era bom mesmo, né?

Idiota da Objetividade: - Araken estreou no Santos, no início da década de 20, saindo da arquibancada direto pro campo, fazendo 4 gols no empate em 5 a 5 com o Jundiaí. Ele tinha apenas 15 anos, senhores. Araken ainda jogou no Paulistano, no São Paulo e no Flamengo. E escreveu um livro sobre a excursão que o Paulistano fez à Europa em 1925, quando atuou ao lado do grande Friedenreich, o maior artilheiro de todos os tempos, com 1.329 gols, reconhecidos pela Fifa.

João Sem Medo: - Os jornais franceses, encantados com a série de shows de bola em gramados europeus, chamaram os brasileiros de “Os reis do futebol”. E este é o título do livro do Araken Patuska.

Ceguinho Torcedor: - Ainda bem que depois da divisão toda, entre amadoristas e profissionalistas, o futebol brasileiro pôde ter um pouco de paz.

João Sem Medo: - A partir daí nosso futebol deu saltos gigantescos, projetou-se internacionalmente pela qualidade extraordinária de nossos craques, apesar do núcleo dirigente tentar sempre atrapalhar. Mas de 1930 até 35 foi o pior momento da História do futebol brasileiro. Eu não presenciei muito, mas eu sei também que o incêndio de Roma aconteceu, né?

Ceguinho Torcedor: - Verdade, meu amigo, é o óbvio ululante!

Veja também:
Os maiores jogos de todos os tempos 4
Os maiores jogos de todos os tempos 2

João Sem Medo: - Foi uma fase de grande crise política e econômico-financeira, depois da crise mundial dos anos 30, no começo dos anos 30.

Ceguinho Torcedor: - A crise mundial de 29 com a quebra da Bolsa de Nova York.

João Sem Medo: - Isso mesmo. Toda a seleção brasileira... toda! Do goleiro ao ponta-esquerda, foi pra Itália, Argentina e Uruguai. E os jogos aqui, eu fazia jogo de infantil, juvenil... Foi terrível, não tinha dinheiro pra comprar material, chuteira, não tinha nada. Os campos vazios, o que era um reflexo da crise mundial. Essa crise foi ferocíssima até 35, por aí. De 30 a 35. Em 34, na Itália, ainda no meio da cisão e dessa crise toda, fomos mal de novo, eliminados logo no primeiro jogo, pela Espanha.

João Sem Medo é interrompido por aplausos direcionados ao palco. Ele mesmo só se dá conta depois e revela ao Ceguinho Torcedor o que está acontecendo.

João Sem Medo: - Meu amigo, estão no palco simplesmente Carmen Miranda e Lamartine Babo.

Ceguinho Torcedor: - Extraordinário, épico, monumental!

João Sem Medo: - O povo aqui os reconheceu logo e já começou a aplaudir antes mesmo de serem anunciados.

Garçom: - Nem preciso mais anunciar a próxima atração, né, Seu João? Vou deixar a bola com eles.

Carmen Miranda: - Muito obrigada.

Lamartine Babo: - Agradeço muito. Agradecemos muito. Bom, futebol e música sempre foram a minha cachaça, vocês sabem muito bem. Pro carnaval de 34, ano da segunda Copa do Mundo, lançamos esta marchinha chamada “2 x 2”.

Carmen Miranda: - Vocês vão gostar. Quem já conhece, de ouvir novamente. E quem nunca ouviu, de conhecer.

São aplaudidíssimos. Com Lamartine dando a mão a Carmen, os dois deixam o palco ovacionados e se dirigem a uma mesa para ouvirem o recomeço do papo e aguardar a vez de retornarem.

Fim do Capítulo #10

Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país.
Saiba mais clicando aqui.
 

Modificado e republicado em 3 de setembro de 2024

Mensagem publicitária

Clique na imagem acima e saiba mais
sobre minhas
 sugestões de leitura pra você.
Quem lê recomenda!

Veja também:
Uma coisa jogada com música - Capítulo #9
Uma coisa jogada com música - Capítulo #11