domingo, 24 de julho de 2011

NA VOLTA DO BONSUCESSO À PRIMEIRA DIVISÃO DO RIO, AS CONSEQÜENTES BOAS LEMBRANÇAS DE MEU AVÔ THOMÉ

No mesmo dia em que Amy Winehouse concretizou a crônica de uma morte tantas vezes anunciada recebi a notícia de que o Bonsucesso havia conseguido voltar à Primeira Divisão do futebol do Rio, algo que me deixou muito satisfeito e que me trouxe à memória ótimas lembranças. Um assunto, obviamente, nada tem a ver com o outro, mas é que pensava em escrever algo sobre a talentosa e conturbada cantora e compositora, quando veio a informação de bem menor repercussão, mas que me atraiu mais por fortes motivações pessoais. Além do mais, a mídia esgotará ad nauseam a morte de Amy.
Além de ter o nome do bairro onde nasci, o Bonsucesso Futebol Clube teve como center half (o cabeça de área ou volante dos tempos passados) um garoto chamado Lamas nos anos de 1935, 36 e 37, ninguém menos que meu avô materno, Thomé de Souza Lamas (1919-1985), de quem tenho as melhores recordações e de quem herdei a paixão pelo futebol e pela escrita. Que ele havia jogado no Bonsucesso já sabia, porque me contara inclusive que teve de parar no ano em que completaria 18 anos para servir o Exército. Os anos em que ele jogou só vim a saber há poucos anos, graças ao pesquisador Eduardo Santos.
Apesar de ter jogado no Bonsuça, meu avô era torcedor do Olaria, que também leva o nome do bairro em que ele morava e eu também morei, até os 4 anos de idade. E foi me levando em algumas manhãs de domingo para o estádio da Rua Bariri, após um café com pão e ovo de gema mole (ou ovo quente), preparado por ele para mim, que comecei a me aproximar mais do mundo do futebol. Lá vi vários jogos do time alvianil, inclusive contra o próprio Bonsucesso. O craque do Olaria Atlético Clube naquela época (início dos anos 70) era o camisa 8 Lulinha, que depois foi vice-campeão brasileiro pelo Bangu no mesmo ano em que "seu" Thomé morreu e posteriormente ainda teve uma passagem pelo Botafogo. Certamente nasceu ali, naquelas alegres manhãs, a minha paixão pelo futebol.
Se de meu avô Thomé recebi influências que me fizeram sonhar ser também um jogador de futebol (cheguei a fazer testes para o América, Flamengo e Vasco), também me ajudaram muito a me tornar escritor e jornalista, algo que só muitos e muitos anos mais tarde pude perceber. Ele que me ensinou a manusear corretamente uma máquina de escrever e me explicava o significado de palavras que eu lia e não entendia na parte de esportes do jornal, a única que me interessava naquela época. Vendendo material gráfico para jornais, meu avô conheceu muitas e muitas cidades deste país, de onde me mandava telegramas e cartas, ora me parabenizando pelo aniversário, ora por ter passado de ano no colégio ou apenas para matar a saudade.
Nestas viagens, ele começou a escrever nas horas vagas alguns textos e um livro, cujo o manuscrito está comigo, cedido pelo meu tio e padrinho, Roberto, falecido há um ano. Pode ser que publique um trecho aqui qualquer dia em mais uma homenagem a este homem de importância imensurável na minha vida e que me voltou com força à memória neste sábado, 23 de julho, graças ao retorno do Bonsuça à Primeira Divisão do Rio após 18 anos de ausência.
Termino parabenizando o clube alvirrubro (o Barcelona da Leopoldina) e também o Friburguense, que também retorna, no mesmo ano em que a sua cidade, Nova Friburgo, foi duramente castigada pelas chuvas de verão.
Ilustrações: escudo do Bonsucesso e foto de André Queiroz de um Olaria x Bonsucesso, de 2008, na Rua Bariri, tirada do blog Fanáticos pelo Cesso (www.fanaticospelocesso.blogspot.com)
Veja também:
Das Peladas de Rua às Arenas
América-RJ, 106 Anos
O Teatro e o Futebol
Sonhos e Pesadelos nos Quadros de Cláudio Neiva, o Representante da Pintura numa Família de Artistas

3 comentários:

  1. Eduardo de Barrosdomingo, julho 24, 2011

    Uma pena que os times do suburbio carioca sofram há decadas um grande esvaziamento diluindo suas identidades com o povo carioca. Vila Isabel já teve um time, o saudoso Confiança e outros mais. Quem dera cada bairro pudesse organizar seu time amador ou profissional, não importa, incentivaria demais a garotada e ofereceria ótimas oportunidades a juventude. Me avó, que era iletrado (nunca diria analfabeto no seu caso) também marcou muito minha infância. Acredito que seja porque essa geração ainda não tinha se alinhado tanto com o mercado de trabalho e com a sua supremacia diante das demais ocupações.

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  2. Que bonito, Edu! Tanta força nas suas palavras mobilizaram minha emoção com a volta do Bonsucesso à primeira divisão.
    Bjs.

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  3. Belas reminiscências... Que me fazem também relembrar de fatos futebolísticos de outrora...

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