Impossível ouvir esta música com a interpretação magnífica e apaixonada de Elis Regina e não me arrepiar, sentir os olhos inundando pouco a pouco vencendo facilmente aquele velho machismo que se debate, estrebucha e berra de desespero por dentro: "homem não chora!". Ainda não havia escolhido a próxima música para esta série, e até meio esquecido de pensar nisso, quando após assistir a umas entrevistas no YouTube me foi oferecido um vídeo de um professor de voz americano (acho que americano) reagindo a este vídeo aí abaixo. Vi, comovi-me, claro, ainda mais com as reações entusiasmadas dele, e só depois me dei conta que já tinha a 27ª música que nos faz viajar.
Elogiar Elis é chover no molhado. Sim, um clichê para destacar outro. Porém, mais difícil é encontrar palavras que definam o quanto sua voz e emoção ao cantar provoca em quem realmente se conecta com a Arte. Ainda mais quando ela canta "Como nossos pais", uma das muitas inspiradíssimas obras de Belchior, artista que estará aqui muitas vezes, podem cobrar. Com sua alma, Elis recriou a música, que já era - e é - ótima com o seu compositor. É, comparando ao mundo da bola, quando um craque dá um passe espetacular para um gênio, simples assim.
Os versos extraordinários de Belchior ganham uma força estupenda na voz, nos gestos, nos olhares de Elis, é só observar com um pouquinho de atenção a essa apresentação no Fantástico, de 1976. Felizes - e certamente sabiam disso - todos os que tiveram a oportunidade de assistir Elis ao vivo, especialmente naquele espetáculo "Falso Brilhante", com Cesar Camargo Mariano. Infelizmente não tive esta chance, mas não lamento. Eu a ouço repetidas vezes e é como se fosse aqui e agora. Como esta poesia de Belchior, tão atual, tão gritantemente atual, 45 anos depois.
"Mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem!"... "Minha dor é perceber que apesar de tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais!".
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