quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A JUVENTUDE CONSERVADORA

"...mas é essa a juventude que quer tomar o poder?... Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos...” (Caetano Veloso, em 1968)

É uma pena que Caetano não seja mais o mesmo, se é que foi mesmo quem pensamos algum dia. Mas os jovens de um modo geral continuam tão conservadores como sempre, repetindo os erros de seus pais (“...minha dor é perceber, que apesar de tudo, tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais...”, Como nossos pais, Belchior). Mesmo os movimentos de liberdade, paz e amor dos anos 60 revelaram mais tarde a verdadeira cara de muitos daqueles jovens hippies: a de yupie. E eles acabaram tomando todas as formas de poder, demonstrando que aquele Caetano estava certo.
Hoje, quem tem mais de 35 anos dificilmente encontra um emprego, porque as vagas estão nas mãos de jovens que pensam que não envelhecerão jamais. Era bom que envelhecessem logo, como Nelson Rodrigues clamava já em plenos 60. Gente sem história para contar está decidindo os rumos de uma geração vazia de idéias e ideais, fingindo mudar só para nada mudar; alguns se travestindo de diferentes, mas como um todo exercendo o poder, ou se submetendo a ele, da forma mais torpe, vil possível.
Outro dia falei dos senhores da guerra que mandam matar sem ódio. Pois é, os que exercem os pequenos poderes é que estão legitimando a existência desses inescrupulosos jovens senhores. Mas a questão não é só de idade, como pode parecer. É o poder! Porém prefiro me ater ao pequeno poder, pobremente (ou “podremente”) exercido por quem tem um bloquinho de multas na mão, um volante a sua frente, um apito na boca, uma caneta para punir, um martelo para julgar, um jornal para escrever. Ande pelas ruas desta e de outras cidades e observe como o fazem de forma impiedosa, revelando claramente o que fariam com um país, o mundo inteiro se os tivessem que governar.
Como podem clamar por justiça no fim das contas? Mas não sou pessimista, vejo chances naqueles que têm a sabedoria de abrir mão do podre poder, por menor que ele possa parecer. E que não usam a vingança para se impor. E que ainda questionam e se questionam. E que não ficam esperando por líderes, heróis, ídolos para caminhar.
Os que insistem em manter uma posição outorgada sabe-se lá por quem, continuarão se sentindo enormes, gigantescos, mas somente por algum momento, porque logo, logo perceberão que são tão pequenos quanto os poderosos nos quais se espelham.



Vídeo: "Como Nossos Pais", de Belchior, com Elis Regina

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