O ser cindido vive em dois mundos: o real e o imaginado. Além deles, ainda se pode considerar um terceiro (a terceira margem?), o da tênue linha fronteiriça que separa um do outro. Todo artista de verdade possui algum grau de esquizofrenia. Postado racionalmente no mundo mesquinho da realidade, dos afazeres práticos e ou reconfortantes, o homem age maquinalmente, absorve ordens, cumpre seus deveres, exige direitos (até os que não tem), diverte-se, joga conversa fora e flana sobre a superficialidade apenas tangenciando-a. Na era do entretenimento paranóico, esta é a lei.
No entanto, quando o homem avança, mergulha e investiga com todos os seus sentidos aguçados e concentrados o mar infinito que é seu próprio ser ou atravessa a pesada porta que o impele a não sair do lugar e vai onde quanto mais fundo, mais escuro e denso, torna-se possível trazer algo novo à tona e se tornar um ser criador.
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Mas aqui não cabem ilusões, paga-se um alto preço por isso, muito alto. Não ser compreendido, é apenas um. O pior de todos é não conseguir sair da fronteira: desprezar a superficialidade e não se aprofundar. Ficar preso ao imaginário e ao caos interior ou confundi-lo com o real é outro grande risco que se corre. É a doença, quando o homem é controlado por sua mente, quando ele se faz refém de si mesmo. Alguns artistas se afundaram nessa, muitos empurrados pelas drogas alucinógenas encontraram a sua morte, física ou mental.
Porém, a mediocridade de não escolher, de não decidir, a falta de coragem para romper barreiras e se acautelar faz do homem um rato medroso, um medíocre. Faz a alma humana aprisionada no corpo do cão o olhar com desprezo. E a fraqueza ou falta de fôlego para retornar e trazer a boa nova o joga no limbo, é também apenas um existente.
Ilustração:"Only opens, when open for fantasy", de Ben Goossens.