segunda-feira, 24 de julho de 2023

NAU POESIA: A DANÇA DA CHUVA *

A chuva dança lentamente
e encharca o quintal,
a terra, as telhas, as árvores

As folhas arqueiam
sob o peso de gotas
que se aglomeram
– para cair –
em outras folhas,
as mãos em concha
abarcando com sorrisos
aquela água abençoada dos céus
que sempre lhes escapa

Os galhos são prolongamentos
do dorso nu e suado
deste frondoso vegetal,
são braços estendidos
pousados no ar tentando tocar
em algo inatingível, incompreensível
como se encontrassem extenuados
de um esforço aparentemente inútil.

Percorrem-lhes pingos de suor de chuva
que despencam pouco a pouco
tal qual loucos suicidas
lançando-se na incerteza da queda,
perdidos num vão aberto no espaço
que tanto pode ser uma pequena fenda
quanto um imenso rasgo no infinito

Porém, na certeza de que
jamais retornarão à plataforma
de onde saltaram
pois serão sugados pela terra
enquanto outros tomarão seus lugares...

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Esta poesia, publicada originalmente neste blog em 18 de setembro de 2008, faz parte de "Profano Coração", livro de estreia do jornalista e escritor Eduardo Lamas Neiva, com ilustrações de Sóter França Júnior. 

Caso você deseje adquirir o seu e ler outras poesias, ele está à venda na versão digital (ebook) na Amazon do Brasil e de mais 13 países. Clique aqui ou na capa do livro ao lado para comprar o seu ebook

Atenção: não adquira o livro em outra loja que não seja a Amazon, pois você, o autor e o ilustrador serão vítimas de (mais) uma fraude. 

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sexta-feira, 21 de julho de 2023

"COMENDO A BOLA" DEBATE VIOLÊNCIA E MORTE NO FUTEBOL

Pela segunda vez convidado para participar do programa "Comendo a Bola" senti-me convocado e não hesitei em aceitar. Até porque o tema proposto era bastante sério, infelizmente ainda atual e importantíssimo: violência e morte no futebol. Nelson Rodrigues certa vez disse ou escreveu, não me recordo agora, que o primeiro homem na face da Terra ao avistar seu semelhante pela primeira vez logo o reconheceu como seu inimigo. E a História da Humanidade não desmente o gênio: vivemos às turras, desde sempre.

Da esquerda para a direita: Mauricio Capellari, Carlos Falkoski, Rodrigo Titericz e eu durante a gravação do "Comendo a Bola" sobre "Violência e Morte no Futebol". Foto: Anderson Duarte 

Das rusguinhas às sérias ofensas, hoje repletas nas redes sociais, indo às vias de fato das formas mais cruéis e violentas - as guerras estão aí para não nos deixar mentir - o ser humano não consegue minimamente se respeitar, respeitar diferenças, debater, divergir, sem agredir. Raros e raras são aqueles e aquelas que contrariam a regra. E o futebol, claro, não fica fora deste contexto.

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E é bom que se ressalte, não só no Brasil, mas aqui parece que a condescendência e a hipocrisia são maiores, e agressores dentro, no entorno ou mesmo longe dos estádios, voltam a frequentar os jogos sem impedimentos e em curto tempo. No programa contei algumas histórias que vivenciei nos estádios que frequentei no Rio de Janeiro, desde os tempos de torcedor, ainda na década de 70, até o período como repórter, já nos 90, para reforçar que o problema vem de longo tempo e pouco ou quase nada foi feito para chegarmos ao atual estágio.

Torcida única, na minha opinião, é a assinatura oficial da incompetência de Estado, clubes, federações, CBF, segurança pública e sociedade. Um paliativo que nada resolve. Além disso, para mim, é a morte do futebol, o que já ocorre em São Paulo e em outros locais. 

Assista abaixo ou no canal "Comendo a Bola" no YouTube (clique aqui), o debate "Violência e Morte no Futebol", do qual tive mais uma vez o privilégio de participar com Mauricio Capellari, Carlos Eduardo Falkoski e Rodrigo Titericz e dê sua opinião. 


terça-feira, 18 de julho de 2023

NAU POESIA: NOITE CLARA DA ALMA *

"Conhece a ti mesmo"


Estive à beira da vida
ao largo, à margem
desejando pertencer, penetrar
seduzindo a dona da festa
pra ser convidado,
mas sempre batia
com a cara na porta, barrado
E segui ao largo, à margem
na noite escura da alma

Pela estrada que a lua cheia
me apontava e eu não enxergava
via e não via na via da vida
seguia e seguia,
pelo acostamento

Agora cá estou na via da vida
iluminada, via da alma
clara vida, clara alma
alumiada alma
sem pressa de ir ou chegar
com calma, na estrada
seguindo pela noite clara da alma.

Capa do ebook "Sutilezas"
Embora seja atribuída ao filósofo Sócrates, a frase "Conhece-te a ti mesmo" é a inscrição na entrada do Oráculo de Delfos. A ilustração é da carta 9 do Tarô, O Eremita.

Gostou? "Noite clara da alma" e outras poesias mais estão no ebook "Sutilezas", que você pode adquirir na Amazon do Brasil e de mais 13 países.

*  Esta poesia foi publicada neste blog originalmente em 21 de outubro de 2013.

Veja também:
Esperar pelo sol
Amores
Sutilezas: amor, paixão e surpresas

domingo, 16 de julho de 2023

LIVRO PRA VIAGEM: A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER

Meu livro desgastado pelo tempo

Chegou a hora de reler, foi o pensamento abrupto que me veio outro dia de manhã, enquanto lavava a louça. A notícia da morte de Milan Kundera, divulgada esta semana por veículos de comunicação de boa parte do mundo, até me pegou de surpresa, pois não ouvia falar do escritor tcheco há muitos anos, há décadas.

Como fora há muitos anos, décadas, que assisti ao filme no cinema e um bom tempo depois comprei o livro numa banca de jornais do Rio de Janeiro e o li, com prazer. Deve ser desde esta época que nada sabia sobre o autor.

Veja também:
A grandiosidade de Victor Hugo
Nise da Silveira: o afeto e a arte como poder

Diz o obituário de Kundera que o escritor não gostava da adaptação de seu livro de maior sucesso para o cinema: achou simplista demais. Porém, aquela história do neurocirurgião Tomás e seus questionamentos e muitos conflitos sobre o amor, o casamento e o sexo que se passa durante a Primavera de Praga, rapidamente encerrada com a invasão da União Soviética (isso lembra algo recente por aqueles lados do planeta, né!?) me agradou quando a vi no cinema. Talvez se tivesse lido o livro antes, a minha opinião fosse a mesma de Kundera. Quem sabe?

Só sei que, assim que terminar um dos dois livros que leio atualmente ("O poder do agora", de Eckhart Tolle, e a biografia do baterista do The Who "Keith Moon: a vida e a morte de uma lenda do rock", de Tony Fletcher), pegarei de novo "A insustentável leveza do ser" para ler. Até como uma homenagem a Milan Kundera, que além deste ótimo livro, me deu a ideia de criar mais esta série aqui no blog.

Veja também:
Mãe exalta o amor em "O filho de mil homens"
"O negro crepúsculo", um livro muito bem recomendado
Lamascast: Ao mestre Saramago
"Velhos conhecidos", uma peça em ebook

sexta-feira, 14 de julho de 2023

"COMENDO A BOLA" PELAS BEIRADAS

 

Da esq. pra direita: Mauricio Capellari, Carlos Falkoski, Rodrigo Titericz e eu. Foto: Anderson Duarte

A convite de Mauricio Capellari, participei no último dia 4 da gravação do programa "Comendo a Bola", apresentado por ele e que conta também com Carlos Falkoski, o Professor, e Rodrigo Titericz, o Presidente. O debate foi sobre a unificação dos títulos nacionais de futebol e o episódio 39 já está disponível a quem quiser assistir e participar do sorteio de um exemplar autografado do livro "Contos da Bola". 

Veja também:

Este tema eu já havia abordado aqui neste blog, ainda no início de 2010, quando havia já uma movimentação dos clubes pelo reconhecimento das conquistas da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, como Campeonato Brasileiro, mas a CBF ainda não tinha decidido o que fazer. Clique aqui e leia o que escrevi em 2010, com recente atualização do texto e da lista de campeões.

O papo foi muito bacana, houve um entrosamento rápido e me senti muito à vontade. Participei ainda do quadro "VAR retrô", uma ideia espetacular do trio titular do programa, sobre um lance que ocorreu na final do Campeonato Brasileiro de 1974, entre Vasco e Cruzeiro. 

Acabei sendo novamente convidado a retornar nesta quarta-feira, dia 12, para o episódio 40, para tratar de um assunto muito sério e importantíssimo que detalharei na próxima semana quando ele for ao ar, no dia do meu aniversário. Você sabe quando é?

Assista abaixo o "Comendo a Bola 39" e deixa sua curtida lá na página do programa no Youtube até o dia 19 de julho, próxima quarta-feira, para participar do sorteio. 

Veja também:
Alguns jogos que faço questão de recordar
Das peladas de rua às arenas
Setenta vezes Maracanã
Papo no "Geraldinos de Arena"

quarta-feira, 5 de julho de 2023

LEIS DO RELATIVISMO

E cá estamos nós mudando pouco para nada mudar. No fim e no fundo de tudo dessa diária e insana guerrilha político-social, oportunistas e fanatizados de direita relativizam as tiranias mais sangrentas de direita, e oportunistas e fanatizados de esquerda relativizam as tiranias mais sangrentas de esquerda. Todos, repletos de emoções, a querer deter a razão, porque ela só pertence a eles, os do lado de lá estão no reflexo do espelho, embora ninguém perceba ou vire a cara para não ver. Eis as leis do relativismo.

Olhar-se, perceber-se, sentir-se, questionar-se? Jamais, em tempo algum. Sartre já dizia, virou até clichê, muito mais por ser tão pouco ou mal praticado: "O inferno são os outros".

E seguimos rastejando como sociedade, moribunda, malfazeja e andrajosa, com a gritaria na ordem do dia, da tarde, da noite e da madrugada, quando o quase silêncio permite que se propaguem com mais facilidade as suas mini e maxi certezas embriagadamente (não necessariamente de entorpecentes ou álcool, há drogas de todos os tipos para mentes e corações fragilizados e ingênuos, mesmo que travestidos de fortes e antenados). 

O mundo, em particular aqui mesmo onde vivemos, vai assim se tornando uma incomensurável rede social emaranhada de gente cega, surda e tagarela. Uma lástima completa. 

"A spider wanders aimlessly within the warmth of a shadow
Not the regal creature of border caves
But the poor, misguided, directionless familiar
Of some obscure Scottish poet"
(Bitter suite, de Derek William Dick, mais conhecido como Fish)

"Que grande sombra
nos impede de ver,
Que grande força
nos impele a obedecer,
Que gigantesca teia
nos aprisiona
sem que se possa perceber?"
(A teia, de Eduardo Lamas Neiva)