sábado, 26 de novembro de 2016

POESIA CANTADA: SALVAÇÃO E PERDIÇÃO

Sem muito papo desta vez, pois já me expliquei demais. Aí vai mais uma poesia cantada em ritmo blues.


SALVAÇÃO E PERDIÇÃO
(Eduardo Lamas)

Nesta noite eu choro
Não posso salvar
uma alma perdida de si
só tenho potência pra me salvar
das minhas mediocridades, limitações
e desejos de salvação

Vejo no olhar baço, fugidio,
a desesperança, a auto-vingança
E tudo que faço é buscar
ora em vão, outras não,
aquilo que me amansa

Nada, nada, nada
que me faça perder
de vista
a longa e sinuosa estrada
me fará parar agora

Porém é preciso seguir com
o olhar generoso e atento
pra não despencar do penhasco
que sempre aparece
depois de uma curva fácil.

Veja também:
O caminhante
"Cor própria", o primeiro que veio a ser o quinto
"Contos da bola": quem lê recomenda
"Sutilezas", amor, paixão e surpresas

sábado, 19 de novembro de 2016

POESIA CANTADA: CHORO REPRESADO É SINAL DE CHUVA

Ao começar essa série de vídeos com "Que me diz você?" - e depois com ""O rio" entrelaçado à "Sequidão"" - tive o cuidado de explicar os meus objetivos e deixar claro que não sou músico, cantor, nem ator, diretor, muito menos videomaker. Mas talvez tenha deixado escapar algo que, por me incomodar, vou corrigir aqui, antes de apresentar "Choro represado é sinal de chuva". Disse que criei melodias para as poesias que já tinha escrito e em determinados momentos chamei de música. Creio que na verdade não, ainda não são, se é que um dia serão. São na verdade poesias cantadas, que entendi ficarem melhores do que declamadas, algo que nunca soube bem fazer, mas que mesmo assim me arrisquei com "O Rio", fabulosa poesia de João Cabral de Melo Neto que ainda ousei editar e misturar aos versos "melodiados" de "Sequidão".

Não vou editar os vídeos em que chamei de música o que fiz - talvez nem os que já estão gravados e ainda não postei em lugar algum -, mas fica aqui registrado então o que creio ter feito. Mal ou bem cabe a você; a mim, continuar com as poesias cantadas. Acredito que, como já escrevi anteriormente, as palavras, os versos e a própria poesia ganharam novas cores, sentidos, força, entonações e entoações com a melodia que cada uma recebeu. O que você acha?

Aí abaixo vai uma poesia que abre um dos capítulos do romance "O negro crepúsculo" e que já havia publicado aqui (retirada posteriormente) e no Jornal Portal, e que para minha surpresa renasceu com um ritmo de samba. Vamos lá, em breve vem mais.


CHORO REPRESADO É SINAL DE CHUVA
(Eduardo Lamas)

Lágrimas represadas
choro que não vem
horizonte que se aproxima
pingos d’água pisoteiam o chão

Lava terra, lava alma
ar em rebuliço
corpo em polvorosa
um sem espaço
que se ocupa
imensidão que se reduz

Um oceano inteiro
no brilho de uma gota
que me afoga pela boca
um mundo inteiro
no esfarelar de uma pedra
que me enterra pelo peito


Veja também:
Filipe Catto entre cabelos, olhos, furacões
Entrevista: Nilze Carvalho
"O negro crepúsculo" saiu em papel
"O negro crepúsculo", um trabalho de 11 anos

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

PENSO,LOGO SINTO 27

O pior câncer do Brasil são os roubos feitos dentro da lei, de regulamentos, regimentos, normas, muitas vezes aprovados pelos próprios beneficiados. Refiro-me a todo tipo de mordomia, ganhos astronômicos, bolsas e auxílios extras (a parentes e amigos, inclusive), casas e apartamentos oficiais, carros, aposentadorias especiais, concedidas fartamente nos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) em municípios, estados e na federação e em empresas e órgãos públicos. É o pior câncer, porque é o mais difícil de extirpar, pois está enraizado na lei e na cultura da boquinha, do fisiologismo, do nepotismo, do cinismo e da hipocrisia. Esta é a verdadeira e duradoura crise deste país doente.

Para não dizer que não falei das flores, um ótimo e raríssimo exemplo do que deveria ser a regra: http://www.tribunadainternet.com.br/reguffe-do-pdt-abre-mao-de-todas-as-regalias-de-senador/

Veja mais:

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

POESIA CANTADA: QUE ME DIZ VOCÊ?

Versos sempre escrevi e ousei publicar por aí, em papéis diversos, reais e digitais, onde as portas se abriram e entrei com todo respeito e educação. Onde fecharam, dei as costas e parti. Mas é com igual respeito, educação e amor que peço licença à musa Música para adentrar em seu maravilhoso recinto. Chego devagar, mas com certa audácia, pois não sou cantor e não toco sequer um instrumento. 

E peço desde já desculpas pela maneira como chego, não tão bem arrumado para a ocasião e com alguma fome e sede, mas - tenho a certeza - com a dignidade que não falta a quem um dia foi impelido a escrever e agora desandou a melodiar os versos seus. Eu, os meus. Isso mesmo, eu!

Veja também:


Parece absurdo, mas não é tanto assim. Afinal, venho de uma família com músicos, antepassados e presentes, e de muitos amadores da Musa Música. Nada mais natural que ela brote dentro de mim como os versos tantos que já publiquei. Uni um ao outro, de forma sutil e agradável. 

Enquanto atravessava um longo deserto, nasceram 16, 17. A aridez que me deu esses oásis sonoros para suportar melhor a longa e árdua jornada está chegando ao fim, e meus pés lanhados, com o solo do meu peito rachado, como relato em "Sequidão", estão cicatrizando aos pouquinhos.

Aqui, pergunto "Que me diz você?", pois dizer já disse e continuarei dizendo. Até cantando, mesmo sem ser cantador, mesmo sem ter um instrumento que me acompanhe. Estou quase solitário, como caminhei pelo deserto. Quase, porque amor não me faltou (nem me falta) para receber e dar também. 

E meu amor esteve de mãos dadas comigo o tempo todo. Foi o sentimento-mór, o alimento diário que me proporcionou a força necessária para estar aqui depois de tantas pedras, dos mais variados tamanhos, vendavais, tempestades de areia. As intempéries, inesperadas em sua maioria, também me deram incomensuráveis forças. Portanto, agradecê-las-ei - sem temer - também.


QUE ME DIZ VOCÊ?

Que me diz você mais do que a morte,
a ressurreição e sua dança,
o aspirar um novo ar,
o banhar a alma
com uma chuva quente,
o respingar de gotas cintilantes,
todo ser em harmonia,
o libertar o corpo
de amarras invisíveis
E senti-lo crescer
Sem sair do lugar?

Apenas luta sem trégua,
Guerra civil do ser
sem fins, sem meios,
sem terras, sem gritos de liberdade,
Cadeias ou fugas,
Tronos ou poder;

Apenas a vida
pulsando na pele,
No coração e na mente,
Sem dispersão,
Tudo fluindo e confluindo,
Se expandindo e condensando
E vibrando, tremeluzindo
Rumo à essência do ser.

Veja também:
Um tanto de grandeza e muito de coragem
É preciso respeitar a dor do universo
Nau Poesia: Esperar pelo sol
"Atrasado", um conto em ebook