segunda-feira, 27 de julho de 2020

MÚSICA PRA VIAGEM: AWAKEN

Embora não seja dos álbuns mais conhecidos do Yes, "Going for the one", o sétimo da banda inglesa, lançado em 1977, é do que mais gosto. E "Awaken", a música que fecha o disco, é sem dúvida alguma uma das melhores da banda inglesa. Para Jon Anderson, cantor do grupo e compositor desta obra juntamente com o ótimo guitarrista Steve Howe, é o que de melhor o Yes fez em sua longa e gloriosa carreira.

Há muito tempo não ouvia nada de "Going for the one" até que, há mais ou menos duas semanas, descobri este vídeo abaixo nas minhas viagens pelo YouTube e fiquei maravilhado, verdadeiramente emocionado. Nesta versão, um extasiado e extasiante Jon Anderson se apresenta em Reykjavik, em 2013, com o grupo islandês Todmobile, uma grata surpresa para mim, acompanhados de coro e orquestra da Islândia. É tudo tão bonito e bem feito que não pude deixar de assistir ao show inteiro depois e ainda o que esses islandeses espetaculares fizeram com Steve Hackett (ex-guitarrista do Genesis) e a SinfoniaNord. Recomendo muito tudo isso. Comece por aqui.
    

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A Cruzada das Crianças
Músicas que nos fazem viajar 5: Cais
É preciso respeitar a dor do universo

sexta-feira, 24 de julho de 2020

POESIA CANTADA: "O RIO" ENTRELAÇADO À "SEQUIDÃO" *

Quando resolvi gravar em vídeo as melodias que criei para poesias que já havia escrito, meu objetivo maior era mostrar para aqueles que já acompanham e admiram o meu trabalho - e para os que possam vir a gostar dele - como as palavras que já havia juntado e publicado aqui e ali ganharam mais cor, mais vida, outros sentidos até. E fiz em vídeo por ter mais visibilidade - algo mais que uma obviedade - e porque só o áudio não sei como publicar nas redes sociais.

Portanto, estar à vontade ou não perante à câmera do meu celular, erguido e preso por livros e apetrechos ao lado do monitor do meu computador, ter a imagem e a iluminação perfeitas e mostrar a música de uma forma mais correta, com métricas, melodias mais elaboradas, instrumentação, harmonia, arranjos... Nada disso foi - e nem será - prioridade neste caso específico. Mais à frente, caso haja interesse de músicos, atores, cantores, diretores, produtores etc, aí sim pode vir a ser.

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Aqui, cometi mais algumas ousadias, além das já citadas. A primeira foi pegar versos de um poeta que dizia não gostar de música, editá-los na primeira estrofe de uma poesia que adoro há muitos anos: "O rio". João Cabral de Melo Neto é um dos meus favoritos e, apesar de ter sido avesso à música, teve "Morte e vida severina" musicada por Chico Buarque. 

Não criei melodia para os versos escolhidos de "O rio", que relata poeticamente o curso do Capibaribe, da nascente, na Serra do Jacarará (referência que preferi retirar dos primeiros versos), ao mergulho no mar, no Recife. Entrelacei-o - como serpente que os rios também são - aos versos cantados de "Sequidão", poesia que já havia publicado neste blog (retirada tempos atrás), e que precisei mexer minimamente para encaixar na melodia.

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Gostei muito do resultado deste entrelaçamento, por isso o apresento aqui e no YouTube. E mais vou gostar, quando os sons de viola, rabeca, flauta (ou pífano), vocais e percussão que estão na minha cabeça inundarem a "Sequidão". 

Como disse a um amigo recentemente, cheguei a um estágio da minha vida em que - embora sejam mais do que bem-vindas e, por isso mesmo, as busque sempre num primeiro momento e depois também - se as parcerias, interações e interdependências não se concretizam, faço eu mesmo sozinho, com minhas limitações e minhas verdades. Não permitirei mais que meu caudaloso rio seja barrado por diques imaginários. Nunca mais!




Abaixo você ouve a versão que foi ao ar na estreia do podcast Lamascast, com música gentilmente cedida na abertura de Hugo Linns.



O RIO
(João Cabral de Melo Neto)

"Sempre pensara em ir
caminho do mar.
Para os bichos e rios
nascer já é caminhar.
Eu não sei o que os rios
têm de homem do mar;
sei que se sente o mesmo
e exigente chamar...

"... Desde cedo que me lembro,
lembro-me bem de que baixava
entre terras de sede
que das margens me vigiavam.
Rio menino, eu temia
aquela grande sede de palha,
grande sede sem fundo
que águas meninas cobiçava.
Por isso é que ao descer
caminho de pedras eu buscava,
que não leito de areia
com suas bocas multiplicadas.
Leito de pedra abaixo
rio menino eu saltava.
Saltei até encontrar
as terras fêmeas da Mata.

Por trás do que lembro,
ouvir de uma terra desertada,
vaziada, não vazia,
mais que seca, calcinada".

SEQUIDÃO
(Eduardo Lamas)

Caudaloso rio
barrado de repente
por um dique imaginário

Rio perde todo
o seu viço
como a flor
que da manhã
pra tarde
vê as pétalas ao chão
como as folhas
que perderam seu tom vivo
despencam brincando
pelo ar
e pousam como aves
sedentas e suaves
na parca e ardente poça
que ainda não evaporou,
evaporou, evaporou...

Algo se refugiou de mim
Algo se refugiou de mim
Evaporou, evaporou
Sequei
Sequei
Sequei

Quando as solas
de meus pés racharam
a aridez invadiu e
recortou o solo
do meu peito
o ar pesou
e ressecou minha garganta
meus lábios lanharam
e o suor da madrugada
encharcou, inundou
o meu lençol.

O RIO
(João Cabral de Melo Neto)

"De onde tudo fugia,
onde só pedra é que ficava,
pedras e poucos homens
com raízes de pedra, ou de cabra.

Lá o céu perdia as nuvens,
derradeiras de suas aves;
as árvores, a sombra,
que nelas já não pousava.
Tudo o que não fugia,
gaviões, urubus, plantas bravas,
a terra devastada
ainda mais fundo devastava".

* Publicado aqui originalmente em 2016.

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quarta-feira, 22 de julho de 2020

MÚSICA PRA VIAGEM: ON THE RUN

Longe de ser a melhor música do histórico álbum "The dark side of the moon", "On the run" merece de mim uma atenção mais do que especial por razões pessoais que explicarei abaixo e também pelo título desta série. Esta composição de David Gilmour e Roger Waters nos primeiros experimentos com a música eletrônica, registrados no filme "Live at Pompeii", de 1972, foi a que ficou guardada em minha memória até eu ter a noção do que era o Pink Floyd e o quanto este grupo representaria em minha vida.

Em meados dos anos 70, toda sexta-feira à noite eu e meu irmão subíamos para o apartamento de um amigo no prédio em que morávamos num bairro da zona norte carioca para jogar War, assistir As Panteras e ouvir discos, quase sempre Pink Floyd e Elton John, respectivamente artistas prediletos da irmã deste amigo e de uma amiga dela que quase sempre estava lá. "On the run" era o ápice do terror para mim, mas não guardei o nome da música, nem do grupo, nem do álbum, apenas ficaram em minha mente aqueles sons em que imaginávamos um avião em seu percurso e sua queda, com aquela gargalhada histérica de fundo, e a capa, emblemática capa.

Só no início dos 80, quando fui me ligar mais em roquenrol, é que me dei conta do que se tratava. E com o tempo, o Pink Floyd passou a ser o grupo que mais gosto. Por isso, outras músicas da banda aparecerão nesta série. Aguardem!  



Veja também:
Esquizofrenia e Arte no LamasCast 4
Roger Waters setentão
Os bichos vão se rebelar
Os muros
Músicas que nos fazem viajar
Músicas que nos fazem viajar 2

segunda-feira, 20 de julho de 2020

MÚSICA PRA VIAGEM: CÁLICE

A letra de "Cálice", música gravada no disco "Chico Buarque", de 1978, me impressionou desde a primeira vez que a ouvi, no fim da minha infância. Embora eu pouco entendesse na época o que vinha ocorrendo no país, pude sentir logo a força da letra e da forma como a composição com Gilberto Gil é cantada por Chico, seu co-autor, e (novamente) Milton Nascimento (que vai aparecer várias vezes nesta série, é inevitável). Creio que foi ali, juntamente com "Construção", embora esta tenha sido gravada bem antes, em 1971, que aprendi o que é poesia. 

Uma lástima que tantos queiram que a gente retorne aos anos de chumbo, das trevas, qualquer que seja o nome que se dê a monstruosidades, imbecilidades e ignorâncias. É veneno para curar ódio, é excremento para tirar mau cheiro, é gasolina para apagar incêndio. Cale-se!



Veja também:
Os sopros mágicos de Carlos Malta
LamasCast ao mestre Saramago
É preciso respeitr a dor do universo

sexta-feira, 17 de julho de 2020

BNDES DEIXA EDITAL CADUCAR E DESRESPEITA PRODUTOR DE CINEMA

Que o atual desgoverno tem como uma de suas marcas registradas o desrespeito fica até cansativo dizer, diante da gigantesca lista de absurdos cometidos desde (ou até mesmo antes) da posse em janeiro de 2019. Ontem soube de mais um que me atinge diretamente: o edital do BNDES para financiamento de 22 produções cinematográficas, cujo resultado deveria ter saído em dezembro de 2018, caducou. Quem investiu seu tempo e dinheiro para trabalhar na montagem e na inscrição de seus projetos que se dane, claro.


Não que isso tenha me surpreendido, pois vinha acompanhando o processo, principalmente durante o ano passado, e já era evidente o seu final, tanto que fiquei um bom tempo sem voltar ao site do BNDES e só ontem soube que o aviso foi publicado em 29 de abril. Sem qualquer justificativa, embora saibamos bem os motivos. O fato de saber qual seria a conclusão deste episódio não reduz a minha indignação. Pelo contrário. Falo por mim e por todos os produtores culturais e artistas que vêm sendo achincalhados, pisoteados e chamados de vagabundos pelas mentes doentias e perversas desta aberração que está no poder. 

Está mais do que evidente que a diretoria do banco deixou intencionalmente o prazo de 18 meses se expirar para que o edital perdesse a sua validade. Um completo descaso com profissionais da área cinematográfica, especificamente, e do setor cultural, de uma forma geral. E uma ignorância tremenda quanto à importância da indústria cultural para a Economia do país. 

Tinha inscrito neste edital um documentário, em parceria com uma produtora do Rio de Janeiro e mais uma equipe de técnicos, músicos, roteirista etc. Isso não derruba o nosso sonho e creio que o de nenhum dos demais inscritos, pelo contrário, fortalece até. 

Por mais que tente, este desgoverno não conseguirá destruir o país e sua Arte e Cultura. O futuro de muitos dos que estão hoje no podre poder será tão tenebroso quanto as suas palavras e ações. É só uma questão de curto tempo. Isto não é praga rogada, mas uma das mais antigas leis do Universo: colhe-se o que se planta.