Conheci O Terno por intermédio de Tim Bernardes. E fui apresentado a ele, há uns dois anos, por uma sugestão de alguém ou do próprio YouTube, já não me recordo, para ouvir, ver, a surpreendente mistura de Black Sabbath com Belchior que ele apresentou no programa "Cultura Livre", da TV Cultura. O que ele faz com piano e voz em "Changes" (Geezer Butler, Tony Iommi, Ozzy Osbourne e Bill Ward), e "Paralelas" (Belchior), como se fosse uma música só, me arrebatou de primeira. Daí para ir em busca de mais trabalhos e entrevistas e informações foi menos que um pulo. Portanto, ficar sabendo do grupo era inevitável. Gostar, ainda mais.
Alguém pode perguntar, então: por que "Pegando Leve" e não outra, "Recomeçar", por exemplo? Primeiro, porque é mais do que merecida, como seria a outra citada, mas esta retrata muito bem em sua letra nossos caóticos dias numa melodia muito, muito bonita. Segundo, porque ela entrou de surpresa na trilha sonora do nosso (meu e de minha mulher) sábado à noite, quando o tema de nossa conversa era justamente do que trata a letra, especialmente aqui: "Eu tô pegando leve, tentando descansar, meu nível de estresse ainda vai me matar". Curtaê, vale muito.
Iniesta arremata para fazer o gol do título mundial da Espanha, em 2010, na final contra a Holanda
João Sem Medo, ainda indignado com os 7 a 1 da Alemanha sobre
o Brasil em 2014, prossegue o seu raciocínio sobre os problemas do futebol
brasileiro.
João Sem Medo: - Nos anos 90, quando eu já não podia mais estar fisicamente
para denunciar os crimes que estavam cometendo com o nosso futebol, passamos a
imitar o antigo estilo europeu, mais pragmático, frio, sem jogo de cintura. E os
alemães e os espanhóis passaram na década seguinte a nos imitar desde as
divisões de base. Pegaram nossas melhores características e começaram a ensinar
nas escolinhas de futebol de lá aos seus garotos. Com o tempo, com a
organização que eles têm e nós não temos, mudaram sua forma de jogar.
Principalmente a Alemanha, que sempre teve grandes jogadores, mas era mais dura
de cintura.
Garçom: - Prefiro o jogo da Alemanha do que o
da Espanha.
João Sem Medo: - Essa Espanha que ganhou em 2010
parecia o Bolero de Ravel, sempre a mesma coisa. Mas tinha um cracaço de bola,
o Iniesta.
Sobrenatural de
Almeida: - Em 2010
estive na África do Sul.
Ceguinho Torcedor: - Aquele gol da Holanda sobre nós,
com Júlio César e Felipe Melo, que jogaram juntos no Flamengo, batendo cabeça,
só pode ter sido obra do Além.
Sobrenatural de
Almeida: - Mas me
redimi, e os holandeses tiveram de amargar o terceiro vice mundial.
Ceguinho Torcedor: - Aquele futebol da Espanha era igual
ao tico-tico no fubá do América dos anos 50.
João Sem Medo: - Concordo com você, Ceguinho. Curioso
que o Zagallo disse o mesmo da Holanda, em 74. E não tinha nada disso. Era um
time de jogadores muito inteligentes e Cruyff foi um dos maiores que vi jogar.
Sobrenatural de
Almeida: - Em 74,
não gostei daquele futebol em que ninguém tinha posição fixa. Então, achei
melhor a festa ficar em casa, com os alemães.
João Sem Medo: - Aquela seleção espanhola de 2010 era mesmo o tico-tico no
fubá, cheio de toques pros lados. Não fosse o Iniesta...
O
grupo que fica no palco aproveita a deixa da conversa e toca o choro “Tico-tico
no fubá”, de Zequinha de Abreu.
Músico: - Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de
Abreu, não tem nada a ver com o América, nem com futebol, mas como vocês
citaram...
João Sem Medo: - Ah, e essa música é a cara do
futebol brasileiro. O nosso jeito moleque, alegre, criativo de jogar.
Músico: - Peço perdão aos senhores, pois
sabem muito mais de futebol do que eu, mas o chorinho ilustra muito bem o nosso
estilo de jogo.
João Sem Medo: - Sem dúvida. O estilo que nos
consagrou no mundo todo e que temos abandonado.
João Saldanha: - Quais jogadores brasileiros hoje
sabem driblar?
Os outros: - Ah, poucos, quase nenhum.
João Sem Medo: - O Neymar, mais uns dois ou três e
olhe lá.
Ceguinho Torcedor: - Mesmo assim ainda acredito que é
no Brasil que se produzem os melhores jogadores do mundo. Ainda somos os
maiores do mundo! Quem não pensa assim é porque tem complexo de vira-lata.
Garçom: - Já que estão falando sobre o drible, lembrei de uma música muito boa, do Chico César. Vou botar aqui pra
todos ouvirem.
Zé Ary vai ao notebook e põe nas caixas de som “Drible”, de
Chico César e Zezo Ribeiro (clique aqui pra ouvi-la).
Modificado e republicado em 18 de setembro de 2024
Fim do Capítulo #17
Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país. Saiba mais clicando aqui.
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Quando foi lançada, quase todo mundo que eu conhecia achava que o nome desta música era "Coração alado", até por causa da novela que era aberta com versos avassaladores na voz marcante de Fagner, lá no fim dos anos 70. Mas fui descobrir um tempinho depois, quando na casa de um amigo ouvi muitas e muitas vezes o disco "Beleza", de 1979, que o nome verdadeiro é Noturno. E só agora, quando fui escrever este texto é que soube que ela foi composta pelos irmãos Graco e Caio Silvio. Num país que dá pouco valor aos compositores, a não ser que sejam também cantores, ainda assim nem sempre, embarquei na ignorância por cerca de 43 anos.
"Beleza", que eu nem sabia também que tinha este nome (eu me recordava apenas da capa), é já o quinto álbum da carreira repleta de sucessos de Fagner. O cearense de Orós, pertencente ao Pessoal do Ceará, do qual o grande Belchior fez parte, gravou muitas músicas antes que caíram no meu gosto de criança noveleira e apaixonada por rádio que eu era. E "Noturno" foi uma das principais. Vamos ouvi-la novamente?
Com a bola na rede, Gighia começa a comemorar o gol da vitória uruguaia contra o Brasil em 1950
O papo sobre a Copa de 50 com toda comoção é revivida por
aqueles que puderam presenciar e participar dos dias de festa até o silêncio
final. Jorge Goulart, então, volta ao palco e toma a palavra.
Jorge Goulart: - Aquela Copa de 50 foi
realmente uma grande festa antes da final. O Lamartine, que ali está (todos
aplaudem), fez outra marcha que poderia ter sido o hino do primeiro título
mundial do Brasil, se não perdêssemos pro Uruguai. Vou cantar aqui a
"Marcha do Scratch Brasileiro" que homenageia também o estádio
Municipal, como era chamado a princípio o Maracanã.
Jorge Goulart é aplaudido, assim como Lamartine Babo, que
numa das mesas próximas ao palco se levanta para cumprimentar o público.
Jorge Goulart continua no palco, enquanto o público o
aplaudia e também Lamartine Babo.
Jorge Goulart - Agora vou chamar ao
palco a Linda Batista pra cantar outra música feita pra Copa de 50.
Linda se encaminha pro palco aplaudidíssima.
Linda Batista (no palco) – Obrigada, gente. Uma pena não termos ganhado daquela vez,
né? Mas tive a felicidade de gravar este samba do Ary Barroso, que ali está e também
merece muito os nossos aplausos.
Todos aplaudem Ary Barroso.
Linda Batista: - Vamos lá!
Mais aplausos.
Sobrenatural de
Almeida: - É, a
festa foi boa, mas a euforia foi demais também. O clima de já-ganhou não me
agradou.
Ceguinho Torcedor: - Então, foi você?
Sobrenatural de
Almeida: - Não, foi
o Obdulio Varela, o Gighia, o time uruguaio. Eu só dei um empurrãozinho, sem
querer. Aquele discurso do general Angelo Mendes de Morais, pouco antes de a
bola rolar, me deixou revoltado.
Idiota da Objetividade: - O general Angelo Mendes de Morais era o prefeito do
Distrito Federal, ou seja, o Rio de Janeiro, então capital do Brasil.
Ceguinho Torcedor: - Com uma euforia desmedida, o general disse pouco antes do
jogo que os brasileiros eram os futuros campeões mundiais...
Zé
Ary imediatamente põe nas caixas de som o trecho citado por Ceguinho Torcedor
do discurso de Ângelo Mendes de Morais, da tribuna de honra do Maracanã.
Vaias e protestos da plateia são ouvidos.
Sobrenatural de Almeida: - Futuros mesmo, só oito anos depois...
João Sem Medo: - Nesse discurso ele também disse que tinha dado o estádio
para a realização da Copa do Mundo, então que era a vez de os jogadores darem o
título mundial para o Brasil. O general pressionou ainda mais os jogadores
brasileiros, ao mesmo tempo em que já cantava a vitória.
Ceguinho Torcedor: - Amigos, em 50, na véspera de Brasil x Uruguai,
encontrei-me com o famoso “speaker” Gagliano Netto e perguntei: “Quem ganha?”
Eis uma resposta triunfal: “Brasil 8 a 0” Vocês entendem? Ele não fazia por
menos – tinha de ser 8 a 0. Pode parecer que era um caso de delirante otimismo
individual. Absolutamente, milhões de pessoas achavam assim. E o Brasil perdeu!
Dirá o Idiota da Objetividade que foi o Uruguai que nos venceu...
Idiota da Objetividade: - ... E não foi?
Ceguinho Torcedor: - Não. O que nos venceu foi o favoritismo total. Contra a
Espanha, temíamos. E porque havia medo, um mínimo de medo, goleamos. Seis a um,
foi o resultado final. Veio de Brasil x Uruguai o meu horror ao favoritismo.
Sobrenatural de Almeida: - Foi muita falta de respeito com os uruguaios. Aí, quando
o Gighia penetrou pela direita e chutou, acabei fazendo a bola ir um pouco mais
rápido e quicar na frente do Barbosa.
João Sem Medo: - Quando os políticos se metem no
futebol acontece isso...
Garçom: – E o Sobrenatural...
Sobrenatural de
Almeida: - ... de
Almeida. Hahaha
Ceguinho Torcedor: - Você bem sabe o quanto a política
prejudica o futebol, né, João? Não escalou o Dario, como queria o Médici...
João Sem Medo: - Dario era um bom jogador, mas eu
tinha Tostão, Jairzinho, Roberto Miranda, Coutinho, Toninho Guerreiro. Se eu
quisesse trombador, aí eu poderia buscar o Dario, ou o Flávio, do Corinthians,
o Alcindo, do Grêmio. O presidente escalava o Ministério dele e eu escalava o
meu time.
Ceguinho Torcedor: - Esta frase te derrubou, João.
Ceguinho Torcedor: - Foi um dia muito triste pro futebol brasileiro.
Muito triste.
Idiota da Objetividade: - Foi uma tragédia aquela
derrota de 2 a 1 para o Uruguai. Os uruguaios chamam aquela vitória em 1950 de
Maracanazzo até hoje.
João Sem Medo: - E a imprensa daqui
exagera. Chamaram a derrota de 3 a 2 para a Itália em 82 de Tragédia do Sarriá.
Garçom: - Mal sabíamos o que
estava por vir...
Sobrenatural de Almeida: - O Mineiraço, em 2014.
João Sem Medo: - Isso sim foi uma
tragédia. Levar de 7 a 1 em casa, numa semifinal de Copa do Mundo, é o fim do
mundo. Mas parece que tudo foi só um apagão.
Quase em coro, muitos
presentes pensaram alto: "Pois é..."
Modificado e republicado em 17 de setembro de 2024
Fim do Capítulo #16
Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país. Saiba mais clicando aqui.
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Esta é daquelas que canto sempre em casa, embora a letra completa eu nunca consiga decorar. "Então, senti que o resumo é de cada um, que todo mundo deságua em lugar comum..." e depois vem um laialálálá até "quando desespero vejo muito mais. Esta canção me rói feito um mistério, essa tristeza dóóóóiiii, meu fingimento é sério...". Aqui, nesta série não tão frequente quanto eu gostaria, o Boca Livre certamente também vai aparecer muitas e muitas vezes, tantas são suas obras-primas, de própria autoria ou cantoria.
É uma experiência fascinante ouvi-los, desde os tempos em que Claudio Nucci fazia parte do grupo, posteriormente substituído à altura por Lourenço Baeta. O lamentável foi o grupo ter chegado praticamente ao fim com as saídas de Zé Renato, Lourenço Baeta e David Tygel por divergências políticas com Maurício Maestro, detentor do nome do grupo.
Mas o papo aqui é "Feito mistério", de Lourenço Baeta, que não fazia parte do grupo ainda quando a música foi gravada, e o poeta Cacaso. Desta feita também resolvi apresentar duas versões: uma ao vivo, com a participação de Rodrigo Maranhão, e outra na gravação original do LP de estreia do grupo, lançado em 1979, e que tinha em minha coleção quando morava no Rio de Janeiro.
O goleiro Ramallets olha a bola no fundo das redes num dos dois gols de Ademir Menezes na vitória de 6 a 1 do Brasil sobre a Espanha, na Copa de 50. Bigode (6) e Friaça (7) também aparecem na foto
Com o fim da música “Pacaembu” nas caixinhas de som, muitos
aplausos. Antes que cessassem, Idiota da Objetividade é ligeiro e retoma a
pelota.
Idiota da Objetividade: - Além do Pacaembu, também houve
partidas no Estádio dos Eucaliptos, em Porto Alegre; no Durival de Brito, em
Curitiba; na Ilha do Retiro, no Recife; no Independência, de Belo Horizonte, e,
claro, no Maracanã, construído especialmente para aquela Copa, a primeira
depois da Segunda Guerra Mundial.
Sobrenatural de
Almeida: - Ah, lá no
Independência eu aprontei a maior zebra da História: Estados Unidos um,
Inglaterra zero.
Idiota da Objetividade: - Mas nenhum dos dois times se
classificou para a fase final. A classificada no Grupo 2 foi a Espanha.
Todos (de
pé, alegremente, brindando): - “Eeeeeeeeu fui às touradas de Madri, pararatibum-bum-bum,
pararatim-bum-bum-bum”!!!
Enquanto a turma toda canta, dança e batuca a marchinha gravada
12 anos antes por Almirante e a Orquestra Odeon, e que fez muito sucesso em
1949, com Carmen Miranda, a Pequena Notável voltava ao palco, desta vez com
João de Barro, o Braguinha, e ambos são muito aplaudidos. O público não para de
cantar o refrão de “Touradas em Madri”, até que Braguinha pega o microfone para
se dirigir aos presentes.
Braguinha: - Muito obrigado, minha gente. Naquele dia eu chorei na
arquibancada do Maracanã. Chorei de emoção. E se vocês não pararem eu vou
chorar novamente.
Todos
riem e o aplaudem. A música começa e todo mundo em pé canta e dança junto com
Carmen Miranda e Braguinha. Uma festa completa.
Ao fim, a ovação é enorme. Carmen Miranda e Braguinha deixam
o palco, sendo cumprimentados e cumprimentando quem estivesse pela frente. Zé
Ary se apressa e anuncia.
Garçom: - Vou localizar aqui no nosso rádio do tempo a narração do Antônio
Cordeiro, da Rádio Nacional, justamente naqueles minutos finais de Brasil e
Espanha. Dá pra ouvir um pouco o público cantando ao fundo.
Ceguinho Torcedor: - Agora o Braguinha vai chorar lágrimas de esguicho!
Garçom: -
Achei! Aqui está!
Todos ficam emocionados, o público aplaude, volta a cantar, e Braguinha
chora copiosamente de novo, como se estivesse outra vez na arquibancada do
Maracanã. É abraçado por amigos e louvado por todos:
“Braguinha, Braguinha, Braguinha...”
Ceguinho Torcedor: - Que dia, que espetáculo, que goleada,
que maravilha aquele povo todo no Maracanã cantando e a seleção dando um baile
na Espanha...
João Sem Medo: - Um dia muito especial pro nosso futebol, sem dúvida alguma.
Músico(no palco): - E pra nossa música também, seu João.
João Sem Medo e os demais concordam. Após a euforia, alguns
devem ter se lembrado do que ocorreu no jogo seguinte e se aquietaram. Zé Ary
não deixou a bola cair e pediu que os amigos seguissem em frente no bate-papo.
Idiota da Objetividade: - Esse jogo contra a Espanha foi o
segundo da seleção brasileira na fase final da Copa do Mundo de 1950. No
primeiro jogo, uma goleada ainda maior: 7 a 1 sobre a Suécia.
Sobrenatural de Almeida: - No dia em que a seleção brasileira derrotou a
Espanha por 6 a 1, tinha de 152 mil pagantes no Maracanã. Pagantes e
delirantes. Assombroso! (dá sua risada medonha)
João Sem Medo: - Tinha muito mais gente. Umas
duzentas mil. Tinha gente saindo pelo ladrão.
Todos
concordam. Houve quem dissesse: “Muito mais até!”
Modificado e republicado em 11 de setembro de 2024.
Fim do Capítulo #15
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O relançamento do livro, publicado originalmente há 56 anos, foi uma merecidíssima homenagem ao Sr. Said. E tenho muito orgulho de ter dado o pontapé inicial, mesmo que involuntariamente, deste projeto e podido contar a história desta minha participação num dos prefácios da obra.
Carlos Said e Fernando Gustav no lançamento do livro "O Piauí no futebol"
Na verdade, tudo começou com meu avô Thomé, que passou a bola (ou melhor, o livro) para mim, provavelmente nos anos 80, e eu toquei para o meu amigo e parceiro Fernando Gustav, que brilhantemente concluiu a gol com o auxílio luxuoso de Gustavo Said, seus irmãos Fernando, Claudio, Soraya e Rochele e demais familiares do Magro de Aço. Uma viagem no tempo e no espaço que conto numa das primeiras páginas do livro e tomo a liberdade de reproduzir abaixo.
As voltas que o mundo dá
As extraordinárias voltas que o mundo dá. Bem poderia ser este o título deste relato. Como poderia eu imaginar que um livro guardado há tantos anos, com tanto afeto, com um valor sentimental tão forte para mim, pudesse me ligar a uma terra tão distante, onde sequer tive o prazer de passar perto, por intermédio de meu saudoso avô materno, Thomé de Souza Lamas, 35 anos após seu falecimento. Lamas, como foi chamado desde os tempos em que defendia o Bonsucesso, dos 15 aos 18 anos, na longínqua década de 30, ganhou o livro original numa de suas muitas viagens ao Nordeste do próprio Carlos Said, que escreveu uma dedicatória carinhosa e o autografou, pouco mais de cem dias antes de eu nascer.
O meu avô conhecia bem a minha paixão pelo futebol, tanto que me levou em muitos domingos de manhã à Rua Bariri para assistir a jogos do seu Olaria do coração nos anos 70. Dele, herdo o sobrenome que uso profissionalmente junto ao meu nome desde que comecei a trabalhar como jornalista, no fim dos anos 80. Provavelmente foi no início daquela década que ele me deu o livro, e o guardei com o máximo carinho, ainda mais depois que ele se despediu deste mundo, 13 dias após o seu aniversário, em 25 de outubro de 1985.
Pois bem, 34 anos depois, venho eu morar em Florianópolis, terra ainda mais distante de Teresina. Ao ser convidado por Sérgio Pugliese a fazer entrevistas com ex-jogadores de futebol que moram em Santa Catarina para o site e canal Museu da Pelada, na busca por um cinegrafista, uma jornalista me indicou Fernando Gustav, a quem ela não chegou a conhecer pessoalmente. Posteriormente, logo em nossas primeiras jornadas, vim saber que ele é piauiense, havia morado muitos anos no Rio de Janeiro e trabalhou na mesma faculdade em que minha filha, Luísa, se formou.
Porém, as conexões não pararam aí porque, durante os muitos encontros profissionais e pessoais que tivemos, comentei com ele deste livro e ele logo quis emprestado. Na primeira oportunidade em que veio à minha casa, Fernando o levou, provavelmente já maquinando uma surpresa. E aí está, esta nova edição de O Piauí no Futebol, proporcionada por esta grande viagem no tempo e no espaço, urdida pelos mundos visível, palpável e invisível, espiritual para quem crê. Graças a tudo isto, tive a felicidade deste grande encontro com meu amigo Fernandão e ver, por sua iniciativa, o renascer desta obra.
Minha mais profunda e respeitosa saudação a Carlos Said e toda a sua família, que ainda não tive a honra de conhecer pessoalmente, e toda a minha gratidão e amor, mais uma vez e sempre, ao meu inesquecível avô Thomé.
"Ao Senhor Thomé de Souza Lamas, o afeto do amigo que fazendo parte da família Said, vê no homem a honestidade e o esforço a serviço de uma conceituada firma, a Lanston do Brasil SA. Carlos Said, em 06 04 1966"