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ANNA KARENINA: CINEMA, TEATRO, MÚSICA, DANÇA, LITERATURA...

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"Anna Karenina", filme baseado no clássico do escritor russo Leon Tolstói, me deixou surpreso e muito satisfeito. Uma produção hollywoodiana que foge aos padrões, com as cenas se deslocando de dentro de um teatro (não só palco, mas todas as áreas internas) para locações numa agilidade precisa. A decisão do diretor Joe Wright de usar a linguagem expressionista em muitas cenas pode causar estranheza, mas considero bastante acertada esta opção, pois além de destacar as sensações dos personagens, permite ao espectador uma visão distanciada da obra, sem a catarse emocional que a imensa maioria das produções americanas traz. Se não chega a haver brilhantismo nas atuações, figurinos, cenários, músicas e danças são de uma beleza literalmente estonteante. Recomendo o filme especialmente ao público viciado na xaropada sentimental de Hollywood, que terá a chance de conhecer algo diferente e abrir a cabeça e a visão para outras possibilidades. Estimulado pelo filme, vou agora - quase ...

OS MISERÁVEIS, VERSÃO 2012: NEM TANTO AO MAR, NEM TANTO À TERRA

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O filme-musical "Os miseráveis", dirigido por Tom Hooper, foi claramente feito para emocionar o público, o que se tratando da obra monumental de Victor Hugo não é lá algo tão difícil de se conseguir. É só não fazer muita besteira. Hooper arriscou ao levar o sucesso da Broadway para a telona, deixou furos, mas a direção musical deu conta do recado, teve muito mais acertos que erros. O diretor se equivocou ao optar por um início corrido, meio videoclipado. A virada na trágica história de Jean Valjean começa ali e a dramaticidade desta mudança radical foi um pouco perdida, embora a cena do conflito pessoal  tenha sido muito bem feita. Ponto para Hugh Jackman, que cumpre bem o papel principal. A montagem do filme também tem uns vacilos, com cortes estranhos. Um dos momentos mais importantes da história apresenta um grave problema a meu ver: o espectador só sabe que Marius desconhecia que Valjean o havia salvado no levante de 1832 no momento em que o personagem vivido por ...

UM BRILHANTE ESQUIZOFRÊNICO

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Na tarde do último domingo aproveitei uma brecha no tempo disponível para viver uma pequena esquizofrenia. Isolei-me do mundo da bola, onde todos pareciam estar concentrados, para assistir a “Uma mente brilhante” ( A beautiful mind , 2001), dirigido por Ron Howard, com Russell Crowe muito bem no papel principal. É um filme brilhante? Longe disso. Mas retrata a história verídica de um homem brilhante, o matemático e esquizofrênico John Forbes Nash. Para alguém como eu, que não tem muita afinidade com os números, o que mais me comoveu na história desse grande homem não foi aquilo que o levou à glória, a sua profissão, a sua contribuição para a economia mundial, a sua dedicação obsessiva a uma arte que não entendo, e portanto estou impedido de admirar profundamente: a matemática. O que engrandece aos meus olhos o imenso Nash, que é bem retratado com suas virtudes e defeitos (sua arrogância na juventude é bem instrutiva para quem deseja vencer a própria), é como usou sua mente brilh...

CONEXÕES

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Recentemente comentei numa rede social sobre um dia ganho por ter lido uma pequena obra-prima, o conto "O Evangelho segundo Marcos", do livro "O informe de Brodie", do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), e a conexão mental e sensorial que fiz com o filme "Viridiana" (1961), do diretor espanhol Luis Buñuel (1900-1983). Em suma, as imprevisíveis e cruéis conseqüências da caridade cristã. Espero que quem conheça as duas obras venha me dizer se há insanidade, idiotice ou algo perfeitamente pertinente de minha parte. Pois bem, chego hoje em casa, já madrugada, após um ótimo encontro com velhos amigos, incluindo o meu irmão, Léo Neiva, e tenho a surpresa de ver que a locadora havia me enviado durante o dia o documentário sobre o excepcional LP "Who's next", de 1971, da mesma série (Classic Albuns) de "The dark side of the moon", do Pink Floyd, "Kind of blue", de Miles Davis, e outros que não me lembro e ainda não ...

UM SONHO CHAMADO KUROSAWA

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Akira Kurosawa , falecido em 1998 (completaria cem anos em 23 de março deste ano), foi um cineasta que conseguia ser delicado e deixar esperança mesmo nas cenas mais tristes de seus filmes. Sonhos , de 1990, talvez seja o que melhor resume a sua extensa filmografia. Com o filme já lançado em DVD há alguns anos, isso pode ser confirmado por fãs e aqueles que se propuserem a conhecer o trabalho meticuloso do mestre japonês. Aliás, começar a conhecer a obra de Kurosawa por Sonhos é uma excelente idéia. Não que este filme, dividido em oito episódios que vão desde o mais puro lirismo à denúncia metafórica da estupidez humana, seja o melhor que filmou – aliás, tarefa inglória para quem se propuser a elegê-lo. Mas sim porque ele sintetiza bem o que o cineasta entendia por cinema. Veja também : Villa-Lobos, o Pai da MPB Entrevista: Nelson Pereira dos Santos O perfeccionismo de Kurosawa foi bastante comentado durante sua vida. Conta-se que o cineasta chegava muitas vezes a quase levar à loucu...