terça-feira, 19 de dezembro de 2017

CRÔNICA QUE NASCEU NO BOTECO TACO

Acabo de saber pela coluna Gente Boa, do jornal O Globo, que o tradicional Boteco Taco, no Humaitá, Zona Sul do Rio de Janeiro, engrossou a lista de estabelecimentos comerciais fechados na combalida cidade em que nasci e (ainda) moro. Como era bastante previsível, o legado olímpico e da Copa das Copas deixado por Cabral filho e sua gangue realmente é devastador. Ao ler a nota no site do jornal, lembrei-me de uma crônica fantasiosa, ou melhor, uma "croniqueta", que escrevi no fim dos anos 90 após uma noitada no Boteco Taco com amigos que trabalharam comigo justamente naquela empresa jornalística. Este será mais um local a freqüentar minha memória afetiva, juntamente com o Maracanã, o Jornal dos Sports, o Manoel e Juaquim da Mem de Sá, os muitos cinemas de rua que frequentei na chamada Grande Tijuca e até mesmo o antigo estádio do América, o Volnei Braune. Então, fica o texto (um dos primeiros publicados neste blog e retirado posteriormente) para relembrá-lo.

Croniqueta da madrugada readmitida

Talvez esse sonho não tenha meio nem fim. Como um salto imaginário num imenso vazio. Dormir muitas vezes pode ser um suicídio provisório, uma fuga efêmera de retorno ainda mais rápido que o caminho de ida. E foi numa dessas madrugadas, cada vez menos freqüentadas por mim, que reconheci por dentro a floresta urbana. A madrugada fora redmitida.
Um lugar irreal, sem músicos, mas animado por uma grande caixa musical. Garçons desdentados e descalços serviam as mesas com suas rudes delicadezas. O pequeno grande artista, e seus namoradinhos de ocasião circulava, sem deferências especiais.
A cinderela alviverde brilhante banhava-se com seu amante carcamano em cascatas de cerveja. Depois cansava-se da brincadeira e, frente a um espelho, lavava seus cabelos com copos de água mineral , tal qual uma sereia do asfalto. Ao lado, dois casais de meninos e meninas se revezavam na dança de rostos colados, corpos suados, roçados, tudo em sorrisos sinceros e sedutores.
Aqui, onde eu estava, como tudo na vida é um jogo – mesmo quando imaginária –, dois rapazes disputavam a vez de dançar com a dama. E, embalados por palmas ritmadas, faziam uma disputa leal, pois no fim todos se cumprimentaram e se despediram. Exatamente quando a nossa música finalmente tocou.
Saí de lá pensando o quanto seria bela a vida se sempre fosse assim. Mal dormi, pois logo estaria de pé para enfrentar o extremo oposto da vida dessa imensa selva urbana. À noite cometi meu suicídio provisório para tentar voltar àquele lugar mágico ou outro qualquer. Tudo em vão: a rotina recomeçara.

Nota de esclarecimento: no Boteco Taco, os garçons não eram desdentados e descalços, foi apenas um delírio da minha imaginação. Como no texto não citei o local, fiquei à vontade para escrever o que quisesse, sem denegrir a imagem de ninguém.

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domingo, 17 de dezembro de 2017

FUTEBOLICES DE FIM DE ANO

Cristiano Ronaldo, o segundo melhor do Mundial; Modric,
o melhor, e Urretaviscaya (Pachuca), o terceiro. Foto: EFE
O Real Madrid não fez o menor esforço para ganhar a final do Mundial Interclubes contra o apenas esforçado Grêmio. O placar de 1 a 0 é mentiroso. Podia ter sido 3 ou 4 como jogou - ou treinou - o time espanhol. Se o Real jogasse mesmo para valer, enfiaria uns 7, apesar da boa defesa gremista, o que demonstra o nível baixíssimo do futebol praticado nos gramados brasileiros e da América do Sul atualmente.
O Grêmio tem um goleiro (Grohe) e um zagueiro (Geromel) excelentes, um bom lateral (Cortez), um promissor atacante (Luan) e uma promessa de craque (Arthur), que está machucado e nem foi para os Emirados Árabes. Na decisão, Grohe esteve um pouco abaixo de suas atuações, mas não foi de todo mal (seria falha feia se entrasse a bola do croata Modric - aliás, um monstro de jogador, o Duende!).  Geromel atuou muito bem mais uma vez; mas Cortez, de boca seca, mal conseguindo dominar a bola muitas vezes, e Luan, tropeçando nas próprias pernas, sentiram o jogo, respeitaram demais o adversário e nada fizeram. O resto é de medíocre para baixo, com destaque negativo para Lucas Barrios, que além de tudo abriu a barreira no gol. É o campeão da América, imagine o resto.
Pois é, o resto. Na quarta-feira passada, o Flamengo se tornou vice da Série B da América do Sul, a chamada Copa Sul-Americana, fazendo vergonha mais fora do que dentro de campo, onde perdeu mais uma vez um título para o Independiente do excelente Barco, que já está içando velas para os Estados Unidos (por que se esconder lá?). No gramado, pelo menos houve esforço, algo que rareou na temporada medíocre do caro, mas apenas medíocre, elenco rubro-negro. A destacar, em 2017, os garotos, especialmente Lucas Paquetá, e o goleiro César, formado nas divisões de base rubro-negras há mais tempo. César assumiu o gol do Flamengo num momento muito difícil, sem ritmo de jogo, mas mesmo assim deu conta do recado. Reinaldo Rueda agora terá tempo para montar um time, pois em 2017 não se viu organização em campo com a camisa carioca de listras vermelha e preta (nem com a branca, muito menos com a feiosa amarela). 
Fora de campo, uma quantidade bastante expressiva de torcedores do clube da Gávea mostrou que desta vez não dá para dizer que eles não representam a grande massa da Nação. A quantidade de rubro-negros praticando as violências mais absurdas dentro e fora do Maracanã ficou longe de ser pequena. O Flamengo merece uma punição exemplar da Conmebol, tradicionalmente frouxa e parcial (quase sempre a favor de times de países de língua espanhola). Não será nada injusto se o time rubro-negro for eliminado da Taça Libertadores da América de 2018. Nada injusto.

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