quarta-feira, 20 de abril de 2016

ANTI-LUTHER KING: A E.E.RA DAS TREVAS


Eu tive um pesadelo. Eu tive um pesadelo terrível esta noite. Nele vi claramente algo que só pressagiava remotamente no início dos anos 90: meu país elegeu para a Presidência uma chapa formada pelo candidato que ama torturadores e assassinos e outro influente colega "cristão". Foi ruidosa e raivosa a festa, se é que pode se chamar de festa milhões de pessoas de dentes trincados, cenhos franzidos, olhares injetados, bocas contorcidas, esgares dos mais variados a urrar palavras de ordem, contra tudo e todos que ousassem discordar da nova-velha Era.

Meu pesadelo certamente revelou em poucas horas os acontecimentos de anos. Perseguições, torturas, pessoas atiradas à fogueira e enforcamentos em praça pública aos adeptos de religiões afro, católicos, ateus, índios, gays, qualquer opositor daquele regime de horror instaurado por vias "democráticas". A maioria estava com o novo líder. E desfilavam impecavelmente uniformizados para e por ele num interminável mar de cabeças a balançar dizendo sim, quando era para dizer sim, e não, quando ele mandava dizer não. 

Clicaê quem curte CDs e vinis!


Todos de crucifixo invertido no peito. Uma versão gigantesca da KKK, do EI, da SS na América do Sul. Livros e templos destruídos, queimados. Delação premiada a todos que entregassem vizinhos, familiares, conhecidos, todos os que tenham proferido qualquer mínima palavra ou mesmo um pequeno gesto contra a ordem.

Nas escolas-fortalezas, as crianças aprendiam táticas militares desde a mais tenra idade e a religião vigente. Com as mãos-de-ferro dos mestres a castigá-los nos mais breves deslizes, um bocejar que fosse. As que gaguejavam sofriam muito. E não eram poucas. 

As mais fortes ganhavam prêmios e subiam no conceito dos superiores para a formação de novos líderes. Passou pela minha noite, um filme já visto pela Humanidade, mas não aprendido por aqui. Como se referira Churchill à Segunda Guerra, algo que podia facilmente ter sido evitado, mas que acabou - por seguidos e insistentes erros - sendo permitido por muitas das vítimas do novo-velho regime. Inocentes?

Eu vi o E.E. dominando o país continental e invadindo Bolívia, Paraguai, Uruguai, Peru e sonhando em tomar toda a América do Sul. Os delírios do tirano iam a ponto de se construir um muro de quilômetros de altura em pleno Oceano Atlântico, nos limites do mar territorial brasileiro. E sonhava chegar ao Pacífico, através da guerra, claro. 

Uma enorme sombra cobriu o país. As praias ficaram desertas. E a demência do ditador se revelava em sua baba no canto de seu riso sádico a cada conquista, a cada caçada humana. E todos os dias ele entrava em cada casa, mesmo nos mais distantes cantões do país, por TV, rádios, internet, alto-falantes para ditar suas diretrizes. Não dormia um só instante.

Esse sonho ruim me pareceu o orwelliano "1984" bem piorado. Ainda bem que foi só um pesadelo. Será?

Vídeo: cenas do filme "Pink Floyd, The Wall", músicas "The show must go on", "Run like hell" e "Waiting for the worms".

sábado, 2 de abril de 2016

DEMOCRACIA: FÁCIL NO DISCURSO, DIFÍCIL NA PRÁTICA

Nestes conturbados dias de fla-flu político, tenho me deparado com inúmeros casos de teoria a anos-luz de distância da prática. Muita gente que berra, esperneia e até mesmo alguns que posam com discursos orais ou escritos muito bonitos na defesa da democracia desafinam feio na hora de exercê-la no seu dia-a -dia. Não, não é fácil ter a prática democrática em casa, no prédio, nas ruas, no trabalho, ainda mais num país cuja História está marcada por dominação ditatorial no governo central e nos seus mais escondidos recantos. O coronelismo ainda está vivo em muitas partes deste Brasil, e não só no interior rural.
O impulso de impor vontades e interesses prevalece nos grandes e nos pequenos poderes. Nossa tradição é autoritária e paternalista e há muitos que se apegam a esta tradição e bradam como se fosse um belíssimo hino. Vejo defensores da democracia só para aqueles que concordam com eles, nunca para os que discordam. Grandes veículos de comunicação - e não só no Brasil - cometeram crimes em defesa de uma liberdade de expressão que só fosse permitida a eles próprios.
A manifestação dos taxistas ontem aqui no Rio é um grande exemplo de que não só as piores práticas dos nossos três poderes desrespeitam o direito alheio. Para defender suas razões, seus direitos, atropela-se os dos outros, sem qualquer pudor. E ai de quem tentar impedir. A antipatia se generalizou na população, mas antes os manifestantes prejudicaram um sem-número de pessoas, das mais diversas formas. E não me digam que não tinham noção disso, porque não foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez. Se tinham alguma razão nas suas reivindicações, e creio que no geral tinham mesmo, perderam todas elas com mais este ato irresponsável, que nada teve de democrático.
Antes de defender com unhas e dentes a democracia, é preciso praticá-la. Ainda mais num país em que tantos só querem mandar, por poder, status ou dinheiro, e outros muitos só querem obedecer, para não ter de pensar, argumentar, estudar ou por medo e arraigada submissão. De minha parte, continuarei defendendo a democracia na prática. Porém, se me virem abraçado a qualquer governo, podem separar que é briga.
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