quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS ESCROTOS

Ilustração de Odyr Bernardi

Quando o ovo da serpente 

se rompeu 

- e já faz muito tempo -

os ratos primeiro hesitaram,

mas logo ficaram seguros

de que não eram poucos 

e entenderam que

podiam deixar

os seus bueiros imundos

para espalhar a peste

por todas as ruas

de todas as cidades

em todo o país

 

A cadela no cio

uivou insaciavelmente

e atraiu com seu

perfume embriagador

e nauseante

cérberos com 

presas arreganhadas,

gengivas escuras

sangrentas

e uma baba venenosa

inclemente e elástica

a pender quase ao chão,

onde cascos e ferraduras 

marchavam ritmados

numa nova versão

de uma antiga e 

desgastada história

que nos livros 

tiveram suas páginas

rasgadas

por quem não

se interessa

ou sabe

ler

 

Os porcos cheios 

de fantasias de poder

excitados por um novo

velho momento

que se repete como farsa

desmentem-se cínica

e hipocritamente, mas

quase todos sabem com

quem estão falando

com o que estão lidando

 

Pastores adestram

subservientes ovelhas e cordeiros

a levarem os lobos famintos

para revistarem

o galinheiro

onde os galos de briga

já foram subornados

 

A cadela no cio

novamente uivou

e os vira-latas

imprestáveis 

cada vez mais excitados

e incitados

já não se contentam mais 

com as sobras,

 juram vingança

e tocam fogo na mata

para a boiada passar

matando outros tantos animais,

 

Tanto faz!

Ninguém vai mover

uma palha sequer

pra salvá-los,

muito menos

salvá-la.

 

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terça-feira, 15 de setembro de 2020

MÚSICA PRA VIAGEM: UNICORNIO

A primeira de certamente muitas canções na maravilhosa voz de Mercedes Sosa que farão parte desta série não é das suas mais conhecidas por aqui. Porém, além de ser uma belíssima composição do cubano Silvio Rodríguez, "Unicornio" tem um significado especial para mim. No primeiro curso de espanhol que fiz, no fim dos anos 90, em Niterói, ela foi apresentada numa das primeiras aulas pela professora, uma senhora gaúcha da qual infelizmente não me lembro o nome, num gravador em fita cassete.

Ouvir aquela interpretação de La Negra, como a extraordinária cantora argentina era conhecida, e estudar a poesia de Rodríguez me deram duas grandes motivações: conhecer melhor a obra de Mercedes Sosa e a Língua Espanhola. Foi o que fiz durante um bom tempo, comprei alguns CDs de Mercedes Sosa e fiz um outro curso, no Centro do Rio de Janeiro, um ou dois anos mais tarde, pois não pude continuar naquele. Muito graças a esta música, pude posteriormente ler alguns livros de autores de língua espanhola no original, como "Del amor y otros demonios", do grande Gabriel García Márquez.

Gracías!

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Adiós, La Negra

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

BACANAL DOS BOÇAIS

Nas entranhas dos palácios,
rotos enfatiotados
com o rei na barriga
arrotam importância, imponência,
comendo nas mãos da rainha
que os põem de joelhos
de braços abertos,
a baba demente,
os olhos nos céus
e no adorado
pingente dourado
encravado em seu seio

Imberbes e velhos velhacos
pretensos eternos potentes
exibem em seus peitos inflados
de ralos pêlos decadentes
condecorações, galardões,
Cruzes!

Sarcásticos sorridentes
desgraçados palhaços sem graça
como a fazer gracejos
do incêndio no circo

Ilusórios e falsos imponentes
anedotas e caricaturas de si mesmos
falam com um falo empunhado
para esconder murchas picas
introduzidas em 
flácidas bundas
e manipulando rachadinhas
com frígidas e insaciáveis senhoras
a um deus diabólico tão tementes
tão recatadas, tão donas de si e de casa
e de bocetas contraproducentes

E num boquete
de sugar dinheiro
lamber medalhas
engolir e cuspir moedas,
esmolas aos que 
vivem no chão
e os servem 
e os idolatram
do chão.

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Agro-câncer
Justiça injusta ou injustiça justa
Encantamento, fanatismo, cegueira
Noventa milhões em ação

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

MÚSICA PRA VIAGEM: 1974

Você se lembra de algo que vivenciou em 1974 (obviamente se já era nascido naquele ano)? Especialmente daquele ano tenho grandes recordações, quase todas relacionadas ao futebol, mas não só. Desde a primeira vez que ouvi esta música do grupo O Terço, de onde saíram dois integrantes do 14 Bis, Flávio Venturini e Sérgio Magrão, ainda - ou já - nos anos 80, viajo no tempo.

A música foi gravada no excelente álbum "Criaturas da Noite", de 1975, e acredito que estejam neste instrumental composto com sublime inspiração por Flávio Venturini, todos os acontecimentos daquele ano, o meu oitavo neste mundo. Em especial, o carnaval, para mim, está bem nítido. Curtam esta viagem, pela primeira ou mais uma vez, vale muito a pena.

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sábado, 5 de setembro de 2020

O CHOQUE DOS BURACOS NEGROS NO BRASIL

O Brasil atingiu um nível intelectual, moral e emocional de eleitores e eleitos tão baixo, mas tão baixo, que o país corre o sério risco de, tendo algo um pouquinho melhor daqui para frente, parecerá para alguns um grande avanço. Com patamares tão subterrâneos, nos termos de comparação não fica difícil conseguir algo menos ruim, mas é bom ressaltar que sempre pode piorar. Por exemplo, com a reeleição de quase todos os atuais "representantes do povo".

Isso tudo é fruto de investimento em massa por décadas e décadas em deseducação, algo muito sério e claramente agravado pelo atual desgoverno, repleto de imbecis e gananciosos de todos os naipes. Vai ser difícil sair deste buraco negro em que nos metemos. Aliás, o choque de dois buracos negros que assustou recentemente cientistas ocorreu na verdade aqui e tem um pouco mais de tempo: o que já havia sido formado ao longo das últimas muitas décadas e o que veio em 2018.

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O ódio presente
Fábrica de ídolos
Beco sem saída
Folia de Reis