segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

GASOLINA NO INCÊNDIO #6

Com "Gasolina no Incêndio" pretendo provocar quem aqui venha, mexer com os brios mesmo. Incomode-se, reclame e até xingue se achar necessário, mas aqui não cabe a indiferença. Não vou censurar nenhum comentário, mas assuma-se, não se esconda no anonimato (in)conveniente, nem com apelidos irreconhecíveis. A sexta questão-provocação é a seguinte: 

O conjunto de versos totalmente desprovido de filosofia não é poesia, é mero jogo de palavras. 

sábado, 18 de outubro de 2008

MANIFESTO DE RESISTÊNCIA

Estou espantado com a passividade com que foi encarada até agora a tal reforma ortográfica da Língua Portuguesa. Passividade de um lado e do outro um movimento quase festivo de meios de comunicação que já anunciam suas adesões precoces à grande novidade. Manuais já circulam pela internet para que todos estejam inteirados do que mudará. Eu, como jornalista e escritor e antes de tudo cidadão, sinto-me aviltado por uma reforma que teve como manipuladores burocratas e pseudo-intelectuais.
Não sei ainda como isso está sendo encarado em Portugal, por exemplo, mas aqui, repito, eu me vejo perplexo com a submissão alegre com que está sendo acatada esta mudança decidida por uma minoria. As línguas e os dialetos são vivos, mas historicamente os "poderosos" sempre quiseram unificá-los, padronizá-los, pasteurizá-los, aprisioná-los ou exterminá-los. Fico imaginando o que deve estar se passando na cabeça dos professores de Português a esta altura do campeonato. Muito do que ensinam com dificuldades cada vez maiores não valerá mais daqui a alguns meses.
Dizem os defensores da reforma que ela é ínfima, que pouco afetará os que vivem da Língua. Como ínfima, se cada vez que alguém escrever “pode” não saberei se é no passado ou no presente, já que o acento circunflexo que os diferenciava cairá? O que dizer do “para” preposição e o “pára” do verbo “parar” que passarão a ser escritos da mesma forma? E a abolição do trema - que já li numa página na internet como “aqueles dois pontinhos chatos em cima do u” - que nos ajuda a pronunciar corretamente palavras como “lingüiça”, “freqüente” e “tranqüilo”, quais seqüelas nos deixará? Sequelas! E os portugueses – e muito proavelmente os outros cidadãos de países de Língua Portuguesa, fora o Brasil – que serão obrigados a retirarem o “c” que pronunciam de “facto” no seu dia-a-dia?
Lanço este pequeno manifesto de resistência em defesa dos interesses daqueles que com muita dificuldade, mas com muita dedicação e amor à Língua Portuguesa, lidam diariamente com a escrita e a leitura. Não só brasileiros, mas também portugueses, angolanos, moçambicanos, caboverdianos, timorenses do Leste, santomenses e guineenses. Não é nos padronizando que vão nos unir. Viva a diferença!

Vídeo: "Angola", com a caboverdiana Cesaria Evora.
Veja também:
Gasolina no Incêndio 5

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

GASOLINA NO INCÊNDIO 5


Com "Gasolina no Incêndio" (agora também no orkut, clique aqui) pretendo provocar quem aqui venha, mexer com os brios mesmo. Incomode-se, reclame e até xingue se achar necessário, mas aqui não cabe a indiferença. Não vou censurar nenhum comentário, mas assuma-se, não se esconda no anonimato (in)conveniente, nem com apelidos irreconhecíveis. A quinta questão-provocação é a seguinte:
Mesmo numa relação entre dois seres do mesmo sexo, ela só é possível quando há o encontro do masculino de um com o feminino do outro. É a natureza.
Veja também: Gasolina no Incêndio 4
Gasolina no Incêndio 6
Gasolina no Incêndio 9

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O FIM DA EVOLUÇÃO *

Um grupo de amigos tomava animadamente uns chopes num bar agitado da cidade, quando um conhecido bêbado passou pela mesa e, saudando efusivamente a todos, sentou-se sem ser convidado para participar do papo. Porém, não deixou ninguém mais falar. Contou um sem-número de histórias, e quando a rapaziada, já cansada de álcool na cabeça e do papo do bêbado, ameaçou pela décima vez se levantar para ir embora, ele prometeu que contaria a última. Pedida a décima “saideira”, o pau d’água - ressaltando pela terceira vez que não se tratava de uma piada - começou a contar a derradeira - e a única verdadeira, embora fictícia - história da noite:

"Um anjo novo desceu à Terra com a missão de descobrir como os homens estavam evoluindo e escolheu aterrissar num grande país emergente chamado Vera-Efígie. O enviado do Céu tinha o dom comum a todos os seres celestes de arrancar a verdade nua e crua de quem quisesse e era o que usaria nessa expedição. A primeira visita do anjo foi a um grande empresário, dono de uma fábrica de eletrodomésticos. E a ele perguntou:

- O que o senhor tem de fazer para que o seu negócio prospere?

- Bom, para responder a essa pergunta vou dar um exemplo: as geladeiras. Tenho de fabricar o maior número delas, o mais rapidamente possível, para vendê-las logo, o mais que puder. Mas, para que isso ocorra, preciso fabricar as geladeiras de uma forma que elas tenham um tempo de funcionamento curto, para que as pessoas precisem sempre comprar uma nova.

O anjo ficou assustado com a resposta e foi visitar o dono de uma financeira, a quem perguntou o que era necessário para que o seu empreendimento fosse em frente. O entrevistado foi curto e seco:

- Ora, que as pessoas estejam sempre endividadas, precisando de dinheiro! Cada vez mais!

Veja também:


Foi como um soco na boca do estômago, mas o enviado celestial seguiu em frente para visitar um conceituado advogado e perguntou como ele alcançaria o sucesso em sua profissão. E assim veio a resposta:

- É preciso que haja o maior número de conflitos entre as pessoas para que eu possa trabalhar em mais casos. E quanto mais dinheiro envolver, melhor, ganho mais!

O anjo ficou triste, porém se despediu cordialmente, como era de seu feitio, e foi se encontrar com o dono de uma imensa rede de hospitais e fez a ele a mesma pergunta. Ele ouviu o seguinte:

- Que haja muitos doentes, de preferência com enfermidades graves para que meus hospitais estejam sempre cheios. Mas é importante mantê-los respirando o maior tempo possível. Ganho muito com as diárias dos que ficam internados.

Indignado, o visitante partiu praticamente sem se despedir e foi visitar os proprietários de um famoso plano de saúde. E repetiu a pergunta de sempre, ao que eles responderam:

- É muito simples: basta que a saúde pública seja cada vez mais ineficiente. Porém, o melhor é que os nossos fregueses, ou melhor, clientes, não fiquem doentes, para que a gente não precise desembolsar muito. Mas a gente sempre dá um jeito de não pagar tudo, as leis nos protegem.

O anjo ficou arrasado, mas foi visitar o dono de uma empresa de segurança, que respondeu com indiferença:

- É só a violência continuar crescendo. Cada vez mais!

Já com a certeza de que as coisas iam muito mal em Vera-Efígie, em particular, e no mundo, como um todo, foi se preparando para ouvir algo mais animador de um padre e um pastor. Foi ouvi-los separadamente, mas a resposta de ambos foi em coro, nada angelical:

- É necessário, meu filho, que a pobreza e o desespero estejam presentes entre todos para que eles venham recorrer ao que oferecemos: o conforto do reino dos céus.

O anjo já não sabia mais onde encontrar esperança, mas não desistiu da última entrevista. No entanto, antes de fazer a pergunta que tão decepcionantes respostas lhe trouxera, não resistiu e desabafou. Contou todo o que ouvira, lamentando-se, e, por fim, repetiu a indagação. O entrevistado afirmou:

- Eu preciso que toda esta situação permaneça, meu anjo. Com TV, jornais, rádios, escolas e faculdades nas minhas mãos e nas de meus amigos, divulgo a ignorância sem que ninguém perceba. Assim fica muito fácil prometer melhorar as coisas e faturar muito com isso - respondeu um dos políticos mais bem votados em toda a história do país, com um cínico sorriso no canto da boca".

* Este conto, que estará num livro a ser publicado num futuro próximo, originalmente publicado neste blog em 2 de outubro de 2008, foi republicado em 31 de julho de 2023.

Foto de Eduardo Lamas Neiva

Veja também:
A música é interdisciplinar
Nau Poesia: Espiral do tempo
Trecho do ebook "Velhos conhecidos"

sábado, 20 de setembro de 2008

NAU POESIA: TECELÃ NATUREZA

Ilustração do quadro "Lírios",
de Vicent Van Gogh
À memória de Vincent Van Gogh

Sobre verdes tons
e sobretons variados
- quase novas cores,
inomináveis matizes –
dispersam, tecendo de renda
o céu cinza choroso
pontilhado de folhas suspensas
e nervuras verde musgo
esgarçadas, harmônicas, delicadas, sutis,
prolongamentos de veias e artérias pardas.

Esse véu delicado,
obra de talentosa tecelã,
levita no ar,
como se lhe cobrisse
os longos e invisíveis cabelos.

"Tecelã natureza" é uma das poesias publicadas no livro "Profano Coração", o de estreia do escritor e jornalista Eduardo Lamas Neiva, com ilustrações belíssimas de Sóter França Júnior. 

Caso queira ler a obra completa, ela está à venda somente na versão digital (ebook) na Amazon do Brasil e de mais 12 países. Clique aqui para saber mais.


Obs.: Esta poesia, publicada originalmente neste blog no dia 20 de setembro de 2008, foi republicada no dia 1º de agosto de 2023

Veja também: 

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

NAU POESIA: NADA MAIS

A rua com suas imensas cicatrizes
O mar com suas estranhas estrias
O céu e suas ranhuras de nuvens
A letra mal rabiscada num papel amassado
O olhar assustado de um rosto feminino, porém selvagem
O arrepio que faz o corpo tremer
O cheiro da chuva no asfalto escaldante
O resvalar de pele num encontro incomum
O rasgo criativo em meio ao lugar comum
O estímulo que vem do cansaço
A revelação involuntária como se fosse oração
Uma fita ao léu em laço
A luz que não pede licença e doura a poeira no chão
O som fluido que levanta pêlos, cabelos
A planta que nasce na brecha do concreto
As curvas do rumo reto
A obsessão por tudo isso, ademais:
Poesia, nada mais.

Esta poesia abre o livro "Profano Coração", de Eduardo Lamas, que está à venda na versão digital. Para adquirir o seu, clique na capa ao lado. 

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

GASOLINA NO INCÊNDIO 4

Com "Gasolina no Incêndio" pretendo provocar quem aqui venha, mexer com os brios mesmo. Incomode-se, reclame e até xingue se achar necessário, mas aqui não cabe a indiferença. Não vou censurar nenhum comentário, mas assuma-se, não se esconda no anonimato (in)conveniente, nem com apelidos irreconhecíveis. A quarta provocação são duas:

Na teoria os comunistas se preocuparam tanto com as necessidades que se esqueceram do desejo. Na prática, satisfizeram as necessidades e os desejos apenas dos donos do poder.

Não pode ter boa índole quem se diz capitalista. É uma questão de princípios, meios e fins. 

segunda-feira, 23 de junho de 2008

GASOLINA NO INCÊNDIO 3

Com "Gasolina no Incêndio" (agora também no orkut, clique aqui) pretendo provocar quem aqui venha, mexer com os brios mesmo. Incomode-se, reclame e até xingue se achar necessário, mas aqui não cabe a indiferença. Não vou censurar nenhum comentário, mas assuma-se, não se esconda no anonimato (in)conveniente, nem com apelidos irreconhecíveis. A terceira provocação é a seguinte: Os homens mentem muito, mas as mulheres enganam melhor.


Ilustração: La Maja Desnuda, quadro de Francisco Goya
Veja também: Gasolina no Incêndio 2
Gasolina no Incêndio 6
Gasolina no Incêndio 7

sexta-feira, 2 de maio de 2008

GASOLINA NO INCÊNDIO 2

Com "Gasolina no Incêndio" pretendo provocar quem aqui venha, mexer com os brios mesmo. Incomode-se, reclame e até xingue se achar necessário, mas aqui não cabe a indiferença. Não vou censurar nenhum comentário, mas assuma-se, não se esconda no anonimato (in)conveniente, nem com apelidos irreconhecíveis. A segunda provocação é a seguinte:

Só um homem estúpido, insensível e egocêntrico não consegue entender uma mulher.

E aí, concorda?


* Ilustração retirada de Ramires's Public Gallery

segunda-feira, 7 de abril de 2008

NAU POESIA: OFERENDA (ou CANÇÃO DE UM SER DILACERADO)

Transpasso meu ser rompendo barreiras sensitivas
e caminho a passos largos rumo aos estágios mais elevados da loucura, da insanidade total, tangencio a alienação bestial, a genialidade que contém todo o mal que há em si,
resvalo pelas sombras abjetas dos meus desejos, dos meus esgares, das minhas margens, dos meus interiores mais recônditos, mais pervertidos, mais funestos.
Corto o meu elo comigo mesmo com as pontas de uma faca de dois gumes,
Reparto meus restos com as unhas arranhando o chão áspero, o solo impenetrável que me foi concedido por mim mesmo, por mim a mim.
Desejos retesados explodem pelos meus poros,
guitarras distorcidas espancam meus tímpanos,
roncos de motor sacodem minha cabeça:
É o seu corpo nu em oferenda.
O corpo que você me oculta, mas que eu vejo, eu toco, sem olhos e sem mãos.
Meu corpo não se move mais ao meu comando:
É ser independente.
Eu o afasto do que verdadeiramente sou
e agora as sensações das imagens são novas, não só visão,
são imagens, as suas imagens, vertiginosas imagens
muito além de cor e forma:
Imagens de odores exóticos,
Imagens de toques profundos
que acariciam a mais profunda região de minha alma, o meu ser.
Imagens de sons que arrepiariam meu corpo inteiro se ainda o tivesse,
Imagens de sabores mais extravagantes
que nenhuma língua ousará degustar.
Não tenho mais língua, não tenho mais corpo que me acorrente,
que me ate, que me amarre, que me asfixie de tanto desejo.
Sou livre, sou onipresente, sou inumano, sou demente,
louco, louco, louco,
desvairado, livre e louco.
Sem corpo, sem matéria, sem a carne perecível que me enjaulava,
sem os nervos que acendiam a qualquer pensamento,
sem músculos másculos para exibir uma força nada duradoura.
Livrei-me da carne imunda que carregava em mim,
da podridão das tripas das quais sempre fiz coração,
do coração retumbante a qualquer sinal seu.
Sem corpo, só alma,
a flutuar, a levitar, a bailar
por entre as coxas mais lisas e roliças,
lambendo os quase imperceptíveis pêlos;
por entre os seios mais provocantes,
mordendo de leve os bicos rijos;
na nuca mais sedutora,
roçando atrás das orelhas;
nas costas mais macias,
percorrendo lentamente o quase imperceptível vão;
por entre a bunda mais saliente,
eriçando seus mais brilhantes pêlos,
provocando o frêmito de seus orifícios;
por entre as pernas mais supremas, que se abrem como uma flor em botão,
desabrochando vagarosamente, vagarosamente,
por entre os pêlos do seu sexo;
pelos lábios carnudos e sedentos de seu sexo;
pelo corte delicado de sua delícia,
pelo líquido que “oferenda”.
Agora que não sou mais corpo finalmente a penetro
com a volúpia de um adolescente,
com a calma de um amante profissional,
com a insistência de um obstinado,
com o balançar de uma cobra sedosa,
com o roçar dos pêlos de um felino,
com o planar das imensas asas de uma bela ave.
Você é toda oferenda,
mas não possuo mais um corpo, nem ele mais me possui:
não transbordo mais como uma cachoeira,
não tenho mais o vigor e a beleza aterradora de uma cascata,
não tenho mais a exuberância de uma gigantesca árvore,
tenho apenas a minha potência.
Sou agora
o frio na sua espinha,
o seu arrepio repentino,
o arder de suas entranhas,
o frescor de sua pele,
o suor de todo o seu corpo,
a lágrima que lhe escapa,
o seu gozo em êxtase, afinal.
Sou, enfim, as suas próprias oferendas.
A quem quer que seja!

Veja também:


* Ilustração de Sóter França Júnior
** Vídeo: Requiem de Mozart (Introit, Kyrie e Dies Irae), com a Washington Metropolitan Philharmonic, regência de Mark Whitmire

Esta obra foi Destaque Especial na categoria poesia do Prêmio "A Palavra do Séc. XXI" de 2001 e faz parte do livro "Profano Coração", de Eduardo Lamas Neiva. O ebook está à venda na Amazon do Brasil e de mais 12 países. Caso queira adquirir o seu, é só clicar aqui.

terça-feira, 1 de abril de 2008

GASOLINA NO INCÊNDIO 1

Com "Gasolina no Incêndio" pretendo provocar quem aqui venha, mexer com os brios mesmo. Incomode-se, reclame e até xingue se achar necessário, mas aqui não cabe a indiferença. Não vou censurar nenhum comentário, mas assuma-se, não se esconda no anonimato (in)conveniente, nem com apelidos irreconhecíveis. A primeira frase-provocação é a seguinte:

Só as medíocres, frustradas e mal-amadas acreditam que todos os homens são iguais.

E aí, concorda?


Vídeo: "Blues da Piedade" (Cazuza/Frejat), com Cassia Eller