quinta-feira, 25 de junho de 2020

SETENTA VEZES MARACANÃ

A idéia de selecionar 70 dos cerca de 300 jogos a que assisti no Maracanã (entre 1974 e 2019) nasceu de um texto que meu filho mais velho, Lucas, fez e me mandou e da conversa que tivemos em seguida, no último dia 16, quando o estádio completou 70 anos de inauguração. Lucas fala da sua relação com o Maracanã, desde 1997, quando o levei pela primeira vez ao estádio, e me fez pensar um pouco mais nas muitas tardes e noites que vivi lá. Isso sem considerar a chegada de Papai Noel, no início da década de 70, os shows de Sting, em 1987, de Paul McCartney, em 1990, este num dia repleto de histórias para contar, algumas relacionadas inclusive ao futebol, e do Rush, em 2002. O texto do Lucas reproduzo mais abaixo.

Nas centenas de vezes em que fui ao Maracanã, a grande maioria estava como torcedor. E, como flamenguista, obviamente assisti a muito mais jogos do meu time do que de qualquer outro. No entanto, engana-se quem acha que não vi partidas memoráveis, terríveis e pitorescas de Vasco,  Fluminense, Botafogo, América e Bangu, várias entre eles e outras tantas contra times de outros estados e países, fora a seleção brasileira, esta nos anos 70 e 80.

Maracanã no fim dos anos 70. Foto encontrada no Google, quem souber o autor informe, por favor

Minha intenção inicial era selecionar 70 jogos e contar a minha história em cada um deles, com os artistas do espetáculo como coadjuvantes, mas percebi que muitas delas já foram contadas (com base apenas na realidade e com contornos ficcionais), e as que ainda não foram acabarão surgindo aqui e ali neste blog ou em contos, como já fiz no livro “Contos da Bola”, que pretendo relançar ainda este ano. A escolha dos 70 jogos, ou melhor de 70 das vezes em que fui ver futebol no Maracanã, pois há um Torneio Início, com muitos jogos de 15 minutos, e outro em que só houve uma disputa de pênaltis, não foi feita pelo critério de importância, embora este tenha sido levado em conta. Porém, muito mais pelo que me lembro deles e do que vivi antes, durante e ou depois daquelas partidas, seja na arquibancada, nas cadeiras (azuis, especiais ou de imprensa) e na geral.

Em outubro do ano passado, quando fiz minha primeira entrevista para o Museu da Pelada, disse ao uruguaio Sérgio Ramírez, que se eles como jogadores tinham a glória de estarem no gramado, muitas vezes com centenas de milhares de olhares atentos a suas ações e tantas delas serem ovacionadas, não só por gols, grandes dribles, mas também por salvar o time num lance de extremo perigo adversário, eu e tantos e tantos e tantos torcedores tínhamos um privilégio que eles não podiam ter, além do de vê-los jogar de fora do campo: subir a rampa do Maracanã em direção às arquibancadas e atravessar aos poucos um portal de emoções e se deparar com aquele gramadão, ao mesmo tempo em que sentia o ronco da torcida, todo aquele rumor que parecia nos tirar o coração do peito, como se saíssemos dos vestiários para jogar. Como citei anteriormente, frequentei também geral e cadeiras, mas foi na arquibancada que senti mais emoção, como muito bem compôs Neguinho da Beija-Flor.

A partir dos anos 90 passei a frequentá-lo também como jornalista, mas isso não durou mais do que dez anos, pois mesmo tendo atuado na área esportiva até 2013, só fui ao Maraca no século XXI como torcedor. E depois do Jogo das Estrelas no fim de 2009, organizado por Zico, o maior artilheiro do Maracanã (com 333 gols), só retornei já com o estádio transformado em um ginásio gigante que chamam de arena, em janeiro de 2019, graças ao mesmo filho que me inspirou esta postagem. E aquela foi a última vez que lá estive, não sei se volto, ainda mais agora que não moro mais no Rio de Janeiro.

Vamos então ao texto do Lucas:

"Desde criança eu escuto as histórias do meu pai com o Maracanã e sempre fui fascinado por elas, por todos os ingressos e anotações dos jogos que meu pai tinha ido. A primeira vez em que eu fui ao Maracanã foi em 1997, aos 6 anos de idade, pouco lembro daquele jogo, lembro que era estréia do Clemer e do short horroroso do Santos, Flamengo 2 x 3 Santos. Meu pai não gostava de me levar em jogo cheio, mas lembro do Flamengo 4 x 1 Corinthians em 1998, visto das cadeiras de ferro do antigo Maracanã como se fosse ontem. Flamengo x Ponte Preta em 1999 na minha cabeça era como se fosse Flamengo x Vasco de uma semana antes, outra vez gol de Rodrigo Mendes. Meu pai me levou algumas boas vezes entre 1997 e 2000, depois disso quase não fomos juntos. Assim, de 2002 até 2006, eu fiquei sem ir ao Maracanã ver o Flamengo (em 2004 fui ver Flu x Americano). Em 2006 voltei a ir ao Maracanã, só que dessa vez sozinho, foi uma merda de Flamengo x Volta Redonda, mas em 2006 também teve meu primeiro clássico, eu morava em São Gonçalo na época e meu pai não deixaria eu ir ao jogo, obviamente menti e fui: 4 a 1 pra nós sobre o Fluminense. Em 2007 vim morar no Rio e morando no Grajaú foi fácil ir sempre ao Maracanã, fui praticamente a todos os jogos do Flamengo, inclusive o último jogo do Maracanã antes da sua morte. De 2007 até 2019 eu fui apenas 3 vezes com meu pai ao Maracanã. Meu pai não conhecia o New Maracanã, fiz questão de levá-lo antes que ele se mudasse pra Santa Catarina e fazer o programa que foi meu favorito na minha infância. O Maracanã me fez feliz na infância, formou meu caráter, me deu amigos pra vida toda. Obrigado Maracanã”.

Minha primeira e única vez na Arena Maracanã: Flamengo 2 x 1 Bangu, no dia 20/01/2019

Na relação abaixo você terá links, fotos e vídeos para mais informações sobre as partidas. Alguns deles são de minha própria autoria. Espero despertar sua curiosidade em muitos deles, caso queira fazer alguma pergunta sobre a escolha de determinado jogo ou saber sobre alguma lembrança especial minha sobre um deles, é só pôr nos comentários que responderei com prazer.
Júnior comemora o seu gol na vitória  2 a 1 do Flamengo sobre o América, no dia 8 de dezembro
de 1974. O resultado deu o título do 3º turno do Campeonato Carioca ao time rubro-negro e o
direito de disputar o triangular final. Foi o primeiro gol do então lateral-direito nos profissionais
e o meu primeiro jogo no Maracanã. Foto: O Globo

4- Brasil 2 x 0 URSS – 01/12/1976 
5- Brasil 1 x 1 Combinado Fla-Flu – 30/01/1977 
6- Torneio Início do Campeonato Carioca – 13/03/1977
7- Brasil 2 x 2 França – 30/06/1977 
9-  Flamengo 1 x 0 Vasco – 3/12/1978 
10- Flamengo 3 x 0 Botafogo - 18/03/1979
11-  Brasil 6 x 0 Paraguai – 17/05/1979
12-  Flamengo 0 x 1 Botafogo – 03/06/1979 
13-  Vasco 0 x 0 América – 02/09/1979 
14-  Flamengo 1 x 4 Palmeiras – 09/12/1979
15-  Vasco 0 x 2 Internacional –20/12/1979 
16-  América 2 x 4 Grêmio – 01/03/1980
17-  Flamengo 6 x 2 Palmeiras – 13/04/1980
18-  Flamengo 4 x 3 Coritiba – 25/05/1980
19-  Flamengo 3 x 2 Atlético-MG –01/06/1980
20-  Brasil 1 x 2 URSS – 15/06/1980

21-  Vasco 1 (1) x 1 (4) Fluminense –05/10/1980
22-  Flamengo 8 x 0 Fortaleza – 04/02/1981
23-  Brasil 3 x 1 Bolívia – 22/03/1981
24-  Botafogo 3 x 1 Flamengo – 19/04/1981
25-  Flamengo 2 x 2 Atlético-MG – 07/08/1981
26-  Flamengo 2 x 0 Boca Juniors – 15/09/1981 
27-  Flamengo 6 x 0 Botafogo – 08/11/1981
28-  Flamengo 2 x 1 Vasco – 06/12/1981
29-  Flamengo 3 x 2 São Paulo – 20/01/1982
30-  Flamengo 2 x 1 Guarani – 11/04/1982
31-  Flamengo 1 x 1 Grêmio – 18/04/1982
32-  Botafogo 3 x 3 Vasco – 15/05/1982
33-  Flamengo 5 x 2 Campo Grande –18/07/1982
34-  Flamengo 1 x 0 Vasco – 23/09/1982 
35-  Flamengo 0 x 1 Peñarol – 16/11/1982
36-  Flamengo 0 x 1 Vasco – 05/12/1982
37-  Fluminense 1 x 2 CSA – 26/01/1983
38-  Flamengo 5 x 1 Corinthians –17/04/1983
39-  Flamengo 3 x 0 Santos – 29/05/1983

40-  Brasil 0 x 2 Inglaterra – 10/06/1984
41-  Flamengo 0 x 1 Fluminense 16/12/1984
42-  Brasil 1 x 1 Paraguai – 23/06/1985 
43-  Bangu 3 x 1 Brasil-RS – 28/07/1985
44-  Fluminense 1 x 1 Flamengo –11/12/1985 
45-  Fluminense 1 x 4 Flamengo –16/02/1986
46- Bangu 1 x 2 Barcelona-EQU - 15/07/1986
47-  Flamengo 0 x 2 Vasco - 1986
48-  Flamengo 2 x 0 Vasco - 1986
49-  América 1 x 1 São Paulo –18/02/1987 
50-  Fluminense 2 x 0 Vasco – 23/07/1987
51-  Vasco 1 x 0 Flamengo – 09/08/1987
52-  Flamengo 3 x 1 Santa Cruz –22/11/1987
53-  Flamengo 1 x 0 Atlético-MG –29/11/1987
54-  Flamengo 1 x 0 Internacional –13/12/1987
55-  Botafogo 4 x 5 Fluminense (disputa de pênaltis) - 05/10/1988 
56-  Flamengo 1 (4) x 1 (5) Palmeiras –17/11/1988
57-  Brasil 1 x 0 Uruguai – 16/07/1989
58- Flamengo 2 x 2 World Cup Masters - 06/02/1990
59-  Flamengo 4 x 2 Fluminense – 19/12/1991
60-  Vasco 3 x 3 Botafogo 03/11/1991
61- Flamengo 3 x 2 São Paulo - 19/02/1992
62- Flamengo 3 x 0 Internacional - 29/09/1993
63-  Flamengo 1 x 0 Independiente – 06/12/1995
64- Flamengo 2 x 2 Santos - 06/02/1997
65- Flamengo 2 x 3 Santos – 06/07/1997
66- Flamengo 4 x 1 Corinthians - 10/10/1998
67- Flamengo 1 x 0 Ponte Preta - 25/07/1999
68-  Flamengo 5 x 0 América - 11/03/2000
69-  Flamengo 1 x 2 Palmeiras – 15/07/2009
70-  Flamengo 2 x 1 Bangu - 20/01/2019

Veja também:
Adeus, Maracanã
O bom e velho Maraca, um personagem de "Contos da Bola"

quarta-feira, 17 de junho de 2020

LAMASCAST CONVIDA VOCÊ


Quando relançado no Portal, em fevereiro, fiz uma postagem aqui para anunciar a novidade, após 28 episódios feitos de maneira independente e solitária na SoundCloud. Agora, com a edição e publicação de Ricardo Malize, o podcast ficou mais simples e ganhou qualidade técnica. Vai ao ar quinzenalmente. Espero que você goste, este é um convite, clique aqui. Conto com sua audiência, comentário e compartilhamento, se curtir. Agradeço desde já.

Aí abaixo você pode ouvir cada programa postado no Portal, basta clicar na imagem:


    





Veja também:
Lucidez e loucura no LamasCast
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LamasCast, na nuvem com os pés a um passo do chão

terça-feira, 9 de junho de 2020

NAU POESIA: ESPERAR PELO SOL

Minha amiga Ana Melão me pediu há uns dias pelo whatsapp uma poesia para recitar e gravar em vídeo. Ela já vinha fazendo uma série e publicando no Instagram suas interpretações para obras de grandes escritores e escritoras. Já conhecia o seu talento artístico para a fotografia desde meados dos anos 2000, e desconfiava que também teria êxito nas artes cênicas assim que soube há uns anos que estava tendo aulas de teatro em Salvador, onde mora. Isso se confirmou quando vi seus vídeos e, ainda mais, depois que interpretou com tanta sensibilidade e inteligência "Esperar pelo sol", poesia que está no ebook "Sutilezas", que lancei em junho do ano passado. 

Veja e ouça abaixo ou pelo meu canal no YouTube.

Veja também:

segunda-feira, 1 de junho de 2020

O SORRISO DO CARRASCO

Vejo em seus olhos,
brilhando e sorrindo,
tantas mortes lentas
sob suas e outras mãos

O já não tão discreto
demente salivar
no canto da boca,
O gozo incontido
ao ver pouco a pouco
o inimigo sem sentido,
dormente, sem sentidos

Extrapola em seu corpo
o prazer da alheia dor,
daquela vida se esvaindo
ao seu bel-prazer
(Hell's Bells!)

É gozo incontido 
de assistir excitante
o poder de manipular
aquela luta agonizante

Pra se redimir e
sem qualquer sinal
de contrição repetir, 
O sinal da cruz
que nega o Mestre
Todo o seu louvor
exalta com fervor
O sinal da cruz,
o instrumento 
de tortura 
que matou Jesus