A NECESSIDADE DO DESEJO

Fui ao quarto da minha filha desligar a televisão quando vi a imagem de um palco escuro e logo em seguida o conhecido rosto sorridente do ator Juca de Oliveira, já num cenário bem claro. Resolvi escutá-lo, e ao comentar sobre a peça Rei Lear, que encena como monólogo no Rio, ele disse algo que é de uma obviedade rodrigueana (aquela que quase ninguém enxerga): “Até o mais miserável dos mendigos tem o desejo de algo supérfluo para se reconhecer como humano. Se ele apenas supre suas necessidades básicas, não sai da condição de animal”. Lançou esta e completou com uma clara intenção política que quero eliminar daqui para me ater apenas à questão filosófica: “Marx não deve ter lido Shakespeare”. Certo que o desejo para o ser humano (“a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”) tendo essa magnitude que Juca expressou por intermédio do bardo inglês passa a ser também uma necessidade. E passando a ser mais importante que tudo, repetidamente, significa vício. Certo ...