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Mostrando postagens de outubro, 2014

A NECESSIDADE DO DESEJO

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Fui ao quarto da minha filha desligar a televisão quando vi a imagem de um palco escuro e logo em seguida o conhecido rosto sorridente do ator Juca de Oliveira, já num cenário bem claro. Resolvi escutá-lo, e ao comentar sobre a peça Rei Lear, que encena como monólogo no Rio, ele disse algo que é de uma obviedade rodrigueana (aquela que quase ninguém enxerga): “Até o mais miserável dos mendigos tem o desejo de algo supérfluo para se reconhecer como humano. Se ele apenas supre suas necessidades básicas, não sai da condição de animal”. Lançou esta e completou com uma clara intenção política que quero eliminar daqui para me ater apenas à questão filosófica: “Marx não deve ter lido Shakespeare”. Certo que o desejo para o ser humano (“a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”) tendo essa magnitude que Juca expressou por intermédio do bardo inglês passa a ser também uma necessidade. E passando a ser mais importante que tudo, repetidamente, significa vício. Certo ...

MÚSICA PRA VIAGEM: SELVA AMAZÔNICA

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Começo esta nova série aqui no blog com "Selva Amazônica", música de Egberto Gismonti que me paralisou desde a primeira audição, em meados dos anos 90. Esta longa música instrumental, tocada pelo mestre num violão de 8 cordas (e mais voz, surdo e cooking bells), abre o CD "Solo", gravado em 1978, e tem me feito ao longo desses quase 20 anos, todas as vezes que a ouço, viajar não só pra selva - ou pra selvas - mas ao Norte e Nordeste do país que posso dizer praticamente desconheço (só estive em Salvador e Jauá, na Bahia, por duas semanas entre o fim de 2005 e o início de 2006). No CD, "Selva Amazônica" é tocada junto com Pau Rolou, cantada por Egberto, mas em outra versão que aqui apresento, é "só" ela mesmo, em apresentação ao vivo em Berlim com outro mestre, Naná Vasconcelos, que certamente estará aqui em breve. O CD Solo achei numa loja de discos que não existe mais há muitos anos, na Avenida Amaral Peixoto, em Niterói. Estava na época à...

MÃE EXALTA O AMOR EM "O FILHO DE MIL HOMENS"

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Valter Hugo Mãe Com o amor ao próximo tão fora de moda é realmente uma felicidade ler um livro que o eleva ao patamar do qual jamais deveria deixar: o da máxima grandeza. Em seu "O filho de mil homens" (Cosac & Naify), o escritor Valter Hugo Mãe, nascido em Angola, mas que vive em Portugal desde a infância, proporciona aos anacrônicos, sonhadores, utópicos ou ingênuos voltarem a acreditar que o sentimento que nos torna além-humanos ainda está vivo, mesmo que numa ficção. Porém, como já escrevi algumas vezes há mais verdades nas ficções do que no noticiário do dia-a-dia, é mais que uma esperança, bate uma certeza de que os tempos, eles mudarão. Com notória influência de José Saramago e Gabriel García Márquez, Mãe tece seus personagens individualmente, com ternura, para ir entrelaçando-os ao longo da trama, numa narrativa envolvente, acolhedora, embora a dor, a discriminação, a ignorância, a intolerância, a ganância estejam bem presentes para nos mostrar em contrap...