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PANACÉIA CURA OS MALES MUSICAIS

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"Quem canta seus males espanta". Panacéia era a deusa da cura para os gregos, e a Mostra Instrumental com seu nome foi remédio para curar todos os males musicais que assolam - e desolam - rádios e TVs. A massa adestrada por sons pasteurizados vicia diariamente seus incautos ouvidos com melodias e ritmos simplórios, adocicados e ou repetitivos para melhor empobrecer suas vidas esvaziadas. Quem esteve na última terça-feira, dia 20, no Parque das Ruínas, em Santa Teresa, pôde fugir do óbvio e construir pedra por pedra a sonoridade musical que escolheu para seguir - e se expandir. Quem lá esteve pôde ouvir até a alegria dos passarinhos cantando ao som de sopros, teclados, cordas e percussões e sair com a alma impregnada de música da mais alta qualidade. Sentiu o lufar e os uivos dos Inventos soprando de e para todos os lados, afastando para longe as nuvens pesadas que se imagina cobrem todo o cenário musical brasileiro da atualidade. Viu e ouviu a correnteza fluir em rios de s...

UM ENCONTRO COM MARTINHO DA VILA

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O Centro Cultural Carioca  abriu suas octogenárias portas na segunda-feira passada, dia 12, exclusivamente para Martinho da Vila conceder uma entrevista a uma emissora de televisão para falar de uma das grandes mulheres da sua vida - provavelmente a maior delas: a Unidos de Vila Isabel. Tive a sorte de estar presente juntamente com os amigos Paulo Almeida e Alexandre Aquino, que sugeriram que nossa reunião marcada a princípio para o Grajaú , bairro onde Martinho morou por muitos anos, fosse transferida para o casarão da Rua do Teatro. Encerrada a entrevista com o repórter Fabio Judice, o sambista e sua assessora, Rejane, se aproximaram do bar, onde Paulinho já se encontrava. Ao sabor de uma boa cerveja papeavam animadamente. Sorrateiramente, eu e Alexandre, que nos encontrávamos no canto oposto, fomos nos aproximando para ao menos ouvir a conversa. Falavam do Grajaú e do tempo em que o cantor e compositor vivera no bairro. Paulinho então perguntou ao cantor e compositor se el...

UM BRILHANTE ESQUIZOFRÊNICO

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Na tarde do último domingo aproveitei uma brecha no tempo disponível para viver uma pequena esquizofrenia. Isolei-me do mundo da bola, onde todos pareciam estar concentrados, para assistir a “Uma mente brilhante” ( A beautiful mind , 2001), dirigido por Ron Howard, com Russell Crowe muito bem no papel principal. É um filme brilhante? Longe disso. Mas retrata a história verídica de um homem brilhante, o matemático e esquizofrênico John Forbes Nash. Para alguém como eu, que não tem muita afinidade com os números, o que mais me comoveu na história desse grande homem não foi aquilo que o levou à glória, a sua profissão, a sua contribuição para a economia mundial, a sua dedicação obsessiva a uma arte que não entendo, e portanto estou impedido de admirar profundamente: a matemática. O que engrandece aos meus olhos o imenso Nash, que é bem retratado com suas virtudes e defeitos (sua arrogância na juventude é bem instrutiva para quem deseja vencer a própria), é como usou sua mente brilh...

PARIS DE NOVO NO RIO

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Por qual ou quais motivos você ficaria duas horas numa fila imensa sem ao menos se importar? Poderia citar algumas razões hipotéticas e outras reais, mas fico com o que me aconteceu no sábado passado, dia 3. Tive o imenso prazer de estar acompanhado de pessoas muito queridas esperando - sob sol forte no início e vento e tempo fechado depois - a hora de poder ver a exposição Impressionismo - Paris e a Modernidade, no CCBB do Rio de Janeiro, com paciência e alegria. E não só eu. Inclusive minha afilhada Beatriz, de 5 anos, aguardou sem se impacientar um segundo sequer e também se sentiu recpompensada, tenho absoluta certeza. A sensação de sair de lá depois de tanta espera, com os pés moídos e exausto pelo cansaço físico e mental, foi não só de imenso prazer, mas de ter saído melhor do que quando entrei na primeira sala da exposição que vai até 13 de janeiro. Difícil não se emocionar diante de alguns quadros. Especialmente os de Pierre-Auguste Renoir me arrebataram, mais...

ESTILHAÇOS #5

Tudo é abstrato. Nada existe. Veja também : tudo o que foi publicado em novembro de 2011 .

UM ÍNDIO AO PIANO NO MUNICIPAL

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Ver-se diante de um instrumento, frente a uma numerosa platéia e ter de compor ali, na hora, as músicas que - todos esperam avidamente - vá engrandecer a noite de cada pessoa presente, é tarefa que só alguém dotado de extrema coragem, concentração e capacidade criativa pode se dispor a fazer. Eu, que aprendi a respeitar todos os meus fluxos criativos e a ter paciência para aguardar as dores do parto para manusear e trazer à luz meus pensa-sentimentos, talvez tenha é arrumado uma desculpa elaboradamente convincente para não ter de encarar solitariamente, sem nada previamente em mente e no coração, o terrível olhar esbranquiçado do papel - ou da tela. Keith Jarrett se propôs a isso mais uma vez, e na última quarta-feira, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, compôs frente ao público músicas que jamais tocará novamente. São natimortas. Sim, algo sempre fica com artista e público, ainda mais se for gravada a apresentação, mas como cigarras, entoam e morrem. Dignamente. No ...

PENSO, LOGO SINTO 11

Sou o que escrevo. Quem nunca me leu não conhece nem 10% do que sou. Veja também: tudo o que foi publicado em outubro de 2011 .

ESTILHAÇOS 4

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Escolhi - ou fui escolhido para - trilhar um caminho árduo, difícil, aquele que muitos sequer passam perto, o que invariavelmente leva às profundezas do ser, lá onde quase ninguém quer ir, nem saber o que há. Mas é onde cada um verdadeiramente é. Com tudo o que há de mais belo e mais horrendo. Vou na contramão, mas é a escolha, não há volta. Acho que por isso tenho grande afinidade com quem fala sozinho e quem tem sérias divergências com o espelho. Ilustração de John Tenniel para o clássico "Alice através do espelho", de Lewis Carroll. Vídeo: "Espelho" (João Nogueira/Paulo César Pinheiro), com João Nogueira. Veja também: Estilhaços Penso, logo sinto 10 Gasolina no Incêndio 12

FÁBRICA DE ÍDOLOS

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"A violência é tão fascinante E nossas vidas são tão normais..."  (Renato Russo) CENA 1: dois meninos, um de 8 e outro de seis anos, sentados no chão, assistem à TV. Propaganda com imagens de dribles e gols: “Futebol ao vivo, amanhã!” Os meninos se olham, levantam-se rapidamente, pegam a bola, improvisam uma baliza entre dois pés da mesa da sala e começam a jogar, um na linha, outro no gol. “Gol!” CENA 2: os mesmos dois meninos, sentados no chão, assistem à TV. Propaganda com imagens de um jogo de basquete, com jogadas e cestas espetaculares: “NBA ao vivo, não perca este grande jogo!” Os meninos se olham, levantam-se com pressa, pegam a bola e começam a quicá-la e arremessar para uma lata de lixo posta em cima da mesa. “Cesta!” CENA 3: os meninos na mesma posição, novamente vendo TV. Propaganda com imagens de uma partida de vôlei, com defesas e cortadas, grandes ralis: “Vôlei ao vivo na sua tela, hoje às 21h!” Os meninos se olham, levantam-se correndo, improv...

A MÍDIA BIZARRA

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Será que a forma como Amy Winehouse foi se matando e os “motivos” que a levaram a desistir da vida não são muito semelhantes aos dos outros astros que se foram aos 27 anos, com a única diferença de ela ter sido muito mais exposta do que os anteriores por viver num mundo paparazzo, bigbrotheriano? A degradação de Amy era espiada e transmitida quase diariamente pela mídia. Será que as angústias, dores, depressões e pressões que sofreu não foram tão intensas quanto às de Cobain, Morrison, Hendrix e Joplin? Talvez a ela tenha sido acrescido esse pré-show de Truman que vemos diariamente na internet e na televisão, mesmo que não queiramos. Que o homem sempre se sentiu atraído pelo escândalo e os crimes é uma verdade que existe desde que o mundo é mundo. Porém, creio que não haja precedentes na história dos veículos de comunicação tanta bizarrice e sangue para alimentar os consumidores sedentos e famintos da vida alheia. A glamourização do grotesco está nas páginas e telas sendo vendida...