Por qual ou quais motivos você ficaria duas horas numa fila imensa sem ao menos se importar? Poderia citar algumas razões hipotéticas e outras reais, mas fico com o que me aconteceu no sábado passado, dia 3. Tive o imenso prazer de estar acompanhado de pessoas muito queridas esperando - sob sol forte no início e vento e tempo fechado depois - a hora de poder ver a exposição Impressionismo - Paris e a Modernidade, no CCBB do Rio de Janeiro, com paciência e alegria. E não só eu. Inclusive minha afilhada Beatriz, de 5 anos, aguardou sem se impacientar um segundo sequer e também se sentiu recpompensada, tenho absoluta certeza. A sensação de sair de lá depois de tanta espera, com os pés moídos e exausto pelo cansaço físico e mental, foi não só de imenso prazer, mas de ter saído melhor do que quando entrei na primeira sala da exposição que vai até 13 de janeiro.
Difícil não se emocionar diante de alguns quadros. Especialmente os de Pierre-Auguste Renoir me arrebataram, mais até que de Monet, alguns já vistos na exposição de meados da década de 90, no Museu Nacional de Belas Artes. "Jovens meninas ao piano" (1892) particularmente foi a obra que mais me prendeu, não queria sair de frente sem apreender todos os detalhes. Impossível. Mas quem muito quer, deseja o impossível. E ainda ver num quadro ao lado o pequeno Jean Renoir (diretor do filme "A grande ilusão", de 1937) no colo de sua babá (e tia), como se fosse uma foto pintada por seu pai, também me comoveu.
Curioso que leio ainda nas primeiras páginas um livro sobre o designer gráfico Rogério Duarte, e um muito bom texto dele defende a arte como uso e não contemplação. Apesar dos bons argumentos que apresenta para defender a arte no desenho industrial, discordo quando critica a contemplação - guardando as devidas contextualizações -, porque a arte modifica, melhora, eleva, sacode. Diante da arte nenhum razoável espectador é passivo: todos os seus seis sentidos entram em ebulição. Foi assim que me senti sábado no CCBB.
Ilustração: "Jovens meninas ao piano", de Pierre-Auguste Renoir.
Veja também:
A brutal delicadeza de Kieslowski
Beleza e caos: arte em toda parte
O escrever
Poesia sem versos
Isso, Eduardo!!! Assim tb me sinto quando entro numa galeria de arte! Fico imensamente feliz em saber que existiu uma enorme fila e heterogênea! Precisamos de muitas e espalhadas por este Brasil com fácil acesso à "contemplação"!!!! Ótima crônica e que venham mais e muitas pra gente ler e contemplar!
ResponderExcluirMuito obrigado, Regina! Até que o Rio tem apresentado muitas e ótimas exposições. Que venham mais e que eu não perca mais tantas que deixei passar.
ResponderExcluir