segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A MÍDIA BIZARRA

Será que a forma como Amy Winehouse foi se matando e os “motivos” que a levaram a desistir da vida não são muito semelhantes aos dos outros astros que se foram aos 27 anos, com a única diferença de ela ter sido muito mais exposta do que os anteriores por viver num mundo paparazzo, bigbrotheriano? A degradação de Amy era espiada e transmitida quase diariamente pela mídia. Será que as angústias, dores, depressões e pressões que sofreu não foram tão intensas quanto às de Cobain, Morrison, Hendrix e Joplin? Talvez a ela tenha sido acrescido esse pré-show de Truman que vemos diariamente na internet e na televisão, mesmo que não queiramos.
Que o homem sempre se sentiu atraído pelo escândalo e os crimes é uma verdade que existe desde que o mundo é mundo. Porém, creio que não haja precedentes na história dos veículos de comunicação tanta bizarrice e sangue para alimentar os consumidores sedentos e famintos da vida alheia. A glamourização do grotesco está nas páginas e telas sendo vendida como o último grito da moda desde o movimento punk.
Veja na cabeça de Neymar e seus imitadores o resultado da manifestação daqueles garotos pobres da Inglaterra, que revoltados por não terem grana pra pagar ingressos dos shows das mega-bandas dos anos 60 e 70 começaram a protestar gritando e xingando contra aqueles que amavam. Primeiro se tornaram tão ricos e famosos quanto os ídolos e depois foram vendidos em prateleiras de lojas de vestimentas e supermercados. Che Guevara também sofreu o mesmo processo depois de morto, mas isso esticaria demais este assunto.
Mas não é só, claro que não. No Brasil, por exemplo, veja nas bundas e peitos inchados das mulheres hortifrutigranjeiras (mais granjeiras que frutas e hortaliças) e nas desafinadas e “belas” e “cantoras” que surgem diariamente o quanto Gretchen, Rita Cadilac e Xuxa foram influentes para as jovens dos últimos 30 anos. Veja o quanto elas vêm se deformando para ficarem parecidas com esses grandes exemplos. Veja no fânqui (funk carioca) como o que de pior existia na música e cultura americanas mais a cultura do tráfico fez com a cabeça e os corpos de adolescentes dos barracões às mansões nos últimos 20, 30 anos.
Por fim, veja na mídia e nos seus patrocinadores: a bizarrice tem mais valor que a arte.

Ilustração retirada da página oficial de Amy Winhouse no facebook.
Vídeo: "Back to black" (Ronson/Winehouse), com Amy Winehouse.
Veja também: 
Há 40 anos, o fim da voz rascante de Janis Joplin
Há 40 anos, o adeus de Jimi Hendrix
A midiotização

8 comentários:

  1. A mídia começa idiotizando, tornando o indivíduo um fantoche amorfo, sem cultura e sem objetivos; depois, ela apresenta seus valores como ideais que são facilmente aceitos pelas mentes previamente esvaziadas. Denunciar esse projeto macabro é fundamental se quisermos que nossos jovens se tornem homens e mulheres com contornos, desejos e objetivos próprios.
    Maite Santamarta

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  2. Belo texto meu irmão!

    Bruno Lobo

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  3. Muito pertinente o texto e a reflexão. A sociedade está doente e ninguém diz... A verdade é que a mídia pode deformar corpos, mentes, só a alma permanece intacta. Então, vamos fortalecê-la saindo da mente, e investindo no ser em sua totalidade.

    Abraços
    Paula

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    1. Valeu, Paula. Já está saindo do forno outro texto crítico, devo publicá-lo ainda esta semana.

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  4. Olhe, Eduardo, está tudo uma tristeza! Não consigo entender como temos normas proibitivas de agirmos contra tanto desserviço à educação no campo da mídia! Sinceramente, é abominável termos os meios de comunicação nas mãos de "políticos", proprietários de igrejas e afins. Já na universidade, quando tive aulas da faculdade de publicidade e propaganda questionei muito o verbo "persuadir". Não fui convencida. Opção eliminada. Minha vocação foi ser uma feliz RP.

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    1. Pois é, Regina, mal temos Educação e precisamos necessariamente debater qual queremos. A destruição da Educação (e também da Saúde) pública iniciada pelos militares foi continuada e agravada pelos ci(ser)vis que os sucederam. Adestramento, de qualquer tipo - ideológico, religioso, moralista - não serve. É preciso que pensamento e sentimento estejam juntos e livres entre professores e alunos, que não se tenha receio do questionamento. Só assim avançaremos. Obrigado mais uma vez pela participação e divulgação do meu trabalho. Beijos.

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