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O ESCREVER

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Escrever para mim é pôr a alma pelos poros. Obviamente que, como jornalista formado desde março de 1988, quase sempre tive de escrever para sobre(sub)viver como a puta que, enquanto dá, lê um gibi. Não acredito em profissão, creio em vocação, esse instinto de animal voraz que rosna com dentes afiados dentro de cada ser criador. O grande mal de nossos tempos é que existem profissionais demais e amadores de menos. Amadores não no sentido que lhes grudaram, de despreparados, inexperientes, mas sim daqueles que amam o seu ofício. Amador é aquele que não precisa do dinheiro como combustível para exercer seu trabalho, embora seja muito bem-vindo para que possa fazê-lo menos preocupado com as contas a pagar. Pratica-o sempre, não o deixa jamais, até porque ele o acompanha onde quer que vá, como uma sombra que se confunde com o próprio corpo que a produz. E para isso é necessário que haja a luz eterna da vocação. Os profissionais, por melhores que sejam, se não tiverem essa iluminaç...

SONHOS E PESADELOS NOS QUADROS DE CLÁUDIO NEIVA, O REPRESENTANTE DA PINTURA NUMA FAMÍLIA DE ARTISTAS

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Em um almoço no segundo dia deste ano, meu primo João Arthur me disse algo que nunca havia me dado conta inteiramente: nossa família, a Neiva, de meu saudoso pai (Sebastião), tem representantes vivos em quase todas as artes. Que eu saiba, ainda não temos um cineasta - quem sabe um dia emplaco um dos roteiros que já escrevi - e um escultor, considerando-se as sete artes tradicionais (música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura e cinema). A minha referência mais antiga de artista na família era o meu avô paterno, Geraldo, que tocava clarinete e compunha, embora eu não tenha chegado a conhecê-lo. Agora já soube por intermédio de meu tio Edson Cláudio Neiva, personagem principal deste espaço, que um tio-bisavô chamado Edimundo Barros era um grande compositor de músicas sacras, e que meu bisavô Francisco Marçal, além de barbeiro, também era clarinetista e regente da banda da terra de meu pai, Itaverava (MG), no início do século passado. Uma viagem e tanto no tempo. Há bailari...

SETENTA ANOS DO CANHOTINHA DE OURO

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O grande comandante daquela que é considerada a maior seleção de todos os tempos completou nesta terça-feira 70 anos de idade. Gérson, o Canhotinha de Ouro, que desde 1974 comenta jogos em rádio e televisão, sempre com seu jeito irreverente, merece ser lembrado como um dos mais talentosos e importantes jogadores da História do futebol. Praticamente não vi Gérson jogar. Os lances que guardei na memória desde pequeno são praticamente dos lançamentos e gols da Copa do Mundo de 1970, no México. Na época em que ainda sonhava me tornar jogador de futebol, eu procurava imitar o Canhotinha - geralmente com o pé direito - na hora de fazer lançamentos longos. Buscava sempre copiar a forma como ele batia por baixo da bola para que ela chegasse limpa ao companheiro.  Não cabe aqui dizer se fui bem ou mal-sucedido nas minhas tentativas nas muitas peladas que joguei em campos esburacados ou nas ruas de terra e de asfalto, mas o fato de muito novo ainda eu imitar um jogador que nunca havia visto ...

FOLIA DE REIS

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Dia de Reis me lembra Rio do Ouro (São Gonçalo-RJ), onde morei por 13 anos (de dezembro de 1993 a novembro de 2006). No primeiro ano meu lá, provavelmente em 6 de janeiro de 1994, um grupo de senhores e poucos jovens vestidos do que para mim - na minha imensa ignorância - eram apenas fantasias coloridas, vieram à porta de minha casa, que nem portão direito ainda tinha, com instrumentos, tocando e cantando. Fiquei paralisado com meus dois filhos e minha mulher com o terceiro na barriga assistindo da varanda àquele show particular, meio sem saber o que fazer. Aplaudimos e eles se despediram rumo a outra residência da rua de terra em que morávamos. Descobrimos depois que teríamos de presenteá-los com algo, um bolo, algo para comer, talvez. Pelo menos foi o que nos disseram. Mas, como disse, ignorávamos. Mal sabíamos que o folclore havia batido à porta de nossa casa e se despedira para nunca mais voltar... Veja também: A Força Nordestina Antúlio Madureira, o Mestre de Obras-Primas ...

ADEMIR DA GUIA, O DIVINO

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Outro dia a trabalho tive o prazer de ver um vídeo produzido pelo site do Palmeiras com um bate-papo entre César Maluco e Ademir da Guia e pude recordar o quanto o Divino tem de valor dentro e fora de campo. Simplicidade e elegância. Para mim, Ademir da Guia foi o Paulinho da Viola dos campos de futebol, genialidades pouco reconhecidas, talvez até pelo jeito tímido de cada um desses artistas. Daria um belo papo entre o palmeirense e o vascaíno. Fica a idéia. Ademir, que começou no Bangu, foi um dos melhores jogadores que vi atuar, embora tenha pego já o finzinho de sua carreira. Mesmo assim, o modo como dominava a bola e a visão que tinha do campo e do gol sempre me impressionaram. Para os mais novos poderem ter uma idéia, sem entrar na babaca discussão de quem foi o melhor, Zidane tinha um estilo de jogar muito semelhante ao de Ademir. Cabeça em pé, telescópio do time, avistava cada canto do campo, com a bola grudada nos pés. E a mesma facilidade para arrematar de pé direito ou esque...

A QUESTÃO DO FÂNQUI E O VELHO ANGENOR

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A prisão de fanqueiros no Rio de Janeiro fez levantar a turma dos bailes em defesa da liberdade de expressão. A situação educacional, cultural e ética deste país anda tão rasteira que muitos acham que ter liberdade para dizer o que se pensa (pensa!?) é se eximir de qualquer responsabilidade sobre o que publicamente se diz – ou canta (canta!?) – e consequentemente ficar livre de qualquer penalidade. Antes de tudo, o fânqui é um produto cultural de uma cidade que optou ao longo dos últimos 30, 40 anos por se descaracterizar, se aculturar, pela superpopulação, pelo crescimento urbano desorganizado, pela baderna, pelo jeitinho, o passa-perna, a esperteza, a valorização do grotesco, do imundo, do desrespeito e da bandidagem, que não se limita aos morros é muito bom que se ressalte. Não sou advogado, muito menos juiz, para saber se a punição com prisão destes fanqueiros especificamente foi exagerada ou não. O que sei há muito, muito tempo é que o fânqui chamado de “proibidão” sempre foi o ...

HOMENAGEM AO TEATRO

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Quando ficamos doentes também nos tornamos mais emotivos. Já dava este dia como perdido, quase todo ele dormindo, impossibilitado de ir para o trabalho, quando à noite, já um pouco melhor, resolvi pôr no aparelho de DVD “Tempos de Paz”, um filme adaptado da peça “Novas Diretrizes em Tempos de Paz”, escrito por Bosco Brasil. É uma grande e emocionante homenagem ao teatro e a muitos artistas e cientistas que “a guerra tornou brasileiros”. Como no texto de Brasil, em que as memórias de Segismundo (Ramos) e Clausewitz (Stulbach) são o centro da história, e o teatro, o elo que acabará os unindo, muitas lembranças me vieram. Abaixo, quando falo do filme “A Suprema Felicidade” , critico Stulbach, afirmando que ele já havia feito trabalhos bem melhores. E em “Tempos de Paz”, ele está magnífico e me comoveu muito, especialmente com seus gestos (os gestos do ator dentro do ator) em sua interpretação final. Um grande momento. Mas, como dizia, talvez por estar mais emotivo neste dia quase perdido,...