quarta-feira, 27 de abril de 2011

REENCONTRO COM LOBÃO *

Já começava a querer dar por encerrada a leitura de mais um capítulo do livro "Lobão, 50 anos a Mil" na madrugada deste 27 de abril de 2011 quando me deparo com algo surpreendente que me fez corrigir o rumo que traçava nesta noite chuvosa: em vez de dormir, afinal já estava na cama com sono, vim para o computador. Conta Lobão, creio que em 1997, quando se recuperava bem de mais uma tentativa de suicídio e já começava a compor as músicas do histórico e excelente CD "A Vida é Doce", que foi assistir com sua mulher, Regina, ao filme "A Eternidade e Um Dia", do cineasta grego Theo Angelopoulos, no Cine Estação Botafogo, e que foi por intermédio deste filme que conseguiu fechar aquela que é uma das que mais gosto dele, a que dá título ao álbum numerado e vendido em banca, justamente com a frase que faltava: "A Vida é Doce".
Caramba, eu estava na mesma sala, na mesma noite, assistindo ao filme e não sabia que havia sido tão importante para ele como foi para mim. Acho que fui sozinho ao cinema, mas nunca esqueci desse episódio, por alguns bons motivos. Primeiro, o fato de ter me surpreendido na fila com um artista conhecido e era um Lobão bem mais magro do que estava habituado a ver na TV e nos jornais. Até fiquei um pouco na dúvida se era ele mesmo, mas já dentro da pequena sala (ele entrou primeiro) confirmei que era o próprio. E principalmente porque aquele ótimo filme (que aliás preciso rever) me inspirou a escrever a poesia "Minha Noite". Fiz inclusive questão de destacar que ela fôra inspirada no filme do cineasta grego. Quatorze anos se passaram para que houvesse esse reencontro, embora ele mal saiba quem sou e muito menos que houvera um encontro.

MINHA NOITE

Inspirada pelo filme “A Eternidade e Um Dia”, de Theo Angelopoulos

Nunca precisei tanto de um abraço!
E na solidão da minha noite
o que eu mais quis
foi o que nunca tive:
o seu!
Cheguei a pensar em alugar um corpo
pra fingir ser o seu...
Sim, mil vezes sim:
o amanhã é a eternidade
e um dia;
E sei que posso morrer
a qualquer instante,
mas também que posso
viver cem anos
num só dia.

* Este texto também está publicado no site Coluna do LAM
Ilustração: Fábio Oliveira (http://desenhafabio.wordpress.com/)
Vídeo: cena do filme "A Eternidade e Um Dia", de Theo Angelopoulos. Esta é a que Lobão descreve no livro como sendo a que o fez achar o verso que faltava para fechar a música "A Vida é Doce", que também dá título ao CD lançado em 1999.
Veja também:
A brutal delicadeza de Kieslowski
Esquizofrenia
Os Sopros Mágicos de Carlos Malta

5 comentários:

  1. Grande Eduardo, problema algum...é sempre uma honra!


    Abraço,

    Fábio.

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  2. não é um livro que eu leria, mas tua postagem ficou muito interessante!

    abraços

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  3. Valeu, meus caros!
    Voltem sempre.
    Forte abraço.

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  4. Há filmes que são assim como uma espécie de chama de que se estava á espera para a inspiração saltar! E o contrário tb acontece.
    Não vi o filme mas o assinalei para ver proximamente...quem sabe não arranjo coragem para publicar o meu livro? Nada acontece por acaso, não é meu caro?
    Beijo
    Graça

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  5. Graça,
    muito obrigado pela visita e o comentário. Volte sempre!
    Veja o filme, é belíssimo. E vá em busca sempre daquilo que crê e ama. Estou finalizando um livro também e espero em breve publicá-lo.
    Beijos.

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