sábado, 18 de outubro de 2008

MANIFESTO DE RESISTÊNCIA

Estou espantado com a passividade com que foi encarada até agora a tal reforma ortográfica da Língua Portuguesa. Passividade de um lado e do outro um movimento quase festivo de meios de comunicação que já anunciam suas adesões precoces à grande novidade. Manuais já circulam pela internet para que todos estejam inteirados do que mudará. Eu, como jornalista e escritor e antes de tudo cidadão, sinto-me aviltado por uma reforma que teve como manipuladores burocratas e pseudo-intelectuais.
Não sei ainda como isso está sendo encarado em Portugal, por exemplo, mas aqui, repito, eu me vejo perplexo com a submissão alegre com que está sendo acatada esta mudança decidida por uma minoria. As línguas e os dialetos são vivos, mas historicamente os "poderosos" sempre quiseram unificá-los, padronizá-los, pasteurizá-los, aprisioná-los ou exterminá-los. Fico imaginando o que deve estar se passando na cabeça dos professores de Português a esta altura do campeonato. Muito do que ensinam com dificuldades cada vez maiores não valerá mais daqui a alguns meses.
Dizem os defensores da reforma que ela é ínfima, que pouco afetará os que vivem da Língua. Como ínfima, se cada vez que alguém escrever “pode” não saberei se é no passado ou no presente, já que o acento circunflexo que os diferenciava cairá? O que dizer do “para” preposição e o “pára” do verbo “parar” que passarão a ser escritos da mesma forma? E a abolição do trema - que já li numa página na internet como “aqueles dois pontinhos chatos em cima do u” - que nos ajuda a pronunciar corretamente palavras como “lingüiça”, “freqüente” e “tranqüilo”, quais seqüelas nos deixará? Sequelas! E os portugueses – e muito proavelmente os outros cidadãos de países de Língua Portuguesa, fora o Brasil – que serão obrigados a retirarem o “c” que pronunciam de “facto” no seu dia-a-dia?
Lanço este pequeno manifesto de resistência em defesa dos interesses daqueles que com muita dificuldade, mas com muita dedicação e amor à Língua Portuguesa, lidam diariamente com a escrita e a leitura. Não só brasileiros, mas também portugueses, angolanos, moçambicanos, caboverdianos, timorenses do Leste, santomenses e guineenses. Não é nos padronizando que vão nos unir. Viva a diferença!

Vídeo: "Angola", com a caboverdiana Cesaria Evora.
Veja também:
Gasolina no Incêndio 5

7 comentários:

  1. Também acho um absurdo essa reforma ortográfica. Em nome de uma suposta ação para facilitar o intercâmbio dos países da CPLP, estão impondo uma padronização ortográfica que desrespeita as peculiaridades da língua nos países e a própria evolução natural do idioma de Camões.

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  2. Grande Eduardo Lamas, foi um enorme prazer ter conhecido essa mente brilhante, e ter convivido na sua mocidade, já ansiosa e desejosa de mudanças, convicto em suas ideias e que hoje como cidadão, jornalista e escritor, demonstra conhecimento cabal sobre nossa reforma, ortografica.
    Que seu blog seja um levante para novos temas nacionais e mundiais, e que possamos refletir nos nossos desejos de um Pais melhor. Desejo toda a felicidade do mundo, ao amigo Eduardo Lamas.
    Att. Fernando (pato)

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  3. Estou com você, Lamas!
    A reforma é um acinte à Língua Portuguesa.

    Um beijo
    Ida

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  4. Amigo,
    concordo com você, no que diz respeito a essa insuportável reforma ortográfica. Sentimos isso quando aconteceu anos atrás não é mesmo? E agora? O que está por trás disto? Quem está ganhando? Isto é igualar? De onde surgiu esta reivindicação? Talvez daqueles que não acentuam as palavras por não conhecerem nossa língua.
    Espero que Portugal esteja pensando seriamente antes de aceitar esta padronização. Conte comigo, pois farei o meu protesto na medida do possível. Os cidadãos não serão ouvidos?
    Como sempre, meia dúzia de pessoas se reúnem e brincam de fazer leis.
    Grande abraço,
    Rosângela Aleixo.

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  5. Ufa! Pensei que era só eu que achava essa reforma ridícula. Pára com wilson, deixa dilson. Não tem pq mudar nada. Viva a diferença e a evolução NATURAL da língua. Já aderi ao movimento.

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  6. Bom, eu na verdade, não sei direito ainda o que pensar. Mas tenho uma questão como escritora. Acho que a língua portuguesa é muito pouca expressiva no mundo globalizado. São poucos os países que a utilizam. Portanto, acho bom a uniformização, por pior que seja esta palavra, para que possamos agir em bloco. Não adianta ficarmos contra uma realidade: o mundo está globalizado. Haja vista a crise internacional que vai afetar a todos nós. E precisamos juntos achar o espaço da nossa língua. Por esse lado, sou a favor sim da reforma. Entretanto, temos a questão do nacionalismo, que tb é uma questão da globalização, respeitar a identidade cultural, a diversidade, o que sou expressivamente a favor. Por isso, ainda me sinto em debate. Se for pela sobrevivência da língua e para atuarmos em mantê-la viva frente ao eterno domínio do inglês, francês, italiano e espanhol, sou a favor. Afinal, somos minoria e que minoria. Pq você vai ao exterior e quase não existe filheto em museus em português, o mais perto de nós é o espanhol. E aí? Os livros de língua portuguesa são poucos traduzidos. E o Nobel? A literatura perde-se na disputa entre os americanos, ingleses e franceses, com exceções ao mundo árabe e africano há muito pouco tempo. Temos que ter cuidado para não cairmos no nacionalismo exagerado e fundamentalista. este é o mue medo, que acaba nos tornando excludentes. Beijos, Edu, mais polêmica. E dúvidas, como sempre.

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  7. Estão reduzindo isso a uma questão meramente ortográfica quando há aspectos de cunho cultural como o vocabulário.
    "Ficheiro" passará a ser "arquivo" ou "arquivo" será "ficheiro"?
    Ledo engano achar que que o inglês é o mesmo em todo o mundo. Muitas vezes já vi a opção entre "Inglês internacional" ou "Inglês EUA" em instaladores de programas. O que dizer do en_CA, en_GB?
    O máximo que vão conseguir é uma terceira variante: o português morto.

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