Retratada de forma ao mesmo tempo histórica e ficcional em livro de Paulo Lins que depois foi para as telas de cinema, a Cidade de Deus sempre teve a fama justificada de um dos lugares mais violentos do lado mais cruel do Rio de Janeiro. A coisa se acalmou um pouco nos últimos anos com a "pacificação" implementada pelo Governo do Estado, que por outro lado jamais se preocupou em dar sustentação ao projeto das UPPs com os mais fortes alicerces que crianças e jovens devem ter: a Saúde e a Educação. Como o Governo se ausenta destes e de outros vários setores prioritários, a sociedade se movimenta para fazer a sua parte e a de quem deveria estar à frente de tudo. Assim, já há três anos, a Agência do Bem atua na Cidade de Deus com um pólo da Escola de Música e Cidadania, atendendo a 200 meninas e meninos.
Levado por um grande amigo (mais que amigo, irmão), tive a honra de conhecer o trabalho dessa organização da sociedade civil em 7 de agosto deste ano em seminário realizado num hotel da Barra da Tijuca. Lá pude assistir comovido a uma apresentação de um sexteto selecionado da Orquestra Nova Sinfonia, que abrange jovens e crianças de outras duas comunidades atendidas pela Agência do Bem: Beira Rio, em Vargem Grande, e Novo Palmares, em Vargem Pequena. E no debate realizado naquele dia, após a apresentação de Alan Maia, diretor da Agência do Bem, dos seus parceiros e da sensacional palestra do economista Sérgio Besserman, vi claramente que muito mais do que formar músicos profissionais, o objetivo é sensibilizar e formar público para músicas de qualidade. E isso também vale para os adultos.
Esse trabalho fantástico me motivou a levar a ajudá-lo de alguma forma. E depois de cedermos alguns DVDs e CDs para o acervo da Escola de Música e Cidadania, tivemos a chance de levar ontem, 15 de outubro, dia do Professor, o ator-palestrante internacional Raul de Orofino para uma apresentação especial e gratuita na Cidade de Deus. E como pus no título, foi uma tarde inesquecível, por tudo. Pela apresentação inspirada e inspiradora deste grande ator, a interação com o público jovem presente, a participação de todos na conversa que houve após a peça "O Homem do Fecicebuque e outras histórias", o brilho no olhar de cada um, o carinho e o amor dado e recebido, todo o aprendizado que se colheu em mais ou menos três horas naquela sala de aula.
Saí da Cidade de Deus, pouco depois das 16h, uma pessoa muito melhor do que a que chegou lá, por volta de 13h. E vi reforçado em mim que não serão grandes reformas políticas, legislativas ou judiciárias, revoluções, protestos - ainda mais os violentos -, projetos mirabolantes e milionários, que farão mudar para melhor nosso dia a dia, nossa casa, nosso prédio, nossa rua, nosso bairro, nossa cidade, nosso estado (e o Estado), nossa região, nosso país, nosso continente, o mundo. É somente exercendo por inteiro o amor, uma palavra que anda sendo desgastada por tão mal usada, que poderemos "sacudir o mundo" (viva também o outro Raul!). Tenho agora isso definitivamente dentro de mim.
Foto: Vanderson Rodrigues
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Belo texto, Edu!
ResponderExcluirValeu mesmo, Paulito! Volte sempre, meu camarada. Abraçaço.
ExcluirA cada dia que passa me orgulho mais de você, da sua humildade ao reconhecer suas fragilidades, da sua coragem em colocar a cara no mundo falar e voltar atrás se for preciso. O texto traduz sua sensibilidade e a redenção ao único sentimento que pode nos tornar verdadeiramente felizes se o canalizarmos de forma altruísta: o amor.
ResponderExcluirParabéns pelo emocionante texto, parabéns ao grande Raul de Orofino (ou seria de "OURO"fino? rs...), parabéns à agência DO BEM e parabéns à MAIS E MELHORES PRODUÇÕES ARTÍSTICAS.
Muitíssimo obrigado, meu amor! Você sabe o quanto me ajudou e me ajuda nesta caminhada. Só tenho a agradecer por tudo a você. Principalmente ao seu amor. Um beijão.
Excluirlegalzis! compartilhando!
ResponderExcluirObrigadão, meu caro! Abração.
Excluirbacana!
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