"Nilze Carvalho, a volta da menina prodígio" é uma entrevista que fiz com a bandolinista, cavaquinista, violonista, cantora e compositora no campus da UNI-Rio, na Urca, zona sul do Rio de Janeiro, em 2001. Naquele local e naquela época, eu só fiquei sabendo agora, ela já estava arquitetando o grupo Sururu na Roda, do qual ainda faz parte, atualmente com a companhia de seu irmão Silvio Carvalho (voz, percussão e cavaquinho), Fabiano Salek (voz e percussão) e Juliana Zanardi (voz e violão). Este texto abaixo (com mínimas alterações) foi publicado originalmente no extinto site "Papo Carioca".
Ela surgiu como fenômeno musical no início da década de 80, quando com 11 anos gravou o seu primeiro disco (“Choro de menina”), tocando seu bandolim com a habilidade de um adulto, embora já se apresentasse em televisão e rádio desde os seis anos de idade. Gravou clássicos do chorinho, muitos ao lado do conjunto “Época de Ouro”, e se tornou a menina prodígio do gênero em mais cinco LPs e depois sumiu para os fãs brasileiros.
Por onde andava, Nilze Carvalho era uma pergunta que me acompanhava desde que conheci quase que por acaso o seu primeiro disco há apenas dois anos. A resposta veio primeiro com a sua belíssima apresentação na Praça XV, em frente ao Paço Imperial, num sábado de abril. Ela estava por perto e continuava tocando muito bem, já ficara sabendo, e, melhor, estava cantando igualmente.
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No entanto, continuava sem saber porque estava tanto tempo sem aparecer, tanto tempo sem dar notícias. E resolvi marcar uma entrevista para esclarecer o assunto e conhecer um pouco mais dessa mulher de sorriso infantil e mãos virtuosas, hoje com pouco mais de 30 anos de idade.
Nilze começou a viajar em 1984, quando com apenas 15 anos apresentou-se na Itália, na França e na Espanha. E, depois de gravar os volumes dois, três e quatro do “Choro de Menina” e os discos em que fez suas primeiras incursões cantando, o “Deixa-me Cantar” (antes do seu lançamento, em 1989, passou 11 meses nos Estados Unidos) e “Apresentação”, passou a ficar mais tempo no exterior do que no Brasil.
De família humilde e tocando músicas pouco valorizadas pelo mercado fonográfico brasileiro – o chorinho e o samba – Nilze não teve como recusar seguidas viagens para se apresentar em casa de shows e restaurantes do Japão, onde acabou gravando um disco. De 1991 a 1997 passou praticamente seis meses por ano no país do sol nascente, sendo que em 1998 esteve na China e no ano passado passou quatro meses e meio na Austrália e um mês na Argentina.
Em 1998, no tempo em que esteve no Brasil, conseguiu gravar o seu primeiro CD, pela mesma gravadora CID dos LPs, o volume quatro da série Chorinhos de Ouro. Nos outros volumes a CID aproveitou gravações dela feitas para os seus primeiros LPs.
Dessas viagens todas, as coisas que mais a impressionaram foram a adoração que os japoneses têm pela música do Brasil e a obstinação deles para aprender a tocar os ritmos brasileiros: “Eles brigam para ficar junto ao palco. Gravam tudo com filmadoras. Alguns japoneses tocam tão bem chorinho, que se você não vir quem está tocando, vai pensar que é um brasileiro”, afirma quem é mestra no assunto.
Embora tenha toda essa experiência, isso não a impediu de voltar a estudar para se aprimorar naquilo que está em seu sangue: a música. Nilze está estudando na UNI-Rio: “A gente precisa estudar sempre e, como sou autodidata, não leio muito bem partituras”.
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Nilze reclama um pouco da distância que tem de percorrer de Campo Grande (zona Oeste do Rio), onde mora, à Urca, onde fica a universidade, mas diz que está sendo muito interessante poder se aprofundar no assunto que ela mais entende desde os cinco anos, quando para surpresa de seu pai, o compositor, pistonista e violonista Cristino Ricardo, e de toda família, começou a tocar de ouvido “Acorda, Maria Bonita” e nunca mais parou.
“Na universidade é bom também porque a gente vai tocar em festas e posso mostrar algumas músicas novas e ir, dessa forma, vendo a repercussão, fazendo a divulgação do trabalho”. Trabalho que ela pretende fazer cada vez mais de forma elaborada, meticulosa. Já com um estilo de repertório definido (“quero tocar e cantar sambas antigos, de Ary Barroso, Ataulfo Alves, além de um choro com letra de Klecius Caldas”), Nilze quer trabalhar com um produtor e um arranjador na gravação de seu próximo disco.
Ela tem visto com muito bons olhos o movimento de gente nova no choro, o que pode facilitar a sua permanência por mais tempo no Brasil. Para ela, a música comercial, tipo axé e pagode, está saturando as pessoas, que estão procurando ouvir outras músicas, o que tem feito o choro voltar a crescer.
Nilze, inclusive, esteve em Brasília há quatro anos, num curto período em que esteve no Brasil, juntamente com mais 49 cavaquinistas para a homenagem que a Escola de Choro da capital federal fez a Waldir Azevedo. “Toco mais o bandolim, mas fui de cavaquinho mesmo”. Modéstia de quem é autodidata, canta e toca também violão e, de quebra, percussão.
O fato de ter ficado tanto tempo fora do Brasil também dificultou um pouco a formação do grupo que toca com ela atualmente – “Chamei o pessoal da minha área, como se diz”. Mas, pela exibição e o assédio do público após o espetáculo de abril, já deu para perceber que o time está entrosado e a capitã continua inspiradíssima. Não foi à toa que as pessoas ficaram encantadas com a simpatia e o talento de Nilze – muitas que jamais haviam falar nela, como as crianças de um colégio que passavam com suas professoras para uma visita ao Centro Cultural Banco do Brasil e pararam para sambar a valer ao som da bandolinista.
Tocam com Nilze os seus irmãos Sérgio e Sílvio, na percussão; Pedrinho, que toca violão de sete cordas também com o mestre da flauta Altamiro Carrilho; além de Mequinho, filho de Pedrinho, no teclado e violão; Nilson, na percussão e voz, e Toninho, no cavaquinho. Neste mês, ela e sua turma se apresentaram na Lona Cultural de Campo Grande, com repertório novo, inclusive com composições dela e de seu pai e os maravilhosos chorinhos de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Ernesto Nazareth, Waldir Azevedo e muitos outros mestres valorizados pelo toque pessoal de Nilze Carvalho.
Fotos: Nilze Carvalho (do site oficial do Sururu na Roda) e reprodução da capa do LP "Choro de Menina".
Vídeo: "Carioquinha" (Waldir Azevedo), com Nilze Carvalho em participação mais que especial em show de Julião Boêmio, no Teatro da Caixa, de Curitiba, em 2010.
Veja também:Tudo o que foi publicado em agosto de 2011
Trecho do ebook "Velhos conhecidos"
Trecho do ebook "Velhos conhecidos"
sou filha de vivaldo medeiros autor de chora craviola, tive a honra de saber que nilze carvalho gravou essa música de meu pai. gostaria jmuito de ouvi-lá. Já faz 22 anos que ele nos deixou.
ResponderExcluirPrezada Andrea, a honra é minha de ter sua visita e seu comentário aqui no blog Em Questão. Nilze e seu grupo, Sururu na Roda, se apresenta constantemente em casas da Lapa, Centro do Rio de Janeiro. Ultimamente tem se apresentado no Centro Cultural Carioca, que fica na Rua do Teatro, 37, Praça Tiradentes - Centro. Abraços.
ExcluirFui aluna de seu pai no Méier há mais de 40 anos, ele me ensinou tb à tocar essa música. Chegou a ir no programa do Flávio Cavalcanti. Lindíssima a música. Tenho em minha memória, tb gostaria de ouvir
ResponderExcluirOi Vania, peço primeiramente desculpas por tanta demora em responder, mas é que não recebi notificação do seu comentário. Agradeço muito por sua visita, volte sempre. Não moro mais no Rio de Janeiro desde 3 dias antes de você publicar este comentário aqui e atualmente só tenho contato (muito, muito esporádico) com a Nilze pelas redes sociais. Mas ela está na ativa, encantando o seu público. Obrigado, mais uma vez.
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