Veja também:
A palavra é...
Gasolina no incêndio #6
A midiotização
Nem alegre, nem triste: poeta. Aprendendo a amar, nunca chegando na hora marcada.
O falecimento há poucos dias do cantor Paulinho, do Roupa Nova, levou minha mente em viagem de volta à minha adolescência e às festinhas de amigos e colegas do colégio, no início dos anos 80. Os dois primeiros discos do Roupa eram presença certa em todas elas. Não tenho certeza se "Sapato Velho" era muito executada nas festas, mas como na mesma época as FMs a tocavam sem parar, tudo pertence ao mesmo tempo e lugar.
Esta música de Mú Carvalho (Cor do Som), Cláudio Nucci (ex-Boca Livre) e Paulinho Tapajós é uma das minhas prediletas. Ela fez parte do disco de estréia do Roupa Nova e gosto muito deste e dos dois posteriores da banda. Depois disso ficaram românticos demais para o meu gosto e me desinteressei. Antes, porém, fui a muitos shows deles, principalmente no ginásio Hugo Padula, do Grajaú Country Club.
Com amigos e meu irmão, já nos meus tempos da faculdade de Jornalismo (na infelizmente falecida Gama Filho), fomos à casa do guitarrista Kiko, que morava na época (1986, 87) em Bonsucesso, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro em que nasci, para fazer uma entrevista que não seria publicada em lugar algum. Pouco depois fomos a um show do Roupa no Canecão e, como já conhecíamos o Kiko, conseguimos ir ao camarim depois da apresentação e conhecer os outros cinco integrantes. Curiosamente, dois deles (Ricardo Feghali e, creio que, Nando) moravam no Grajaú, onde vivi de 1971 a 93 e depois de 2006 a 19, mas nunca os vi no bairro.
Outra curiosidade é que durante os anos 80 diziam que o nome do grupo havia sido dado por Milton Nascimento, por causa da música de mesmo nome. Mas isso foi desmentido posteriormente pelo próprio grupo. Bom, enquanto o Paulinho se encaminha para a Luz no Mundo Espiritual, aqui os fãs do Roupa Nova continuarão a se recordar dele com muito carinho e saudade. Em homenagem a ele, aos simpáticos integrantes do grupo e aos seus admiradores, a bela "Sapato Velho" no vídeo abaixo.
Este era um esboço guardado há muitos anos que retomei, diante da necessidade de inscrever algo inédito, para trazê-lo aos sombrios dias e noites deste 2020. É uma crônica com um certo jeito de conto, as imagens se confundem um pouco, afinal as intenções não estão lotando só infernos pessoais e coletivos, mas os mais discretos atos e pensamentos do nosso dia-a-dia. É preciso um olhar mais atento para as belezas do mundo, muitas delas nos mais simples e mínimos detalhes.
Além dessas boas novas, há outros movimentos sendo feitos nos bastidores graças a um sim que encerrará um jejum de 18 anos e um convite que me deixaram muito feliz. Em breve, poderei divulgá-los. E aos que carinhosamente perguntaram sobre o projeto Jogada de Música, ele está no vestiário e voltará para a segunda etapa, renovado, com muito mais força do que na etapa inicial, que teve a duração de cinco anos e a ajuda de vários parceiros, aos quais devo muita gratidão.
E assim vai chegando ao fim mais um ano, que para muitos não existiu, mas que para mim foi intenso, de muito trabalho (profissional e interno). Resiliência pode ser a palavra para resumir estes 12 meses que vão findando. Amigos e conhecidos se foram pela Covid, mas por outro lado muitos se recuperaram, inclusive minha mãe, e outros tantos estão se recuperando. Na fé e na vontade, tenho certeza de que faremos merecer um 2021 muito melhor, apesar... Não, não vou sujar este texto.
Feliz Natal e um Ano Novo repleto de Saúde, Paz e Prosperidade.
Veja também:
"Sutilezs": amor, paixão e surpresas
"O negro crepúsculo", um trabalho de 11 anos
"Profano coração" está de volta
Os estupendos e dolorosos primeiros minutos do filme "Anticristo", do dinamarquês Lars Von Trier, é ilustrado por este trecho da ópera "Rinaldo", de Händel, música que você não consegue separar das imagens (em PB e câmera lenta). É uma obra-prima para ficar registrada eternamente na memória do cinema. Revi este filme, nada fácil de se assistir, há poucos dias e logo me impus a necessidade de colocá-la aqui nesta série que promete ser longa, bem longa e agradável, pelo menos para mim.
Apesar de algumas infelizes declarações e posições, Lars Von Trier é um dos grandes cineastas de todos os tempos. Pelo menos para mim é. E ele conquistou minha admiração logo no primeiro filme que vi dele: "Dogville". Depois vi outros tantos, mas o papo aqui não é cinema, é música, esta maravilha chamada "Lascia ch'io pianga".
Não tive o cuidado de ver nos créditos, nem a curiosidade de pesquisar quem canta e que orquestra toca esta obra na gravação que está no filme, que tem o grande Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg em sublimes e contundentes atuações. Preferi acreditar que é esta aí abaixo, com Patricia Petibon e a Orquestra Barroca de Veneza. Vá, veja, ouça, e deixe-me chorar.
E foi mesmo inesquecível aquele Mundial realizado na Alemanha Ocidental, por diversos motivos, e - ressalte-se - não só para mim, claro. Eu começara a esboçar minha ligação íntima com o futebol em 1973, não só acompanhando meu time do coração, o Flamengo, como já a seleção. Lembro-me bem de ter assistido na casa de um amigo que faria aniversário no dia seguinte ao amistoso em que o Brasil venceu a anfitriã da Copa do ano seguinte, por 1 a 0, em 16 de junho de 1973, com um gol de Dirceu, então ponta-esquerda do Botafogo.
Mas o que me maravilhou mesmo naquela Copa foi um time de laranja, já que Seu Zagallo pôs o Brasil numa retranca tão ferrenha que quase tira a seleção na primeira fase. Não fosse um chute improvável de Valdomiro e o goleirão frangueiro do Zaire... Mas foi Cruyff, Kroll, Neeskens, Rep e cia que fizeram minha cabeça e ajudaram muito a moldar o meu gosto pelo futebol bem jogado, o futebol-arte, aquele que existe porque a vitória não basta. Foi a última revolução do futebol, veja só, há 46 anos, e ela é muito utilizada nos campos de hoje com a tal intensidade de jogo tão repetida pelos professores, masters ou simplesmente técnicos de futebol. Uma pena ter perdido a final, embora os alemães tivessem também grandes craques, como Beckenbauer, Maier, Breitner, Overath e o artilheiro Gerd Müller.
Gerd Müller se prepara para bater cruzado e marcar o gol que daria o título de 74 à Alemanha Oc. |
Mas não foram só holandeses e alemães ocidentais que fizeram bonito naquele Mundial. Se a então tricampeã mundial decepcionou muito, apesar de grandes jogadores na equipe (Leão, Luís Pereira, Marinho Chagas, Carpegiani, Paulo César Caju, Jairzinho, com o luxo de ter no banco Nelinho, Ademir da Guia e Leivinha), o mesmo não se pode dizer da Polônia, por exemplo. Lato, autor do gol da vitória na disputa do terceiro lugar contra os brasileiros, Szarmach, Tomasevski, Deyna, Zmuda e outros apresentaram um grande futebol. Suecos e iugoslavos não foram tão mal para suas possibilidades, e os alemães orientais surpreenderam, vencendo os irmãos ocidentais. Aquele Mundial teve um ótimo nível e foi um dos melhores que acompanhei.
A média de gols por jogo foi de 2,55, com o Brasil contribuindo muito para baixar a média, pois fez apenas seis (metade no Zaire) em 7 partidas (média de 0,86). O quarto lugar acabou sendo lucro. Quem fez pior, entre as seleções mais tradicionais, foram a Itália e o Uruguai, que ficaram na primeira fase.
Aí abaixo selecionei um vídeo entre alguns que existem no YouTube, com todos os gols daquela Copa memorável (observe que a seleção brasileira só aparece marcando em três jogos, pois ficou no 0 a 0 com Iugoslávia e Escócia, nos dois primeiros jogos, e perdeu de 2 a 0 para a Holanda e de 1 a 0 para a Polônia, nos dois últimos). Foi uma Copa com muitos gols bonitos e duas goleadas escandalosas: Iugoslávia 9 x 0 Zaire e Polônia 7 x 0 Haiti. Divirta-se!
"Premin", ou "Pass Over", na versão em inglês, é uma música do trio Anastasija (ou Anastasia) que faz parte da belíssima trilha sonora do espetacular filme "Antes da Chuva" (Pred Dozhdot ou Before The Rain), dirigido pelo macedônio Milcho Manchevski (Milčo Mančevski). É definitivamente um dos melhores filmes que já vi e a música do grupo macedônio contribui muito para isso. Não por acaso, portanto, eu o revi pelo menos duas vezes, depois de tê-lo assistido no cinema.
Revisitar este belíssimo - e duríssimo - filme me remeteu a um texto de Rubem Alves em seu livro "Pérola Feliz Não Faz Ostra": os gregos inventaram a Arte ao extraírem a beleza da dor, da tristeza, da tragédia. Concordo muito e não só para desafinar ainda mais o desafinado coro dos contentes, muito menos para desafiar o dos descontentes. Para os gregos, Rubem Alves, eu e mais algumas muitas pessoas, Arte é a verdadeira cura.
Esta música é para mim a mais bonita e longa da trilha, embora no filme toque apenas uns três minutos e meio dos mais de 11 do original. Para quem quer sair do habitual e premiar seus ouvidos com outros (belos) sons, vale muito ouvir (e na versão ao vivo, também ver) Goran Trajkovski (voz principal, gaita de fole e flauta), Zlatko Oriǵanski (violão, bandolim, flauta e segunda voz) e Zoran Spasovski (bateria, percussão, teclados e segunda voz). Ótima viagem!
Veja também:
Uma viagem no tempo e no espaço com Loreena McKennit
Um sonho chamado Kurosawa
Músicas que nos fazem viajar
Templos e espetáculos
Lhasa de Sela já mereceu uma postagem neste blog, quando assustado descobri que ela havia morrido justamente quando buscava informações para escrever sobre esta incrível cantora, que conheci por intermédio de uma amiga, que me deu de presente o CD "The living road" no início deste século. Logo na primeira música do excelente álbum já fiquei arrepiado, "Con toda palabra".
Ela canta em espanhol, inglês e francês no disco que não tem uma música sequer que pudesse ser descartada. Depois disso fui pesquisar mais músicas e mais sobre ela. Aqui você pode saber mais, é só clicar. Mas antes, veja e ouça o vídeo abaixo, vale muito. A música é da própria Lhasa de Sela, em parceria com Vincent Ségal e Yves Desrosiers.
Logicamente, Gilberto Gil, que já apareceu nesta série como compositor em Cálice, tem outras músicas muito mais belas e que estarão por aqui em breve. No entanto, Nos Barracos da Cidade (Gilberto Gil/Liminha) serve aqui de desabafo, grito, berro, urro de indignação, revolta. O refrão desta música me vem à mente toda vez que leio ou vejo algo relacionado ao mais estúpido, incompetente, ignorante, irresponsável e cruel desgoverno que já passou por este país. Aquele que chafurda nos escritórios dos crimes, nas rachadinhas (sinônimo de peculato, roubo de dinheiro público, corrupção!) e na exaltação de tortura-torturadores e ditaduras-ditadores sanguinários desde muito antes de chegar ao poder.
Realmente, 2018 foi o ano em que o Brasil assinou o seu atestado de boçal, em que passamos a viver em estado de boçalidade. A nação chega a exibir diariamente aquela tal baba elástica e bovina, tão mencionada por Nelson Rodrigues, por toda sua omissão, espanto, estupefação, paralisia de nossas instituições, de nossas frouxas autoridades que ainda permitem a presença de ser tão nefasto na Presidência da República. Nós nos tornamos oficialmente bananas moles, a República das Bananas, os párias do mundo. Que nojo!
É tanta bizarrice em apenas dois anos deste infeliz mandato que fica até difícil enumerá-las. Apenas não, estes dois longínquos e sofridos anos que valem por dois séculos de destruição. E levaremos outros tantos, sei lá, quantos anos, quantas décadas para sairmos dos escombros, das cinzas, das excrecências e todo lixo gosmento deixado por esta quadrilha de insanos formada por pseudomilitares e pseudorreligiosos. Gente que rasga a bandeira brasileira e louva a americana e a israelense para se dizer patriota (o último refúgio dos canalhas, como bem disse Samuel Johnson, lá no século XVI) e chama o diabo de deus. E ainda vê Genésio, achando que é Jesus, numa goiabeira.
Onde nós chegamos? Certamente no mais profundo círculo do inferno.
Com um batuque vindo de todos os terreiros e toda a força nas gargantas: "Gente estúpida, gente hipócrita!"
Embora não seja um exímio conhecedor, muito, muito longe disso, o gosto pela música clássica herdei de meu pai, que costumava ouvir a MEC FM no Rio de Janeiro. Provavelmente ele já havia recebido de seu pai esta herança, pois meu avô que não pude conhecer, Geraldo Ávila Neiva, era clarinetista no interior de Minas Gerais. E uma das obras clássicas que mais ouvi até hoje é este Concerto para Piano nº 1, de Tchaikovski, especialmente nos tempos em que morei em Rio do Ouro (ou Várzea das Moças, o bairro oficial no carnê do IPTU), em São Gonçalo (RJ).
Foi lá que escrevi a poesia "Bailarina Fumaça" (do livro ainda não publicado "Cor Própria") em que cito esta obra-prima do compositor russo, logo na primeira estrofe: "Raios de sol/ retos, paralelos,/ dedos transparentes/ a invadir a sombra da sala/ para iluminar e tocar/ o concerto para piano/ número um de Tchaikovski". Foi ouvindo esta música que as imagens que descrevo surgiram numa tarde (provavelmente) de outono na pequena sala da minha casa em que morei por 13 anos.
Uma verdadeira viagem sem sair do lugar, provando que não existe melhor droga para nos embriagar do que a Arte. Espero que você embarque nessa também.
Veja também:
Músicas que nos fazem viajar 8: Awaken
Músicas que nos fazem viajar 4: Réquiem
Um tanto de grandeza e muito de coragem
Esta certamente não é das músicas mais famosas do grande poeta, músico e cantador Zé Ramalho, mas é das que mais gosto. Viajo sempre nela, como em tantas outras deste grande compositor e artista, que já tive o imenso prazer de ver duas vezes em ação nos palcos: no Rock in Rio de 2001, ao lado de Elba Ramalho, um show que levantou poeira literalmente, e no primeiro após a internação por um problema cardíaco que ele teve, em 2013, no Vivo Rio.
Motes das Amplidões vou apresentar abaixo em duas versões, porque, embora eu prefira de longe a original, muito mais rica musicalmente, não deixa de ser curioso o encontro inusitado e rico também este do Zé com o Sepultura, também conhecido como Zépultura, que já tinha produzido ao menos outra pérola, A Dança das Borboletas, dele e de Alceu Valença.
Não curto Sepultura, que ajudou e muito para aumentar a minha dor de ouvido no Rock in Rio de 2001 e me tirar da Cidade do Rock antes do showzaço, aço, aço do Iron Maiden que queria muito assistir. Mas com o Zé é "oto patamá".
Curtam e dancem, especialmente na versão original gravada no LP A Peleja do Diabo Com o Dono do Céu, que ainda tenho e recomendo de montão.