A menina, da
qual jamais lembrarei o nome, gravou a entrevista, então há alguma
possibilidade (embora considere remotíssima) de que ela possa ser confirmada. No
fim do nosso papo, a estudante me perguntou como se poderia praticar o jornalismo
independente e respondi que isso só seria possível se ela montasse um jornal -
logicamente naquela época a internet não tinha a dimensão e a popularidade que ganhou
nos últimos anos. E ainda assim, isso não seria garantia de nada, afirmei.
Prossegui: digamos que eu tivesse um
jornal no meu bairro e um dia descobrisse que o dono do açougue (digamos) Boizão,
principal patrocinador do meu pequeno e bravo veículo de comunicação, adulterara
a balança do seu estabelecimento comercial para passar a perna nos fregueses
e lucrar mais. Disse a ela: se eu publicasse matéria sobre isso - logicamente
com a comprovação da fraude -, mesmo tendo como certa a perda da minha principal fonte
de renda, agiria como jornalista. Porém, se optasse por deixar pra lá, seria qualquer coisa, menos jornalista.
Convidei-a
a assistir à peça, mas ela recusou, dizendo que precisava ir para casa bater o
trabalho que acabara de apurar. Então, me despedi da estudante dizendo que veria
mais verdades na sala ao lado do que em todo noticiário do dia.Veja também:
Adeus, Maracanã
A conversa continua
Entrevista: Nelson Pereira dos Santos
Edu, o conceito de verdade é um negócio muito complicado.
ResponderExcluirEsse episódio me faz lembrar do final do excelente filme "Herói por Acidente", de Stephen Frears, quando o personagem de Dustin Hoffman explica ao filho adolescente que não existe isso que as pessoas chamam de "verdade". Segundo ele, o que temos mesmo são camadas de mentiras, uma sobre a outra, e o que as pessoas fazem é apenas escolher a mais conveniente para levar a vida.
Admito um certo cinismo nisso aí, mas não tenho tanta certeza de que esteja tão distante da realidade (ou verdade!).