Desesperançar-se e esperançar-se,
eis a mola-mestra da vida. Terminei de ler o contundente livro-reportagem “Holocausto
Brasileiro”, da jornalista Daniela Arbex, e vi mais uma vez como a raça humana
é capaz das mais abjetas ações – e omissões – e das mais sublimes também. Mesmo
tendo a plena consciência de que convive em mim (e em todos os seres humanos) o
que há de pior e de melhor, não me vejo capaz de fazer nem de perto o que foi
feito com as pessoas que foram internadas no antigo Colônia, manicômio da cidade mineira de Barbacena.
Nem sendo um dos muitos responsáveis diretamente pelas 60 mil mortes ocorridas naquele verdadeiro campo de concentração utilizado das mais diversas formas para degradar e reduzir a zero a condição humana (mesmo após a morte, com o lucro da venda de corpos para universidades das mais diversas partes do país). Nem enfrentando aquilo tudo com tamanha coragem, abnegação e amor para salvar alguém daquele inferno.
Nem sendo um dos muitos responsáveis diretamente pelas 60 mil mortes ocorridas naquele verdadeiro campo de concentração utilizado das mais diversas formas para degradar e reduzir a zero a condição humana (mesmo após a morte, com o lucro da venda de corpos para universidades das mais diversas partes do país). Nem enfrentando aquilo tudo com tamanha coragem, abnegação e amor para salvar alguém daquele inferno.
Daniela Arbex |
Nem como jornalista, minha profissão por 25 anos (de 1988 a 2013), creio que teria sido capaz de produzir uma reportagem tão completa e corajosa. Daniela passou a ser para mim uma referência tardia da profissão que deixei para trás. Antes dela muitos outros denunciaram o que ocorria no Colônia, localizado numa cidade com a qual tenho uma ligação familiar e por onde passei quando criança com meu falecido pai, que lá viveu quando garoto antes de vir para o Rio. Estão todos no livro, grandes homens e grandiosas mulheres.
O livro não recomendo a qualquer um ler, nem sequer observar o vasto material fotográfico de Luiz Alfredo, produzido em 1961, quando trabalhava na revista "O Cruzeiro". Somente àqueles dispostos a se defrontar e encarar de frente o quanto de desumano – e também de divino – a nossa raça encarna.
Veja também:
O ilimitado abuso do homem
Agro câncer
Ainda preciso de coragem para encarar essa sombra avassaladora. É tão abaixo do humano, tão claramente selvagem que ainda não ouso ler. Inclua-me na sua lista dos que não devem ler....por enquanto! Você deu sensibilidade ao insensível. Belo texto. Beijos.
ResponderExcluirNão é mesmo fácil ler e ver as fotos deste livro. É tão absurdo que parece irreal. Mas foi muito real e ainda acontece muito de muitas outras formas mundo afora. Obrigado pelo apoio e o amor de sempre. Beijão.
ExcluirConheci, estive com a Daniela Arbex no SESC de Jundiaí/SP. Ainda antes da Milícia tomar o Poder Central. Conversamos. Já tinha lido o holocausto e o trágico defumação de seres humanos em Santa Maria no RS. Daniela mostrou a preocupação devivermos o hoje. Tenho fotos com ela e dedicatórias em suas obras. Uma jornalista mineira que nos orgulha e ainda nos faz acreditar que ética e moral norteiam a informação.
ResponderExcluirSem dúvida alguma, Daniela é uma jornalista fundamental, ainda mais num momento como o que vivemos neste maltratado país. Obrigado, Regina (?). Volte sempre.
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