Siga você qualquer outra corrente política ou nenhuma, é preciso que se admita: é impressionante o nível de encantamento e fanatismo com que os correligionários defendem seus ídolos. Como se sentem afetados, ofendidos, à menor crítica ao seu respectivo líder, como se fosse direcionada a eles próprios, à mãe, a um filho ou filha. O inferno é o outro, bem dizia Sartre. Somente o outro, responsável único e exclusivamente por todos os males que sofrem.
Para o triunfo da verdade que - obviamente - habita apenas um lado, é preciso exterminar o inimigo, aquele ser abjeto que se opõe do outro lado desse Vácuo de Idéias. Vejo quase uma torrente da rodrigueana baba elástica bovina quando fotos e vídeos mostram a massa embevecida olhando para cima, com olhar fixo brilhante em direção ao Ser Superior que os guiará para uma Nova-Velha Era ou Velha-Nova Ordem. Espelho.
Mitos se misturam à realidade para tentar explicar o - aparentemente - inexplicável. Mas vez por outra são manipulados para inexplicar o explicável. Quando associados a deuses ou semideuses, são muito sedutores, irresistíveis, e se tornam irrepreensíveis, sem um único defeito aos olhos dos súditos, a iluminar as estradas sombrias da vida. Ai de quem ouse pôr uma vírgula que seja contrária ao rumo traçado pelo guia, pelo semideus. A massa cega segue o que lhe for ditado. "Papai, posso ir? Quantos passos?". Não, não é brincadeira.
O crime de pensamento está na ordem do dia. Historiadores já nos mostraram - e nos mostram constantemente - inúmeros exemplos similares e onde foram parar aqueles ídolos e povos. Porém, por aqui, um já mandou que se esqueçam os historiadores e outro jamais teve qualquer apreço pelas salas de aula e os livros. Ambos, como personagens reais oriundos da ficção orwelliana, desejando avidamente reescrever a História com o prestimoso auxílio luxuoso de seus fiéis seguidores.
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