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Almir Pernambuquinho, transtornado, na confusão que armou na final do Campeonato Carioca de 1966 |
Após cantar a Marcha do São Cristóvão, Silvio Caldas sai aplaudido do palco, abraça João Sem Medo, Ceguinho Torcedor, Sobrenatural de Almeida e Idiota da Objetividade e volta à sua mesa. João reinicia o papo.
João Sem Medo: - Quarenta anos depois da conquista
do São Cristóvão, o Bangu, que já havia sido campeão em 33, na época da divisão
entre amadoristas e profissionalistas, derrotou o Flamengo e seus 150 mil
torcedores no Maracanã...
Sobrenatural de
Almeida: - A final do
Campeonato Carioca de 1966 não chegou ao fim...hahaha
Garçom: - Foi aquele fuzuê que o Almir
Pernambuquinho armou no Maracanã, né?
João Sem Medo: - Isso mesmo, Zé Ary.
Veja também:
Músico: - Aquela confusão toda no Maracanã me lembra uma música antiga, o
Futebol da Bicharada, de Raul Torres.
Garçom: - Raul Torres se encontra aqui, vamos chamá-lo ao palco pra cantar essa
pra gente, então.
Raul Torres, aplaudido por todos, sobe ao palco.
Raul Torres: - Obrigado, gente. Nesse jogo aqui também teve confusão, mas
pra cantar vou chamar meu parceiro Florêncio.
Florêncio vai ao palco também aplaudido.
O público ri muito e aplaude a dupla, que agradece e deixa o
palco. Ceguinho volta a falar de Almir.
Ceguinho Torcedor: - Almir foi um grande jogador, chegou
a ser convocado para os primeiros treinos da seleção em 58, mas acabou cortado.
Tinha o pavio curtíssimo. Apesar dos seus defeitos, ou por isso mesmo, eu o via
como um exato símbolo pessoal e humano do futebol brasileiro.
Idiota da Objetividade: - Antes daquela decisão entre
Flamengo e Bangu, ele já tinha se metido em muitas outras confusões.
João Sem Medo: - Almir, que passou pelo Vasco, BocaJuniors, Santos, Fiorentina, Flamengo, todos grandes clubes e ganhando muito
dinheiro, foi sempre um mão-aberta naquela timidez do boêmio que acha que tendo
dinheiro no bolso é ofensa permitir que outros paguem a despesa. Teve uma morte
trágica, foi assassinado num bar em Copacabana, no início da década de 70.
Veja também:
Idiota da Objetividade: - Almir começou no Sport Recife, em
1956, e foi para o Vasco, onde se juntou a Vavá e outros pernambucanos como ele
que já estavam no time de São Januário. Ele recusou uma convocação para a
seleção brasileira certa vez para excursionar com o Vasco e isso o deixou
marcado. Por isso fez poucos jogos na seleção.
João Sem Medo: - Num desses jogos pela seleção
provocou uma batalha campal contra o Uruguai, em 59.
Ceguinho Torcedor: - A mais famosa, porém, foi aquela
de 66, quando o Bangu foi campeão em cima do Flamengo. Eu estava lá no Maracanã
e vi, ou melhor, percebi o burburinho todo com a confusão que o Almir
Pernambuquinho armou dentro de campo.
João Sem Medo: - Os nervos estavam à flor da pele
desde o meio da semana. Houve uma verdadeira guerra de nervos. No jogo, também
muito tenso, o Flamengo precisava ganhar, mas acabou perdendo Carlos Alberto,
depois Nelsinho, machucados, e ficou sem pai, nem mãe. Aí saiu a encrenca toda e
o árbitro Airton Vieira de Moraes, que teve uma das mais perfeitas arbitragens
que já apareceram no Maracanã, foi muito feliz ao acabar com o jogo. Já estava
3 a 0 pro Bangu e poderia sair um conflito imprevisível naquela multidão. O
Bangu foi o melhor time do campeonato e mereceu o título.
Idiota da Objetividade: - A partida entre Flamengo e Bangu
foi disputada no dia 18 de dezembro de 1966. Era a última rodada do turno
final, e o Bangu tinha a vantagem do empate para ser o campeão, mas fez dois
gols no primeiro tempo e um logo no início do segundo. A briga começou aos 25
minutos do segundo tempo. Começou com uma discussão entre o atacante Ladeira,
do Bangu, e o lateral-esquerdo Paulo Henrique, do Flamengo. Mesmo vencendo o
jogo, Ladeira deu um tapa no adversário e Almir Pernambuquinho tomou as dores
do companheiro e foi pra cima do lateral bangüense. Uma confusão generalizada
que acabou com nove jogadores expulsos.
Sobrenatural de Almeida: - Eu armei aquele sururu. Fiquei
soprando no ouvido do Pernambuquinho que o Flamengo não podia ser humilhado
daquele jeito, que era preciso ele tomar uma atitude de macho.
Idiota da Objetividade: - O árbitro Airton Vieira de
Moraes, conhecido como Sansão, deu cartão vermelho para cinco jogadores
rubro-negros, Valdomiro, Itamar, Paulo Henrique, Silva e, lógico, Almir, e
quatro alvirrubros: Ubirajara, Luis Alberto, Ari Clemente e Ladeira. O jogo
teve de ser encerrado porque o Flamengo ficara com apenas quatro jogadores, o
que não é permitido pela regra. O mínimo é sete. Assim, com os 3 a 0 no placar,
o Bangu foi declarado vencedor e se tornou campeão carioca pela segunda vez. O
público presente ao Maracanã naquela tarde foi de 143.978 pagantes, 90% de
rubro-negros, que saíram frustrados do estádio.
Sobrenatural de
Almeida: - Que nada!
Sairiam frustrados se não tivesse tido aquela pancadaria toda. O Almir saiu
como herói.
João Sem Medo: - Aquele jogo tem muita história
estranha. Muita gente disse que o Sansão estava na gaveta do Bangu e que cada
goleiro se vendeu ao outro time, mas o Castor teria descoberto e ameaçado de
morte o time inteiro se houvesse algum gol contra o Bangu, sem citar o nome do
Ubirajara. Logo no início do jogo, o Flamengo dominava, já tinha posto uma bola
na trave, e o ponta-direita Carlos Alberto se machucou num choque acidental com
Ari Clemente e não pôde mais jogar. Naquela época não havia substituição, o
Nelsinho ainda se machucou e ficou em campo mancando com uma atadura no joelho
fazendo número.
Idiota da Objetividade: - Valdomiro ficou no Flamengo até o início de 1968. Será que o clube ficaria com ele se a suspeita fosse ao menos factível?
Garçom: - Ele podia aparecer por aqui pra dar a sua versão.
Ceguinho Torcedor: - Se o Valdomiro estava vendido ou não eu não sei, mas que o primeiro gol do Bangu, marcado pelo Ocimar, foi um frangaço, ninguém tem dúvida. Nem eu! Nos outros dois, de Aladim e PauloBorges, ele não teve culpa.
Sobrenatural de Almeida: - Mas, Ceguinho, o que marcou mesmo foi a multidão
gritando e aquele som abafado altíssimo ecoando em meus ouvidos: “Por-ra-da!
Por-ra-da! Por-ra-da! Por-ra-da!...”hahaha
O público do bar faz coro com o Sobrenatural: - "Por-ra-da!
Por-ra-da! Por-ra-da!...”
Veja também:
Sobrenatural de Almeida: - A torcida do Flamengo foi ao
delírio. Perdeu o título, mas ganhou a briga de presente.
Garçom: - Certo. Mas hoje os homenageados serão aqueles campeões do Bangu,
alguns aqui presentes, outros ainda vivendo no Mundo Material. Por isso,
trouxemos aqui uma turma da banda do Bangu para alegrar o ambiente com a
Marchinha do time campeão carioca de 1966.
Fim do Capítulo #26
Episódio originalmente publicado em 27 de julho de 2022 e republicado totalmente modificado em 16 de fevereiro de 2025.
Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país.
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Essa história do Almir é boa...
ResponderExcluirNão regulava bem, como muitos ainda hoje no futebol. Só que a grana alta, de uma forma ou de outra, acaba botando cabresto nesses caras.
Verdade, meu amigo. Almir, como disse a você no whatsapp, tangenciava a tragédia até que foi assassinado num bar da Zona Sul do Rio de Janeiro por defender uma mulher do assédio de um homem. Mas todos dizem que foi um espetacular jogador. Obrigado pela visita e o apoio de sempre. Abração.
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