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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

MÚSICA PRA VIAGEM: SANGUE LATINO

Música pra Viagem: Sangue latino

A potência poética e musical dos Secos & Molhados arrebatou milhões de brasileiros, inclusive crianças como eu. As caras pintadas, as fantasias, o rebolado de Ney Matogrosso, além de sua voz incomum, talvez sejam o que mais tenha chamado a atenção logo de primeira naqueles Anos de Chumbo. O sucesso foi estrondoso e não pude ignorar, mesmo tendo 6 para 7 anos em 1973, quando o primeiro LP do grupo foi lançado.

Secos & Molhados, no Maracanãzinho, em cena usada na arrepiante abertura do "Fantástico", de 1974

Dentre os maiores sucessos, "O vira" e "Sangue latino" foram os que mais me agradaram naquela época. Com o passar do tempo, outras foram incorporadas às minhas predileções musicais, como "Fala", posteriormente gravada por Ritchie, "Rosa de Hiroshima", "Amor", "Primavera nos dentes" e "O patrão nosso de cada dia", além de outras do segundo disco, como "Flores astrais", por exemplo. 

Porém, é "Sangue latino" que permanece na minha lista desde o princípio e, por isso, foi (a primeira) escolhida do grupo para entrar na série "Música pra viagem". 

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A força dos Secos & Molhados e Ney Matogrosso

Capa do LP de estreia, em 1973
"Sangue Latino" é um clássico da música brasileira, composto por João Ricardo e Paulinho Mendonça, e lançado no álbum de estreia dos Secos & Molhados, em 1973. A canção capturou a essência da resistência cultural, unindo poesia e teatralidade, em um período marcado pela repressora, torturadora e falsa moralista ditadura militar.

Com versos marcantes, como os que dão início à música ("Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados"), a música reflete temas de identidade, liberdade e luta, tornando-se atemporal e muito influente. Afinal, eles romperam tratados e traíram os ritos vigentes, impostos pelos militares e os civis que os seguiam.

Uma revolução musical

Formado por João Ricardo, Ney Matogrosso, Gerson Conrad e outros músicos convidados, o grupo se destacou por sua mistura única de música, poesia e performance. Com influências que iam do rock ao folclore brasileiro, eles criaram um estilo inédito e audacioso. Sua estética visual, marcada por maquiagens elaboradas, inspiradas pelo teatro japonês Kabuki e figurinos extravagantes, foi uma ruptura com os padrões da época.

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O primeiro álbum, que inclui "Sangue Latino", vendeu mais de 1 milhão de cópias, um feito impressionante para o cenário musical brasileiro dos anos 70. Apesar de sua breve existência, principalmente com Ney Matogrosso, que só gravou dois álbuns com a banda, os Secos & Molhados deixaram um legado duradouro na música e na cultura nacional. E há, até hoje, uma fortíssima desconfiança de que o Kiss, banda de rock americana, os imitou no que se refere às maquiagens.

Uma voz e presença únicas

Ney Matogrosso, com sua voz aguda e interpretação intensa, tornou-se o rosto (maquiado) mais reconhecido dos Secos & Molhados. Sua performance em "Sangue Latino" combina força e delicadeza, expressando plenamente a mensagem da canção.

Após sua saída do grupo, Ney construiu uma carreira solo brilhante, explorando diversos gêneros e consolidando-se como um dos maiores artistas do Brasil. Hoje, com mais de 80 anos, continua em impressionantes formas física e vocal, ainda a inovar e encantar plateias, mantendo-se relevante mesmo num momento de completa pulverização dos streamings de música.

Show histórico no Maracanãzinho

A apresentação no Maracanãzinho, em 10 de fevereiro de 1974, foi um marco na carreira dos Secos & Molhados, consolidando-os como um fenômeno da música brasileira. O show fez parte de uma turnê de 369 apresentações em um ano e atraiu naquela noite cerca de 20 mil fãs e um número ainda maior do lado de fora, impulsionando o grupo a recordes de público e vendas de mais de 1 milhão de discos.

Aquele espetáculo histórico foi a primeira vez que uma banda nacional se apresentou como atração solo no Maracanãzinho, abrindo caminho para que ginásios de esportes fossem considerados viáveis para shows de artistas nacionais. A apresentação histórica levou a TV Globo a enviar suas câmeras para registrar a noite, aumentando ainda mais a visibilidade do grupo. Após o show, a fama do grupo se espalhou para outros países, com notícias em revistas como a "Billboard" e sucesso no México.

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Durante o show, houve um momento de tensão quando o público tentou se aproximar do palco e foi contido pela polícia, o que levou Ney Matogrosso a interromper a apresentação até que a situação fosse resolvida.

O show no Maracanãzinho, em fevereiro de 1974, foi um marco histórico para a música brasileira

Assista e redescubra "Sangue Latino"

Veja a apresentação de "Sangue Latino" com os Secos & Molhados na TV Cultura/Rede Tupi (Diários Associados):

 

 Assista também a uma espetacular releitura que Ney Matogrosso fez da música em sua carreira solo:

4 comentários:

  1. Fantástico, Eduardo! Enviando aqui para o meu sobrinho que, de tão fã do Ney, está sempre postando algo nos encontros com ele em diversos eventos.

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    1. Obrigado, mais uma vez. Vi ontem a mensagem que me passou no grupo do whatsapp. Agradeça muito a ele também, por favor. Ótimo fim de semana. Abraços.

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  2. Eu também era uma criança quando me deparei com os Secos e Molhados. Encantei-me. Muita coisa eu não entendia. Não se falava em ditadura na minha casa. Mas eu perguntava tanto que me explicaram Rosa de Hiroshima. Chorei muito. Gostei porque uma de minhas irmãs ganhou o álbum que eu não parava de ouvir. Aliás, que ano foi 1973, tão pesado, até para mim, em termos de discos. Várias pérolas. Sempre achei que o Kiss se baseou ou imitou o visual de nossa banda. Abraços. Luxia Porto

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    1. Este ano de 1973 foi mágico para a música no mundo inteiro. Para não ficarmos só nos clássicos e históricos discos nacionais, "The dark side of the moon" foi lançado naquele ano. Tem até livro com escritores brasileiros falando sobre os lançamentos musicais de 73. Uma hora compro e, certamente, lerei de uma vez só. Obrigado pela visita e o comentário. Volte sempre, querida Luzia Porto.

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