sábado, 19 de março de 2016

GAÚCHO, O ADEUS DE UM DISCÍPULO DE DARIO

Ele parava no ar, como beija-flor, helicóptero e Dadá. Era irreverente, tinha ótimas tiradas. Era enrolado com a bola nos pés, até não chutava mal, tinha dificuldades no domínio da redonda, mas era um exímio cabeceador. Daqueles de dar um tiro com a cabeça ou apenas colocá-la, com suavidade, onde desejava, longe do alcance do goleiro. Gaúcho deixará saudades, especialmente na torcida do Flamengo. Muitas.

As primeiras lembranças que tenho dele estão ainda na minha memória de torcedor de arquibancada, no início dos anos 80. Um camisa 7 veloz (assim parece nas minhas esparsas recordações), que avançava pela ponta-direita para buscar a linha de fundo e cruzar para o centroavante Vinicius. Não foi assim que ele se consagrou, mas foi como iniciou nos juniores do Flamengo. Vi esta cena relatada acima algumas vezes nas preliminares do Maracanã. Gostava de chegar cedo pra acompanhar a garotada, eu ainda garoto, praticamente da mesma idade que aqueles que estavam em campo.

Estava no antigo Maraca quando ele brilhou como goleiro, no Palmeiras, contra o Flamengo. Pegou dois, na disputa de pênaltis naquele Campeonato Brasileiro absurdo de 1988, que obrigou até Fluminense e Botafogo voltarem a campo num meio de semana à tarde só pra disputa das penalidades, no velho estádio transformado em arena - e lá fui eu a pé do Grajaú ao Maracanã e depois de volta para casa. E o cara não interceptou chutes de pernas-de-pau, mas de Zinho e Aldair, dois jogadores que conquistariam seis anos depois uma Copa do Mundo.

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Quando ele voltou ao Flamengo eu já era repórter do Jornal dos Sports, onde inciei em janeiro de 1990. Cheguei a entrevistá-lo, muito poucas vezes. E fez muitos gols, os mais lembrados de cabeça. Eu me recordo especialmente de um contra o Bragantino, num jogo que o meu time perdeu por 2 a 1. Mas o gol que ele fez foi de alguém que tinha muita precisão no cabeceio. Ele pôs a bola no único lugar possível, já que a pequena área estava repleta de adversários. A bola foi posta no ângulo direito do goleiro, na baliza à esquerda das antigas cabines de rádio, entre um zagueiro e a junção do travessão com a trave.

Gaúcho conquistou no Flamengo, com participações importantes e decisivas, a Copa do Brasil de 1990, o Estadual de 1991 e o Brasileiro de 92. Finalizava a espinha dorsal do time de 92 com Gilmar, Gotardo, Uidemar e Junior, dando respaldo à garotada que havia conquistado pela primeira vez a Copa São Paulo de Juniores para o Rubro-Negro. As imagens de Gaúcho são muitas, fico com aquela dele parado no ar, cabeceando do jeito que achava melhor para tirar o goleiro da jogada e correr pra galera com a bola debaixo da camisa. Adeus, artilheiro!


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