segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

REENCONTRO

Levado com toda gentileza e alegria pelo meu filho mais velho e acompanhado de outro filho, meu irmão, sobrinhos e amigos fui visitar ontem um velho amigo que não via há dez anos. No mesmo endereço de sempre, onde estivera pela última vez, em 2009, quando houve apenas dois encontros, que já rareavam há muito tempo. Eu que estava aos poucos me afastando, talvez não visse mais tanta graça nas festas que promovia, andava mesmo saudoso dos velhos tempos ou já buscava novos lugares, outros sorrisos, outros encontros. Soube sim, claro, que ele reformara a casa, quebrando tudo por dentro e que rejuvenescera por uma dessas novidades que todas as modas das mais diversas áreas inventam para ditar novas regras, novos ditames, novas diretrizes. E daí, passado um tempo, mudar tudo de novo, com quase todos seguindo em frente sem nada questionar.

Andei afastado, mas vez por outra eu o via pela televisão com um ar rogante que não condizia muito com o que sempre me fez admirar aquele amigo. Antes era convidativo sem precisar chamar, era simples, como sua casa, não exibia conforto, porém tinha acolhimento, informalidade, alegria, e as festas... Ah, que festas inesquecíveis tive a sorte de presenciar. Lembro hoje com ternura, já sem a amargura daqueles instantes hoje passados, até das conquistas alheias, mesmo as que tiraram de mim aquela que se tornara a minha obsessão. Chorei em minha casa depois, na dele só uma vez e foi de imensa felicidade. No entanto, quantas vezes mais saí de lá prolongando a festa para depois da festa. Belas tardes-noites de domingo, velhos tempos, belos dias.

Cheguei diferente. Não fui fazendo barulho, cheio de intimidades com o anfitrião, como antes ocorria. O afastamento criou uma certa timidez em mim. Timidez não é bem o termo, na verdade a relação esfriou, embora estivesse fervendo por lá ontem. Fui sem saber direito como seria recebido. Afinal, torci o nariz com certo desprezo quando soube das reformas, na casa, no anfitrião. Antigamente, eu era um frequentador assíduo, então era como se fosse minha segunda casa, entrava sem qualquer formalidade e me deslocava lá dentro como queria. Muitas vezes vinha uma outra turma, grande, embora nunca tanto como a minha, mas os espaços eram respeitados e cada um fazia a sua festa da forma como gostava. É, às vezes, rolavam brigas. Brigas feias, até. Mas nunca participei de nenhuma, embora tenha levado estocadas, nas costas e na barriga, sem gravidade alguma, portanto, serviram mais pra que eu tivesse mais histórias pra contar. A tragédia veio já no tempo em que passei a ir menos lá, não estava presente. Foi muito triste e a casa foi fechada e muitas obras vieram, sendo a mais recente a que mudou tudo. 

Voltei e, como de certa forma já esperava, estranhei muito. O anfitrião de quase 70 anos com cara de quarentão e a casa cheia de cadeiras, sem espaço para dançarmos, pularmos, mudarmos de lugar como sempre ocorreu. A pista de dança da bola ficou menor, porém agora dá pra se ver melhor o que acontece por lá, embora o que se veja não seja lá mais tão bonito. Na chegada, apesar do aperto, do extremo calor, e de não haver espaço pra me sentar, fui recebido com simpatia, cordialidade, respeito, carinho até. E me senti bem, mais pelas lembranças do que vivi naquela casa, que já foi gigantesca e hoje se parece com um enorme salão. Valeu, valeu muito. Mesmo completamente diferentes, o meu amigo, a casa, consegui rememorar alguns grandes momentos que vivemos e pude conversar com conhecidos e desconhecidos, como sempre se fez por lá. E, muito agradecido ao meu filho Lucas, pela tarde-noite de ontem e por tantas maravilhosas que lá passei, pude dar pessoalmente o meu adeus ao Mario Filho, o Maracanã.

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