quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A TROPA DO HORROR ESTÁ NO PODER

Wagner Moura, como Capitão Nascimento,
no filme "Tropa de Elite" (2007)
Em 2007, após assistir ao filme "Tropa de Elite", enviei por email um texto para vários amigos, colegas de trabalho e conhecidos, pois ainda não tinha este blog, que foi ao ar somente em março do ano seguinte. Hoje me recordei dele ao ler a coluna de Elio Gaspari, no jornal O Globo, sob o título "Quando foi que tudo começou", que volta ao filme para mostrar que aquele aplauso da plateia à tortura do Capitão Nascimento proporcionou a chegada ao poder de seres como Bolsonaro e Witzel. 

Fui, então, atrás do meu antigo texto para confirmar que eu estava certo em meu receio, como também sempre foi a da chegada ao poder desta ideologia pseudo-cristã. A mistura de pseudo-religião com o Estado militarizado está no poder graças à plateia e seus guias "espirituais" e "políticos". Ao ler o texto de Gaspari e reler o meu (abaixo), tenho a plena certeza de que muitos amigos, colegas de trabalho e conhecidos aplaudiram de pé a cena da tortura em "Tropa de Elite". E, pior, continuarão a aplaudi-la repetidamente na vida real. Até a hora em que o calo do próprio pé apertar e a consciência urrar de dor.

TROPA DO HORROR!

O que mais me espanta no filme “Tropa de Elite” não é nem a descarada propaganda fascista que ele carrega. Afinal, em tempos cínicos e de profissionalismo a qualquer preço, não é de se estranhar que mesmo um diretor que fez um honesto e comovente documentário (“Ônibus 174”) resolva - a troco sabe-se lá de quê – transformar assassinos e torturadores em super-heróis. Até o vazamento das cópias piratas são suspeitas, pois se tornaram uma muito bem-sucedida jogada de marketing. O que me assusta é ver, ler e ouvir pessoas das quais tanto gosto dizerem que o filme é maravilhoso.

Das duas, uma: ou a desesperança e a falta de humanismo se instauraram de vez nos corações das pessoas ditas do bem ou a falta de hábito de se questionar, de analisar, de sentir e pensar por conta própria está mesmo se exaurindo, especialmente nesta cada vez mais decadente Cidade Maravilhosa. Das duas, as duas. Que “aspira” a ditador sanguinário estará por trás ou dentro do Sr. José Padilha para defender com tanta paixão as práticas do Batalhão de Operações Especiais (Bope)? 

Há no filme críticas severas – e justas – contra a sociedade hipócrita, a imprensa, os governantes e os policiais militares, mas não há um porém aos métodos adotados pelo Bope. Um sequer! Pelo contrário, tudo é amplamente justificado e enaltecido. O Capitão Nascimento (personagem de Wagner Moura, que escreveu nesta terça-feira um ótimo artigo no jornal O Globo contradizendo toda a essência do filme que protagonizou) bem poderia ser chamado de Capitão Morbidez (a caveira é o símbolo!). Pois ele é alçado ao posto de um Capitão América (Capitão Carioca?) que a todos salvará, não só com sua brutalidade extrema, como com o seu sacrifício familiar e de saúde, e sua doação de corpo(ração) e alma para deixar em seu lugar um sucessor à sua baixeza.

Li uma entrevista de um dos muitos comandantes policiais que este lugar possui - não me recordo quem - que Padilha fez com o Bope o que o cinema americano fez com a Swat. Como se isso fosse ótimo! E olha que para quem assistiu às séries do enlatado americano como eu, sabe muito bem que a propaganda naquele caso era bem mais sutil e menos violenta.

Hitler, Mussolini, Pinochet, a junta militar no Brasil, Stalin, Mao Tsé Tung, Pol-Pot e muitos outros só conseguiram se manter no poder graças ao apoio e ou à fragilidade da imensa maioria da população. Ignorância, ganância, subserviência e autoritarismo dão lucro até a cineastas. 

Tropa de Elite” é o horror! 

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