UMA COISA JOGADA COM MÚSICA - CAPÍTULO #29
Zé Ary pega a deixa do apelido de Heleno de Freitas e lança outro tema à mesa dos nossos amigos João Sem Medo, Ceguinho Torcedor, Sobrenatural de Almeida e Idiota da Objetividade.
Garçom: - Outro que ganhou apelido de mulher
no futebol foi o goleiro Raul, nos tempos do Cruzeiro, né?
João Sem Medo: - Essa é outra história, foi por
causa da camisa amarela.
Sobrenatural de
Almeida: - Armei
aquele salseiro, foi engraçado.
João Sem Medo: - Até nesta história?
Ceguinho Torcedor: - O que você aprontou, Almeida?
Sobrenatural de
Almeida: - Isso,
todos sabem, ou quase todos. Foi já na década de 60. Goleiro naquela época só
usava camisa preta ou cinza. E era sempre a mesma camisa, lavava e voltava. Mas
aí, o goleiro titular do Cruzeiro se machucou às vésperas do clássico com o
Atlético, então Raul foi escalado. Mas ele era muito maior que o outro e a
camisa não deu. Aí, resolvi fazer uma luz acender na cabeça do Raul, quando o
lateral-esquerdo Neco passou com um moleton amarelo em frente a ele. Raul pediu
a camisa do companheiro emprestada, colou um esparadrapo atrás pra fazer o
número um e foi pro campo. A torcida do Galo não perdoou vendo aquele goleiro
altão, com cabeleira loura, vestindo amarelo, e começou a chamá-lo de
Wanderléa.
Garçom: - Lembraram da cantora da Jovem Guarda, né?
Sobrenatural de Almeida: - Isso mesmo!
Idiota da Objetividade: - Aquele jogo terminou empatado sem
gols e o Atlético ainda perdeu um pênalti, mas Raul não defendeu, a bola foi
chutada para fora.
Sobrenatural de
Almeida: - Mais uma
peripécia minha.
João Sem Medo: - O presidente do Cruzeiro na época,
Felicio Brandi, achava que a camisa dava sorte e obrigou o Raul a só jogar de
amarelo depois daquilo.
Sobrenatural de
Almeida: - Pois é. O
Raul foi se meter a besta, porque não estava acertando a renovação do contrato,
e foi jogar de preto uma vez. Aí ajudei o Cruzeiro a perder. Ele, então,
renovou o contrato e voltou a jogar de amarelo de novo.
João Sem Medo: - O Cruzeiro tinha um grande time
naquela época, com Dirceu Lopes, Piazza, Tostão, Natal... Foi campeão em cima
do Santos de Pelé, com uma goleada de 6 a 2.
Garçom: - Em homenagem àqueles grandes campeões, vamos exibir no telão imagens daquele timaço ao som da música “Academia”, de João Saraiva, Mauro Saraiva e Plínio Saraiva.
Os aplausos são efusivos. Idiota
da Objetividade dá então mais detalhes daquela épica conquista cruzeirense.
Idiota da Objetividade: - A final da oitava Taça
Brasil, em 1966, reuniu
o Santos de Pelé, que lutava pelo hexacampeonato, e o Cruzeiro de Tostão, que
fazia uma campanha excepcional, com nove vitórias e três empates. Por ser o
campeão, na verdade com cinco títulos seguidos, o Santos entrou na competição para
lutar pelo hexa já na semifinal, como rezava o regulamento. Eliminou o
Palmeiras, enquanto o Cruzeiro desclassificava o Fluminense. O primeiro jogo das
finais, no Mineirão, terminou com uma goleada histórica e surpreendente do time
mineiro, por 6 a 2, diante de quase 80 mil pessoas.
Ceguinho Torcedor: - O primeiro tempo terminou 5 a 0 e
a torcida cruzeirense parecia não acreditar no que estava vendo.
Sobrenatural de
Almeida: -
Assombroso!
João Sem Medo: - Dirceu Lopes comeu a bola naquele
dia. Fez três gols.
Idiota da Objetividade: - Os outros foram de Zé Carlos,
contra, Tostão e Natal. Para o Santos, Toninho Guerreiro fez os dois. Apesar da goleada, no segundo jogo, no
Pacaembu, bastaria ao Santos vencer por qualquer diferença para forçar o
terceiro jogo. Pelé e Procópio foram expulsos no primeiro jogo, mas puderam
atuar na segunda partida.
João Sem Medo: - O primeiro tempo terminou 2 a 0
pro Santos, com o Pelé em grande noite. Todos começaram a achar que o Santos
devolveria a goleada. Dirigentes do Santos e da Federação Paulista chegaram a
ir ao vestiário do Cruzeiro para acertarem o terceiro jogo pro Maracanã. Foram
expulsos e aquilo deu mais motivação ainda pros mineiros. Tanto que no segundo
tempo, o Cruzeiro virou pra 3 a 2.
Ceguinho Torcedor: - E o Tostão ainda perdeu um pênalti!
Sobrenatural de
Almeida: -
Assombroso.
Idiota da Objetividade: - O jogo foi disputado no dia 7 de
dezembro de 1966, debaixo de muita chuva, diante de 30 mil pessoas
aproximadamente. Pelé abriu o marcador, aos 23 minutos, e dois minutos depois,
Toninho Guerreiro fez o segundo do Santos. Tostão perdeu o pênalti aos 13 do
segundo tempo, mas fez o seu em cobrança de falta, com pouco ângulo, aos 18.
Dirceu Lopes empatou aos 28 e Natal, após bela jogada de Tostão pela esquerda,
fez o terceiro, aos 44.
Garçom: - Vamos ver os lances daquele jogo no telão? Com narração do grande
Fiori Gigliotti, que ali está e merece muito todos os nossos aplausos.
Os cruzeirenses presentes vibram como se a partida tivesse
acontecido naquele momento. Ceguinho Torcedor retoma a bola para contar mais
sobre aquela conquista do Cruzeiro.
Ceguinho Torcedor: - Foi uma festa inesquecível em Belo
Horizonte. Depois da vergonha
e da frustração da Copa de 66, nenhum acontecimento teve a importância e a
transcendência da vitória do Cruzeiro. Não foi só a beleza da partida, ou seu
dramatismo incomparável. É preciso destacar o nobre feito épico que torna
inesquecível o título do Cruzeiro. Sem medo de fazer uma sóbria justiça estava
ali, naquele momento, o maior time do mundo.
Fim do Capítulo #29
Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país.
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Caríssimo Edu, juro que nem lembrava mais que o adversário do Guarani na final do brasileiro de 78 foi o Palmeiras.
ResponderExcluirPor isso, meu amigo, é muito bom a gente rever a História. Descobri uma sobre a final de 71 que nunca tinha visto ou ouvido ninguém comentar e foi um fato importantíssimo. Entrará provavelmente no próximo capítulo. Abração, obrigado, volte sempre.
ExcluirEste comentário de Écio Pedro e a minha resposta acima se referem ao antigo episódio 29 da série.
ExcluirEssa história do Raul com a camisa amarela eu não conhecia. Imagino a quantidade enorme de histórias de bastidores do futebol brasileiro. Mereceria até um livro.
ResponderExcluirMeu amigo, Ecio, agradeço mais uma vez tua visita e o comentário. Raul é um grande contador de "causos" do futebol. Muitos deles estão no livro "Histórias de um goleiro", de Renato Nogueira. Mas no Youtube você acha várias entrevistas dele contando muitas histórias curiosas e engraçadíssimas. Volte sempre! Abração.
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