UMA COISA JOGADA COM MÚSICA - CAPÍTULO #36
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| Chico Buarque e Cyro Monteiro, a rivalidade do Fla-Flu levada na letra e na música |
Todos se divertem com a música de Gilberto Gil, tocada e cantada pelos Novos Baianos.
Músico: - Embora seja o autor desta música
em homenagem ao Bahia, Gilberto Gil diz que é torcedor de outro Tricolor, o doRio de Janeiro.
Garçom: - Ah, mas ele fez uma grande
homenagem ao Flamengo. “Alô torcida do Flamengo, aquele abraço...”
Músico: - Na verdade, Zé Ary, Gil alega que
aquele verso é uma ironia com a torcida rubro-negra. Diz ele que era um adeus
aos flamenguistas que deixavam o Maracanã após os 3 a 2 pros tricolores na
final do Carioca de 69.
Garçom: - Eu não acredito nisso. Será?
Músico: - Mas foi o que o compositor
falou...
Ceguinho Torcedor: - Gilberto Gil é um autêntico e
ilustríssimo torcedor do Fluminense. Meus caros, o Fluminense nasceu com a
vocação para a eternidade. Tudo pode passar, só o Tricolor não passará jamais.
O Fluminense é o único time tricolor do mundo! O resto são só times de três
cores.
No público, ouvem-se risadas, aplausos e alguns poucos
protestos bem-humorados.
Sobrenatural de
Almeida: - Que
Fla-Flu, que sururu!
Todos agora riem.
João Sem Medo: - Esta discussão fora de campo já rendeu música.
Músico: - Verdade, seu João. O próprio Cyro Monteiro pode nos contar a história.
Cyro se levanta e é aplaudidíssimo.
Cyro Monteiro: - Muito obrigado, minha gente. Bom, a história foi a
seguinte, em 1969, quando meu amigo Chico Buarque foi pai pela primeira vez, em
Roma, pois estava exilado, mandei de presente pra Silvia, filha recém-nascida
dele e da Marieta Severo, uma camisa do meu Flamengo. Eu fazia isso com todos
os meus amigos, fossem ou não torcedores rubro-negros. Chico agradeceu, mas
respondeu com a letra de um samba que me devia: “Ilustríssimo Senhor Cyro
Monteiro ou Receita para virar casaca de neném”.
Garçom: - Vamos ouvir, então? Depois o senhor prossegue contando esta história
que é muito boa. Pode ser?
Cyro Monteiro: - Claro.
O povo no bar se diverte com o samba e a letra. Os tricolores
aproveitam, então, para tirar um sarro com os flamenguistas. Mas Cyro retoma a
pelota.
Cyro Monteiro: - Bom, ele gravou esta música que vocês acabaram de ouvir,
em 1970. Mas não me fiz de rogado e a gravei dois anos depois. Querem ouvir?
Todos respondem em uníssono “sim”.
Cyro Monteiro: - Então, vamos lá.
Quando ao final Cyro diz: “Ô Chico, a Silvinha vai crescer e entender, tá?” e dá
sua risada, todo povo entra em alvoroço, num verdadeiro Fla-Flu.
Cyro Monteiro (ainda rindo muito): - Eu avisei. Qual é o time da
Silvia? Flamengo, claro.
E veio mais um sururu no bar, com muita alegria e respeito.
Ceguinho Torcedor: - O Fla-Flu começou 40 minutos antes do nada!
Sobrenatural de Almeida: - E continua sendo disputado no Além
da Imaginação! Assombroso! hahaha
Gargalhada geral, muita falação e barulheira, com gritos de
“Mengo” e “Nense” e resposta dos torcedores dos outros clubes. Quando o povo se
acalma um pouco, após pedidos insistentes de Zé Ary, João Sem Medo bota a bola
no chão.
João Sem Medo: - Vejam só,
meus amigos, a conversa era sobre o Bahia e foi parar num Fla-Flu.
Garçom: - Sim, falávamos
sobre o Tricolor baiano, campeão brasileiro em 1959 e 1988.
Sobrenatural de Almeida:
- Ué, mas os campeonatos só terminaram em 1960 e 89. Coincidência? Isso é
assombroso!
João Sem Medo: - Na verdade, é a eterna
desorganização dos nossos dirigentes. O Campeonato Brasileiro já começou num
ano e terminou no seguinte algumas vezes, sem ser por causa de pandemia, como
ocorreu em 2020, ou qualquer problema sério acima do futebol. Fora as muitas
confusões, mudanças de regulamento no meio da competição...
Idiota da Objetividade: - O campeonato de 1977, por exemplo,
só terminou em 78. O São Paulo foi o campeão, vencendo nos pênaltis o AtléticoMineiro, no Mineirão.
João Sem Medo: - Reinaldo e Serginho, que eram os
artilheiros do Atlético e do São Paulo não jogaram. Lembro do Neca dando uma
entrada criminosa no Ângelo, do Atlético, e o Chicão pisando no meia atleticano
depois. Pior, ninguém foi expulso!
Idiota da Objetividade: - O árbitro era Arnaldo CezarCoelho.
Todos em uníssono: - Pode isso, Arnaldo?
Idiota da Objetividade: - Pra defender o Arnaldo, na hora
que Chicão pisou o calcanhar do Ângelo, ele estava de costas dando cartão
amarelo pro Neca.
João Sem Medo: - Tinha de expulsar os dois!
Fim do Capítulo #36
Episódio originalmente publicado em 5 de outubro de 2022 e republicado totalmente modificado em 4 de junho de 2025.
Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país. Saiba mais clicando aqui.



"...Diante de 80 mil presentes, o Santos sagrou-se campeão com a vitória de 5 a 2, com três gols de Pelé, um de Coutinho e outro de Pepe. Só nos cinco minutos finais, o time português descontou com Eusébio e Santana...".
ResponderExcluirDá pra imaginar um time brasileiro fazendo isso hoje em dia num estádio europeu lotado? Impensável!
Pois é, meu amigo. E estava 5 a 0 até os 40 do segundo tempo. Hoje é mais fácil ocorrer o contrário. Abração, obrigado mais uma vez.
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