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AS VELHAS SENHORAS DO CAMPO DE SANT'ANNA

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Foto: Marcus Cinelli Há certas imagens, passagens, que ficariam mais bem representadas em um quadro. Mas, como não possuo a mínima aptidão para artes plásticas, desafio-me a descrevê-las com palavras. Sim, palavras, este instrumento fascinante e ao mesmo tempo amedrontador que ouso manipular para expressar meus sentimentos-pensamentos. É muito difícil, mas também - repito - instigador refletir, não como um espelho cristalino e sim como a superfície de um lago turvo, o fascínio que as velhas árvores do Campo de Sant'Anna me exercem. Curioso é que, mesmo tendo passado várias vezes por dentro desse verdadeiro oásis incrustado no centro de um inferno de buzinas, motores e canos de descarga, jamais as havia percebido. Somente ontem, na hora em que o céu começava lentamente a cerrar seu imenso olho azul, é que reparei. Os portões do Campo de Sant'Anna já estavam fechados e, passando por fora, circundando o grande parque, estava eu a admirar a elegância de seus gatos e a simpática des...

OLHARES ALHURES - FOTOS #119: INUSITADO

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Em poucos dias, entre o fim de julho e o início de agosto, me deparei com cenas inusitadas ao meu redor aqui em Florianópolis que não pude deixar de registrar com meu celular velho de guerra. E, por tão curiosas, estranhas cenas e até engraçadas, resolvi trazer aqui para a série Olhares Alhures e, pela primeira vez, fazer um texto introdutório. Mas não vou descrevê-las, porque acho que seria como explicar a piada, certo? Outra decisão foi voltar a dar um título para elas, algo que havia parado de fazer, limitando-me ao número da postagem da série. Considerei, afinal, que este inusitado do cotidiano merecia. Concorda? Fotos de Eduardo Lamas Neiva , feitas nos dias 28 de julho e 5 e 7 de agosto de 2023, nos bairros do Balneário e Estreito, em Florianópolis (SC).  Veja também: Olhares Alhures - Fotos #83: Chuva Noir Olhares Alhures - Fotos #78: Brinquedos de ferro A "arte transgressora"

JOGO DE RECORDAÇÃO 5: FLAMENGO X OLIMPIA

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A foto não está lá grande coisa, parece Zico arrematando contra o gol do Olimpia, na partida de 1981,  disputada no Maracanã. Foto retirada do  site Trivela , provavelmente uma reprodução de algum jornal Para ser bem sincero, não traz lá grandes recordações, mas como o Flamengo voltará a enfrentar o Olimpia, do Paraguai, nesta quinta-feira, pelas oitavas de final da Taça Libertadores da América, não pude deixar de me lembrar do jogo entre as duas equipes a que assisti no velho Maracanã , em 1981. Daquela vez, a partida foi válida pela primeira fase da competição e apenas um time se classificava para a fase seguinte. Além de Olimpia, estavam também no grupo Cerro Porteño, também do Paraguai, e Atlético-MG, que foi desclassificado pelo time rubro-negro naquele mal afamado jogo extra em Goiânia, mas este é assunto para outra ocasião. Veja também: Jogo de recordação 1 e 2: Flamengo x América-RJ Jogo de recordação 3: Flamengo x Bangu O Olimpia sempre foi um adversário muito difícil...

NAU POESIA: A DANÇA DA CHUVA *

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A chuva dança lentamente e encharca o quintal, a terra, as telhas, as árvores As folhas arqueiam sob o peso de gotas que se aglomeram – para cair – em outras folhas, as mãos em concha abarcando com sorrisos aquela água abençoada dos céus que sempre lhes escapa Os galhos são prolongamentos do dorso nu e suado deste frondoso vegetal, são braços estendidos pousados no ar tentando tocar em algo inatingível, incompreensível como se encontrassem extenuados de um esforço aparentemente inútil. Percorrem-lhes pingos de suor de chuva que despencam pouco a pouco tal qual loucos suicidas lançando-se na incerteza da queda, perdidos num vão aberto no espaço que tanto pode ser uma pequena fenda quanto um imenso rasgo no infinito Porém, na certeza de que jamais retornarão à plataforma de onde saltaram pois serão sugados pela terra enquanto outros tomarão seus lugares... Veja também: Nada Mais Oferenda (ou Canção de um Ser Dilacerado) Esta poesia, publicada originalmen...

"COMENDO A BOLA" DEBATE VIOLÊNCIA E MORTE NO FUTEBOL

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Pela segunda vez convidado para participar do programa " Comendo a Bola " senti-me convocado e não hesitei em aceitar. Até porque o tema proposto era bastante sério, infelizmente ainda atual e importantíssimo: violência e morte no futebol. Nelson Rodrigues certa vez disse ou escreveu, não me recordo agora, que o primeiro homem na face da Terra ao avistar seu semelhante pela primeira vez logo o reconheceu como seu inimigo. E a História da Humanidade não desmente o gênio: vivemos às turras, desde sempre. Da esquerda para a direita: Mauricio Capellari, Carlos Falkoski, Rodrigo Titericz e eu durante a gravação do "Comendo a Bola" sobre "Violência e Morte no Futebol". Foto: Anderson Duarte  Das rusguinhas às sérias ofensas, hoje repletas nas redes sociais, indo às vias de fato das formas mais cruéis e violentas - as guerras estão aí para não nos deixar mentir - o ser humano não consegue minimamente se respeitar, respeitar diferenças, debater, divergir, sem agr...

NAU POESIA: NOITE CLARA DA ALMA *

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"Conhece a ti mesmo" Estive à beira da vida ao largo, à margem desejando pertencer, penetrar seduzindo a dona da festa pra ser convidado, mas sempre batia com a cara na porta, barrado E segui ao largo, à margem na noite escura da alma Pela estrada que a lua cheia me apontava e eu não enxergava via e não via na via da vida seguia e seguia, pelo acostamento Agora cá estou na via da vida iluminada, via da alma clara vida, clara alma alumiada alma sem pressa de ir ou chegar com calma, na estrada seguindo pela noite clara da alma. Capa do ebook "Sutilezas" Embora seja atribuída ao filósofo Sócrates, a frase "Conhece-te a ti mesmo" é a inscrição na entrada do Oráculo de Delfos. A ilustração é da carta 9 do Tarô, O Eremita. Gostou? "Noite clara da alma" e outras poesias mais estão no ebook "Sutilezas", que você pode adquirir na Amazon do Brasil e de mais 13 países. *  Esta poesia foi publicada neste blog originalmente em 21 de outubro de 2013...

LIVRO PRA VIAGEM: A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER

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Meu livro desgastado pelo tempo Chegou a hora de reler, foi o pensamento abrupto que me veio outro dia de manhã, enquanto lavava a louça. A notícia da morte de   Milan Kundera , divulgada esta semana por veículos de comunicação de boa parte do mundo, até me pegou de surpresa, pois não ouvia falar do escritor tcheco há muitos anos, há décadas. Como fora há muitos anos, décadas, que assisti ao filme no cinema e um bom tempo depois comprei o livro numa banca de jornais do Rio de Janeiro e o li, com prazer. Deve ser desde esta época que nada sabia sobre o autor. Veja também: A grandiosidade de Victor Hugo Nise da Silveira: o afeto e a arte como poder Diz o obituário de Kundera que o escritor não gostava da adaptação de seu livro de maior sucesso para o cinema: achou simplista demais. Porém, aquela história do neurocirurgião Tomás e seus questionamentos e muitos conflitos sobre o amor, o casamento e o sexo que se passa durante a Primavera de Praga, rapidamente encerrada com a invasão da...

"COMENDO A BOLA" PELAS BEIRADAS

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  Da esq. pra direita: Mauricio Capellari, Carlos Falkoski, Rodrigo Titericz e eu. Foto: Anderson Duarte A convite de Mauricio Capellari, participei no último dia 4 da gravação do programa "Comendo a Bola", apresentado por ele e que conta também com Carlos Falkoski, o Professor, e Rodrigo Titericz, o Presidente. O debate foi sobre a unificação dos títulos nacionais de futebol e o episódio 39 já está disponível a quem quiser assistir e participar do sorteio de um exemplar autografado do livro " Contos da Bola ".  Veja também: "Contos da bola": quem lê recomenda "Contos da bola" abrindo portas pelo mundo Este  tema eu já havia abordado aqui neste blog , ainda no início de 2010, quando havia já uma movimentação dos clubes pelo reconhecimento das conquistas da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, como Campeonato Brasileiro, mas a CBF ainda não tinha decidido o que fazer. Clique aqui e leia o que escrevi em 2010, com recente atualização do ...

LEIS DO RELATIVISMO

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E cá estamos nós mudando pouco para nada mudar. No fim e no fundo de tudo dessa diária e insana guerrilha político-social, oportunistas e fanatizados de direita relativizam as tiranias mais sangrentas de direita, e oportunistas e fanatizados de esquerda relativizam as tiranias mais sangrentas de esquerda. Todos, repletos de emoções, a querer deter a razão, porque ela só pertence a eles, os do lado de lá estão no reflexo do espelho, embora ninguém perceba ou vire a cara para não ver. Eis as leis do relativismo. Olhar-se, perceber-se, sentir-se, questionar-se? Jamais, em tempo algum. Sartre já dizia, virou até clichê, muito mais por ser tão pouco ou mal praticado: "O inferno são os outros". Veja também:  É complexo ser vira-lata Encantamento, fanatismo, cegueira E seguimos rastejando como sociedade, moribunda, malfazeja e andrajosa, com a gritaria na ordem do dia, da tarde, da noite e da madrugada, quando o quase silêncio permite que se propaguem com mais facilidade as suas mi...

A BANALIZAÇÃO DO APLAUSO *

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A maior vitória conquistada pelos homens que amam o poder e dão a vida para mantê-lo é sem dúvida a imbecilização de seus subalternos. Investindo na falta de informação onde ela dificilmente chega e no treinamento por repetição, chamada pomposamente de educação democrática, nas áreas urbanas, onde a informação chega de qualquer forma - mesmo ao mais alienado dos seres -, os poderosos continuam vislumbrando um horizonte infinito à sua frente por vias democráticas.  Críticas ao baixíssimo nível da televisão são freqüentes nos jornais desde sempre, por exemplo. Para se ter uma idéia, Nelson Rodrigues, em uma crônica nos fins dos anos 60 (portanto há mais de 30 anos) já perguntava como se poderia ter uma televisão de alto nível se o público telespectador era de baixo nível intelectual. Mudou algo de lá para cá? Li certa vez uma entrevista do diretor de teatro Antunes Filho afirmando ser muito difícil fazer peças de boa qualidade no Brasil porque o público de teatro havia piorado mui...