segunda-feira, 28 de setembro de 2009

MAIS UMA SOBRE EDUCAÇÃO

Escreveu Nelson Rodrigues em um artigo publicado no fim da década de 60 – isto mesmo, década de 60! - que não havia como se exigir uma televisão com mais qualidade na sua programação se o público não tivesse a mesma qualidade. Transportando isso para o nosso dia-a-dia percebe-se claramente que não há como se exigir melhores governantes se a ignorância, a estupidez, o desrespeito ao outro e a violência continuarem a ser as aulas diárias das crianças das classes A a Z deste país. Diz Oscar Niemeyer: “O Brasil emburreceu”. Há como discordar?

Por dois momentos distintos na semana passada a televisão acabou sendo, coincidentemente ou não, a responsável por me impelir a escrever este texto com argumentos que uso há muitos anos, mas como continuam atuais, cada vez mais, vou continuar usando-os à exaustão. Alguém há de se juntar a mim. O primeiro, não tanto pelo circo dos horrores que foi a morte transmitida ao vivo daquele bandido que tomou de refém uma senhora, ameaçando-a com uma granada, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Desta vez, ao contrário do episódio do ônibus 174, a polícia acabou agindo da melhor forma. 

O que me espanta é o encantamento das pessoas com esse tipo de ação. Ouvi coisas como “que maravilha” ou “a polícia vai limpar o Rio dessa bandidagem em dois anos”. Ou seja, é a reação do público que me indigna, como escrevi tempos atrás sobre a febre do filme “Tropa de Elite”. Como acabar com a bandidagem se a única educação que milhares e milhares de crianças e jovens recebem diuturnamente é nas salas de aula a céu aberto por “professores” que em vez de giz (sim, sou daquele tempo) usam armas de fogo poderosíssimas e em vez do quadro negro utilizam alvos vivos? 

Dias depois veio o segundo momento televisivo que me empurrou de vez para cá, pois hipocrisia e desfaçatez têm limite. Assistia eu bem impressionado a uma propaganda muito bem feita com pessoas de vários países do mundo dizendo que o grande responsável pelo desenvolvimento de suas nações era o professor, quando no fim sou informado que aquele anúncio pertencia ao Ministério da Educação do Brasil (algo como o Ministério da Guerra na Suíça ou da Marinha no Paraguai). Revoltante! Desde quando este país tem um projeto sério de educação e valoriza seus professores? 

Enquanto a discussão fica desviada para a discriminatória e revanchista questão das cotas raciais, o governo vai se divertindo às nossas custas. Os militares destroçaram a educação deste país, copiando mal e porcamente o sistema de ensino dos Estados Unidos, e os civis que portaram em seu peito a faixa presidencial posteriormente conseguiram piorá-lo. E chegamos a um presidente que se gaba de ter chegado lá sem precisar estudar. 

Semana passada também li um artigo de Zuenir Ventura, no jornal O Globo, lamentando a falta que Darcy Ribeiro faz. E como! Defensor das aulas em tempo integral com alimentação decente, solução para desviar os meninos e meninas das tais aulas a céu aberto que falei acima, os Cieps viraram piada no país da sacanagem. E o povo escolheu um sujeito que sequer merece ter seu nome citado para governador do Rio, em 1986. 

Se tivéssemos iniciado naquela época o processo educacional, com as devidas correções de rota necessárias a qualquer projeto sério, hoje estaríamos começando a colher os bons frutos. Mas como disse, o povo escolheu o tal sujeito, apoiado que era por empresários e jornalistas poderosos, os mesmos que hoje se perguntam o que está acontecendo. 

Quase um século antes de Nelson Rodrigues, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que faleceu em 1900, escrevia o seguinte pensamento: “Mais um século de jornais e as palavras se deturparão”. Ele não viveu como Matusalém, nem era um highlander para conhecer a TV. Tivesse conhecido, já há alguns anos poderia dizer: “Mais 15 minutos de TV e as pessoas se deturparão”. 

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