segunda-feira, 6 de julho de 2009

O PAPA DO ATEÍSMO

Li recentemente no jornal “O Globo” uma entrevista do biólogo Richard Dawkins, defensor ferrenho e propagador do ateísmo. Antes já soubera que ele fora um grande sucesso na mais recente Flip - Feira Literária de Paraty (RJ). Para quem é ateu e já escreveu um artigo, publicado na seção de cartas da revista “Caros Amigos” poucos dias depois do trágico 11 de setembro de 2001 sob o título “Esqueçam Deus”, sinto-me inteiramente à vontade para criticar Dawkins por vários aspectos de seus pensamentos e ideais.
Primeiramente, a presunção preconceituosa de que ateus são mais inteligentes do que religiosos. É tão estúpida a afirmação que nem vou me alongar muito sobre ela. Desconsiderar a inteligência daqueles que buscam entender a vida por outras vias - não falo dos comerciantes da fé, muito menos dos senhores das guerras santas, que fique bem claro – digamos menos concretas, visíveis, daqueles que estudam o obscuro, o misterioso, e ainda chamar a Bíblia de “livro horrível”, é de uma sandice atroz. Você pode se opor aos dogmas religiosos e ao criacionismo, aqueles que instituem como verdade única a sua crença. Mas o que faz Dawkins? O pensamento deste biólogo esconde sob um véu transparente que nada oculta exatamente um dogma que pode ser considerado uma nova religião. Muito bem perguntado sobre isso, se não estava fundando uma pseudo-religião com sua insistente propagação do ateísmo, ele fugiu da pergunta dizendo: “Nós não precisamos de uma religião”.
Dawkins é também defensor voraz da razão, parece desprezar qualquer ação movida com emoção e desconsiderar a existência de motivações sem razões aparentes ou acasos, coincidências, destino ou poesia (cada um que chame como quiser). Tudo, para ele, é preciso explicar à luz da razão. Como creio na dualidade, na extrema sabedoria do I Ching (yin e yang), não concebo separação entre razão e emoção. É monolítico o pensar apenas sem o sentir, como seria sentir sem pensar. Creio no desequilíbrio dentro do equilíbrio e vice-versa. Como bem disse Raduan Nassar por intermédio de um personagem de “Lavoura Arcaica”: “em toda ordem há uma semente de desordem”.
O biólogo se mostra obcecado pela verdade, diz que apenas quer descobrir a verdade, mas não consegue se dar conta que não existe a verdade. Dawkins pode entender muito sobre o evolucionismo, sobre o ser humano como corpo, mas quando despreza as religiões, a necessidade da idéia de Deus, que a fé numa força superior salvou muitos de sucumbirem (desde que o Homem é Homem) e que isso não quer dizer necessariamente que represente ignorância, mas pelo contrário, pode ser uma forma bastante inteligente de se salvar, e que sem ela a sociedade seria ainda mais caótica do que é, não tem a menor noção dos desejos e das necessidades humanas.
Um cientista que quer ver o mundo apenas à luz da razão, que desconsidera as sombras que toda luz inevitavelmente produz, está se cegando com ela, está pronunciando meia verdade. E meia verdade é mentira inteira.
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5 comentários:

  1. Excelentes colocações, Edu. Não tenho o que comentar sobre essas considerações preconceituosas, como você colocou muito bem, do "Papa do Ateísmo", finalizo deixando aqui as palavras de Carl Gustav Jung: "Eu não acredito em Deus, eu O conheço.". É isso.
    Beijos!

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  2. diariosdeafrodites.blogspot.comsábado, julho 18, 2009

    Parabéns Eduardo, pelo blog, que acabo de conhecer através da Denise, que é minha madrinha espiritual, e também pelo belo comentário sobre Dawkings. Na FLIP ele foi uma das sensações das mesas de debates, mas nas ruas, a opinião das pessoas era bem diferente. A maioria acredita na união da ciência e da religião. Essa também é a minha.
    Beijos
    Paula

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  3. Dizer sobre Dawkins: “...além de seguidor de Darwin...” é, no mínimo, óbvio. Não existem biólogos lamarckistas (a teoria de Lamarck não funciona na natureza real). Muito menos criacionistas. Um biólogo criacionista nem conseguiria estudar Biologia.
    Abraços.

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  4. Fábio C. Lopes P.domingo, março 07, 2010

    Não sou ateu - me intitulo agnóstico -, mas devo admitir que eles são mais inteligentes. O ateísmo não leva à inteligência. Na verdade, o inverso é o que ocorre. Pessoas com maior capacidade intelectual têm uma tendência maior a raciocinar e, consequentemente, questionar, sobre a vida. E a existência de Deus é uma questão interessante. Raciocinando acerca, é óbvio que muitos - não todos - chegarão a tais conclusões (da inexistência de Deus). Uma pessoa sem cultura, que nunca tenha estudado, que mantenha as crenças de seus antepassados, certamente não abrirá mão para novas ideias. Terá a existência de Deus como real e indiscutível. Logo, existe a impossibilidade de um "desaculturado" se tornar ateu por espontânea vontade. Além disso, apesar de eu não me basear tanto em pesquisas, elas revelam que ateístas possuem maior QI que teístas. Basta quererem aceitar a realidade. Não é questão de preconceito, mas de lógica.

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