Ilustração de Odyr Bernardi |
Quando o ovo da serpente
se rompeu
- e já faz muito
tempo -
os ratos primeiro
hesitaram,
mas logo ficaram
seguros
de que não eram
poucos
e entenderam que
podiam deixar
os seus bueiros
imundos
para espalhar a
peste
por todas as ruas
de todas as cidades
em todo o país
A cadela no cio
uivou
insaciavelmente
e atraiu com seu
perfume embriagador
e nauseante
cérberos com
presas arreganhadas,
gengivas escuras
sangrentas
e uma baba venenosa
inclemente e
elástica
a pender quase ao
chão,
onde cascos e
ferraduras
marchavam ritmados
numa nova versão
de uma antiga
e
desgastada história
que nos livros
tiveram suas páginas
rasgadas
por quem não
se interessa
ou sabe
ler
Os porcos
cheios
de fantasias de
poder
excitados por um
novo
velho momento
que se repete como
farsa
desmentem-se cínica
e hipocritamente,
mas
quase todos sabem
com
quem estão falando
com o que estão
lidando
Pastores adestram
subservientes
ovelhas e cordeiros
a levarem os lobos
famintos
para revistarem
o galinheiro
onde os galos de
briga
já foram subornados
A cadela no cio
novamente uivou
e os vira-latas
imprestáveis
cada vez mais
excitados
e incitados
já não se contentam
mais
com as sobras,
juram vingança
e tocam fogo na mata
para a boiada passar
matando outros
tantos animais,
Tanto faz!
Ninguém vai mover
uma palha sequer
pra salvá-los,
muito menos
salvá-la.
Nenhum comentário:
Postar um comentário