João Bosco e Aldir Blanc, infelizmente falecido em maio, no início da pandemia aqui no Brasil, formam uma dupla de craques da nossa música, daquelas que em campo a gente via tabelando do meio do campo até o gol adversário. Não por acaso, muitas das composições deles o futebol aparece e por isso será papo para a coluna Jogada de Música em breve. Bosco sendo flamenguista poderia ser o Zico, e o Blanc, que era vascaíno, Roberto Dinamite, dupla de ídolos que aliás juntos nunca saíram de campo derrotados com a camisa da seleção brasileira (foram 26 jogos, 20 vitórias e seis empates, com 19 gols do rubro-negro e 18 do vascaíno, entre 1976 e 82).
Mas o papo aqui é música e escolher uma da gigantesca (em número e qualidade) parceria de João com Aldir para esta série era uma tarefa das mais difíceis. Até que, lavando a louça dia desses, comecei a cantarolar os primeiros versos desta crônica poética genial de Aldir que acabou se tornando bordão do grande locutor Januário de Oliveira, justamente aquele que abre a obra: "Tá lá um corpo estendido no chão". E ao mesmo tempo me veio à cabeça o quanto de rodrigueana há nesta letra. Não tive mais dúvida.
Foi a imagem de "Em vez de rosto, a foto de um gol" que me levou de cara para o universo de Nelson Rodrigues, em especial "O beijo no asfalto". E Aldir e Nelson sabiam ambos contar como poucos as histórias dos subúrbios cariocas, cada um ao seu estilo. E voltando aos versos desta música, também me recordei do que disse a professora Marília Barboza numa comparação entre o Rio de Janeiro e a Bahia num curso que fiz em 1999, no teatro da UFF, e jamais me esqueci: "Enquanto no Rio, o sagrado é tornado profano; na Bahia, o profano é transformado em sagrado".
Portanto, nada mais carioca do que estar "De frente pro crime".
Bela performance de um "clássico"!
ResponderExcluirE essa de "enquanto no Rio, o sagrado é tornado profano; na Bahia, o profano é transformado em sagrado" é muito boa. Nunca ouvi isso, mas gostei!
A propósito, sem qualquer preconceito, que rumos tomou a MPB nos últimos 30 anos?
Um abraço!!
Muito obrigado, meu amigo. Esta fala da professora me marcou tanto que não a esqueci já passam 20 anos. Sobre os rumos da MPB, como lhe falei pelo Whatsapp é um papo longo, já iniciado por lá, com a menção ao ótimo livro do Andre Midani, Do vinil ao download, que virou filme, acabei de ser tecordado pelo Google. Ainda não vi, nem sei onde se encontra, mas me interessa muito. Abração, volte sempre.
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