quinta-feira, 17 de junho de 2021

NAU POESIA: TARDES DE OUTONO

Nessas tardes
sob e sobre a
Baía de Guanabara,
o céu é uma
ferida aberta,
que sangra, sangra...

Ontem, um hematoma esverdeado
revelava o ferimento celeste,
e a beleza exposta
em nuvens fraturadas
escorria em reflexos
nas águas da Guanabara.

Hoje, o céu sangra novamente
no crepúsculo outonal,
sangue fluorescente
retido por negras nuvens
neste estranho céu,
ferido por intenso vento,
expondo o sangue pisado
deixado pelo sol
em seu último vestígio
deste dia, desta estação.

* Imagem de quadro que dizem ser de Salvador Dalí (preciso confirmar isso)

** Esta postagem havia sido originalmente publicada neste blog no dia 24 de março de 2008.

Esta poesia faz parte do livro "Profano Coração", que está à venda na Amazon do Brasil e de diversos outros países.

Veja também:
Oferenda (ou Canção de um Ser Dilacerado)
Há 40 Anos, o Fim da Voz Rascante de Janis

7 comentários:

  1. Edu, infelizmente não posso tecer um comentário politico, mas com certeza os que os nossos governantes, municipal e estadual, fazem ao nosso povo sobre a saude pública, sua poesia é um triste retrato do sentimento de um povo abandonado a própria sorte.
    Um forte abraço. Fernando Cardelli.

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  2. Eduardo,
    Acima de qualquer comentário ou análise sobre o conteúdo, o que me passa é um sentimento de paixão no que idz respeito a sua crônica poetica (com a sua licença, é claro!).
    Aliás você e o Claudio Munhóz deveriam publicar seus materiais poeticos.
    Um grande abraço e parabéns pelo seu blog.

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  3. Uma bela e triste reflexão sobre acontecimentos que nunca deveriam ter acontecido, a exceção deste belo poema que, mesmo se não houvesse tanto derramamento de nossos suores vermelhos, seria, ainda assim, um belo poema. Parabéns!

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  4. Muito obrigado a todos! Curiosa a leitura política da poesia que tiveram Fernando Cardelli, amigo de longa data, e Carlinho, amigo recente que também muito me honra com sua presença aqui. Confesso que não foi com essa intenção que a escrevi. Na verdade tinha duas anotações pra duas poesias diferentes, mas vi que elas se relacionavam e fiz uma só numa tarde de outono linda vista da casa em que morei (de 1993 a 2006), em Rio do Ouro. No crepúsculo o céu se tornou vermelho, com poucas nuvens levemente esverdeadas. Isso é muito bacana, quando algo que a gente escreve ganha novas dimensões, possibilidades. Sou o autor, mas o leitor se apropria da poesia quando a lê. é de leitores assim que um escritor precisa. Forte abraço a todos!

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