![]() |
O dragão da inflação brasileira, por Julos/Getty Images |
Nos últimos meses, ir ao supermercado se tornou um programa repleto de novidades. Ruins. Muito ruins. Ou você encontra os preços de vários alimentos novamente reajustados, ou os produtos tiveram peso, tamanho ou quantidade reduzidos para se ajustar ao preço, numa canalhice mais antiga de parte do nosso empresariado do que muitos deles imaginam. Preste atenção quando voltar ao supermercado. E nem falei na troca de ingredientes para baratear o custo, mesmo a custo de prejudicar a qualidade dos produtos e a nossa saúde. É a chamada inflação invisível.
Veja também:
O medo da inflação, que vem desde o desgoverno passado e encontra eco no atual (por enquanto, com o som bem alto), é algo que certamente acomete os que viveram os duríssimos dias dos anos 80, a chamada Década Perdida. Em 1989, a inflação anual chegou a estratosféricos 1.972,92%. E eu estava lá, naquele turbulento Planeta Século XX, já com meus 20 e poucos anos, sabendo pouco, mas já trabalhando, inclusive em supermercados, com maquininha na mão, trocando todos os dias os preços dos produtos que representava como promotor de vendas. Foram só 2 meses, mas que valeram por 20 e poucos anos de aborrecimentos e aprendizado.
Naquela época, a tática de reduzir peso, tamanho ou quantidade dos produtos foi a saída "jenial" de certos empresários para combater a inflação galopante, como se dizia naqueles tempos. Lembro muito bem que, só no que se refere a supérfluos, as barras de chocolates ficaram translúcidas; os vinis dos LPs, quase isso, e os álbuns eram vendidos com capas de papel dos mais vagabundos.
Veja também:
Por outro lado, com o fracasso do Plano Cruzado e a disparada dos preços de leite e carne, em 1986 o então presidente da época passou a culpar os pecuaristas de estarem escondendo os bois no pasto. Muitas décadas depois, vimos um presidente também delegar culpas pelas suas incompetências e a alta dos preços a insubordinados, e outro, em seguida, a aconselhar o povo a não comprar produtos caros, mesmo que - isso ele não disse, mas deixou tanto implícito quanto explícito - sejam essenciais.
![]() |
Promotor de vendas remarca preços do inseticida SBP em um supermercado do Rio de Janeiro, em 1993. Foto: Antônio Moura/Ag.O Globo |
É bom lembrarmos aqui - não tão bom assim dependendo de quem leia - que o partido do atual presidente, ele inclusive, combateu com todas as forças o plano que finalmente deu estabilidade a uma moeda no Brasil. Aliás, o anterior, quando deputado, também votou contra a medida provisória que deu origem ao Plano Real.
No entanto, apesar de ter enfrentado ao longo das últimas décadas crises econômicas, internas e externas, em alguns momentos com sucesso, em outros, muito pelo contrário, o país ainda consegue se manter num patamar de inflação bem longe daqueles dos anos 80 e início dos 90. Mas, volta e meia, as memórias amargas retornam ao imaginário popular. Mesmo a quem não viveu aqueles tempos de outrora, mas sabe que o mundo não começou no estonteantemente veloz Planeta Século XXI.
Veja também:
E aí, está gostando mais dos conteúdos do blog ou dos preços dos alimentos no supermercado? Essa pergunta é muito fácil de responder, concorda?
Brincadeiras à parte, agradeço muito pela sua visita, volte sempre.
Clique na imagem acima para receber
mais sugestões de leitura.
Quem lê recomenda!
Nessa resposta, vou tirar nota 10! Muito melhor e mais nutritivo são os conteúdos do seu blog. Degustei, com dificuldade de encarar esse nosso momento geopolítico, esse artigo com a linha do tempo. Nossa memória tem o hábito de apagar ou dissimular a história. Vale sempre a recordação alinhavada. Mais um, mais um....
ResponderExcluirDez, nota dez!!! Merecida nota, minha amiga.rsrs Vem mais por aí, podes crer. Muito obrigado mais uma vez e sempre. Bjs. Volte sempre.
ExcluirConfesso a você que, tantos anos depois, não consigo imaginar como vivíamos com a inflação naquele patamar estratosférico.
ResponderExcluirQuanto à redução da quantidade/tamanho dos produtos, como no papel higiênico e no creme dental, isso já virou uma prática comum.
Eu também não sei como conseguimos, mas conseguimos sobreviver, meu amigo. Agradeço muito, mais uma vez a sua visita, o comentário e o apoio de sempre. Volte sempre. Forte abraço.
ExcluirOs "jênios" prosseguem e são eleitos "jenialmente" eleitos! Viajei no tempo e não foi bom. Mesmo com preços justos para o consumidor, seu blog sempre será melhor, lindo.
ResponderExcluirMuito obrigado, meu amor! Realmente, as lembranças não são nada boas, por isso "memórias amargas" no título. Mas é bom relembrá-las pra não deixar que se esqueçam. Volte sempre, te amo. Beijo.
Excluir