Com a bola na rede, Gighia começa a comemorar o gol da vitória uruguaia contra o Brasil em 1950 |
Jorge Goulart: - Aquela Copa de 50 foi realmente uma grande festa antes da final. O Lamartine, que ali está (todos aplaudem), fez outra marcha que poderia ter sido o hino do primeiro título mundial do Brasil, se não perdêssemos pro Uruguai. Vou cantar aqui a "Marcha do Scratch Brasileiro" que homenageia também o estádio Municipal, como era chamado a princípio o Maracanã.
Jorge Goulart é aplaudido, assim como Lamartine Babo, que
numa das mesas próximas ao palco se levanta para cumprimentar o público.
Jorge Goulart: - Viva Lalá!
Todos: - Viva!
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Jorge Goulart continua no palco, enquanto o público o aplaudia e também Lamartine Babo.
Jorge Goulart - Agora vou chamar ao
palco a Linda Batista pra cantar outra música feita pra Copa de 50.
Linda se encaminha pro palco aplaudidíssima.
Linda Batista (no palco) – Obrigada, gente. Uma pena não termos ganhado daquela vez,
né? Mas tive a felicidade de gravar este samba do Ary Barroso, que ali está e também
merece muito os nossos aplausos.
Todos aplaudem Ary Barroso.
Linda Batista: - Vamos lá!
Mais aplausos.
Sobrenatural de
Almeida: - É, a
festa foi boa, mas a euforia foi demais também. O clima de já-ganhou não me
agradou.
Ceguinho Torcedor: - Então, foi você?
Sobrenatural de
Almeida: - Não, foi
o Obdulio Varela, o Gighia, o time uruguaio. Eu só dei um empurrãozinho, sem
querer. Aquele discurso do general Angelo Mendes de Morais, pouco antes de a
bola rolar, me deixou revoltado.
Idiota da Objetividade: - O general Angelo Mendes de Morais era o prefeito do
Distrito Federal, ou seja, o Rio de Janeiro, então capital do Brasil.
Ceguinho Torcedor: - Com uma euforia desmedida, o general disse pouco antes do
jogo que os brasileiros eram os futuros campeões mundiais...
Vaias e protestos da plateia são ouvidos.
Sobrenatural de Almeida: - Futuros mesmo, só oito anos depois...
João Sem Medo: - Nesse discurso ele também disse que tinha dado o estádio
para a realização da Copa do Mundo, então que era a vez de os jogadores darem o
título mundial para o Brasil. O general pressionou ainda mais os jogadores
brasileiros, ao mesmo tempo em que já cantava a vitória.
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Ceguinho Torcedor: - Amigos, em 50, na véspera de Brasil x Uruguai,
encontrei-me com o famoso “speaker” Gagliano Netto e perguntei: “Quem ganha?”
Eis uma resposta triunfal: “Brasil 8 a 0” Vocês entendem? Ele não fazia por
menos – tinha de ser 8 a 0. Pode parecer que era um caso de delirante otimismo
individual. Absolutamente, milhões de pessoas achavam assim. E o Brasil perdeu!
Dirá o Idiota da Objetividade que foi o Uruguai que nos venceu...
Idiota da Objetividade: - ... E não foi?
Ceguinho Torcedor: - Não. O que nos venceu foi o favoritismo total. Contra a
Espanha, temíamos. E porque havia medo, um mínimo de medo, goleamos. Seis a um,
foi o resultado final. Veio de Brasil x Uruguai o meu horror ao favoritismo.
Sobrenatural de Almeida: - Foi muita falta de respeito com os uruguaios. Aí, quando
o Gighia penetrou pela direita e chutou, acabei fazendo a bola ir um pouco mais
rápido e quicar na frente do Barbosa.
João Sem Medo: - Quando os políticos se metem no
futebol acontece isso...
Garçom: – E o Sobrenatural...
Sobrenatural de
Almeida: - ... de
Almeida. Hahaha
Ceguinho Torcedor: - Você bem sabe o quanto a política
prejudica o futebol, né, João? Não escalou o Dario, como queria o Médici...
João Sem Medo: - Dario era um bom jogador, mas eu
tinha Tostão, Jairzinho, Roberto Miranda, Coutinho, Toninho Guerreiro. Se eu
quisesse trombador, aí eu poderia buscar o Dario, ou o Flávio, do Corinthians,
o Alcindo, do Grêmio. O presidente escalava o Ministério dele e eu escalava o
meu time.
Ceguinho Torcedor: - Esta frase te derrubou, João.
João Sem Medo: - É, estavam transmitindo pro Brasil todo a entrevista... Mas voltando
a 50, o que fizeram com o Barbosa foi uma grande injustiça. Teve racismo ali.
Ceguinho Torcedor: - Foi um dia muito triste pro futebol brasileiro.
Muito triste.
Idiota da Objetividade: - Foi uma tragédia aquela
derrota de 2 a 1 para o Uruguai. Os uruguaios chamam aquela vitória em 1950 de
Maracanazzo até hoje.
João Sem Medo: - E a imprensa daqui
exagera. Chamaram a derrota de 3 a 2 para a Itália em 82 de Tragédia do Sarriá.
Garçom: - Mal sabíamos o que
estava por vir...
Sobrenatural de Almeida: - O Mineiraço, em 2014.
João Sem Medo: - Isso sim foi uma
tragédia. Levar de 7 a 1 em casa, numa semifinal de Copa do Mundo, é o fim do
mundo. Mas parece que tudo foi só um apagão.
Fim do Capítulo #16
Esta série é uma homenagem especial a João Saldanha e Nelson Rodrigues e também a Mario Filho e muitos dos artistas da música, da literatura, do futebol e de outras áreas da Cultura do nosso tão maltratado país.
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